Rússia e Bielorrússia admitem dialogar com Europa

Mikhail Klimentyev / Sputnik / Pool / EPA

Alexander Lukashenko e Vladimir Putin, Presidentes da Bielorrússia e da Rússia

O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, recebeu na segunda-feira em Minsk o seu homólogo russo Vladimir Putin e avançou que estão dispostos a dialogar com a Europa, apelando a esta para “escutar a voz da razão”.

“Vladimir [Putin] e eu decidimos naturalmente que a Rússia e a Bielorrússia estão abertas ao diálogo com outros Estados, incluindo os europeus. Espero que escutem rapidamente a voz da razão e possamos dialogar de forma construtiva, quer na segurança comum, quer na futura ordem mundial”, afirmou Lukashenko após o encontro com Putin, indicou a agência noticiosa oficial bielorrussa Belta.

Lukashenko sublinhou que “defender a democracia e o progresso através da utilização de restrições e da força militar já nem impressiona os seus próprios eleitores que conhecem agora todas as consequências e deficiências desse comportamento”.

“O fortalecimento das relações entre a Bielorrússia e a Rússia é uma resposta à situação mundial em mutação, na qual nos colocam constantemente à prova e nos medem pela nossa força”, considerou.

“Julgo que apesar de ainda existirem alguns artistas, continuaremos a garantir respostas eficazes aos desafios e ameaças” existentes, prosseguiu.

Lukashenko destacou a “correta” decisão de impulsionar a integração dos dois países no Estado da União, numa “demonstração a todo o mundo que apenas junto é possível superar as pandemias, as crises ou as sanções”.

“Este complicado momento torna necessário demonstrar vontade política e compromisso para garantir resultados em todos os âmbitos da agenda bilateral (…). Não podemos de qualquer modo repetir os erros registados após o colapso da União Soviética”, frisou.

Nesse sentido, reconheceu que foram “esgotadas as opções de negociação” bilateral em níveis inferiores. “Os governos creem que é possível um acordo em questões individuais sem ti, Vladimir [Putin], e sem mim. Esse é o motivo da nossa reunião de hoje. Trataremos estes temas de novo e detalhadamente e tomaremos as decisões políticas necessárias”, observou.

As conversações entre os dois líderes iniciaram-se com uma reunião na qual participaram os ministros e outros dirigentes dos dois países.

A agência Belta destacou que Putin e Lukashenko se sentaram desta vez lado a lado e não nos lados opostos da mesa, considerando este gesto de “especial simbolismo” porque “enfatiza a natureza amistosa e aliada das relações bielorrussas-russas”.

Por sua vez, Putin confirmou o compromisso russo para colaborar com Minsk no âmbito nuclear e destacou o crescente comércio bilateral e que poderá envolver em breve 40 mil milhões de dólares (37,7 mil milhões de euros) contra 38,5 mil milhões de dólares em 2021.

“A Bielorrússia não é apenas um bom vizinho com quem colaboramos tendo em consideração os interesses mútuos, mas é ainda nosso aliado no sentido mais autêntico da palavra”, apontou Putin.

Entre as principais áreas da relação bilateral, citou a segurança e a cooperação a nível internacional. “Em geral, estamos satisfeitos com as nossas relações”, reafirmou o líder russo.

Kiev: Moscovo pode anunciar mobilização geral

O secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, assegurou hoje que a Rússia poderia anunciar uma mobilização geral e não excluiu a possibilidade de um novo avanço militar sobre Kiev.

“Podem fortalecer as suas posições. Entendemos que isso pode acontecer. Em simultâneo, não excluímos a hipótese de que declarem uma mobilização geral”, afirmou Danilov em entrevista ao jornal digital Ukrainska Pravda.

Danilov considerou que essa mobilização também seria convocada “para exterminar o maior número possível” de cidadãos russos, para que “deixem de ter qualquer problema no seu território”.

Nesse sentido, Danilov também recordou que a Rússia não renunciou em garantir o controlo de Kiev nem à ideia de “destruir” totalmente a Ucrânia. “Devemos estar preparados para qualquer coisa”, disse.

“Quero que todos entendamos que [os russos] não renunciaram à ideia de destruir a nossa nação. Se não tiverem Kiev nas mãos, não terão nada nas mãos, temos de entender isso”, prosseguiu Danilov, que também não excluiu que a nova ofensiva russa seja proveniente “da Bielorrússia e de outros territórios”.

Desta forma, Danilov elogiou a decisão de muitos dos seus habitantes, que decidiram permanecer na capital ucraniana quando se iniciou a guerra, para proteger a cidade.

“Esperavam que houvesse pânico, que as pessoas fugissem, que não existisse nada para defender Kiev”, disse, numa referência ao Presidente Volodymyr Zelenskyy.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou pelo menos 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões de refugiados para países europeus, pelo que as Nações Unidas classificam esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.755 civis mortos e 10.607 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

Lusa //

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