O Governo do Ruanda – um dos países mais pobres do mundo – vai pagar mais de 34 milhões de euros para estampar publicidade nas camisolas do Arsenal. O negócio já provocou vários reações internacionais e pedidos para suspender a ajuda internacional ao país.
Durante os próximos três anos, o slogan “Visite Ruanda” vai ser estampado nas camisolas do clube inglês Arsenal FC. O país do leste da África vai pagar 34,5 milhões de euros ao clube inglês que joga na Premier League, sendo este patrocínio desembolsado, na sua grande maioria, pelo Ministério do Turismo ruandês.
Com esta aposta, o Governo de Ruanda acredita que pode gerar, em retorno turístico, cerca de 700 milhões de euros. Ainda como parte do acordo, os jogadores das equipas masculina e feminina do clube inglês deverão visitar o país africano.
Desde logo que o patrocínio ao clube inglês gerou controvérsia além das fronteiras do Ruanda. Paul Kagame, o atual Presidente do país africano, nunca escondeu a sua paixão pelos gunners, e a sua conhecida simpatia pelo Arsenal levanta questões sobre se o seu interesse pessoal influenciou a tomada de decisão.
Além disso, e depois de mais de duas décadas após uma Guerra Civil e um genocídio, o Ruanda continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Anualmente, milhões de euros em ajuda externa são enviados ao país africano.
Segundo o DW, o governo Ruandês insiste que nenhum dinheiro de ajuda externa foi utilizado para suportar o patrocínio.
Imprensa inglesa incrédula
O patrocínio gerou especial indignação no Reino Unido. “Camisola da vergonha”, escreveu no Daily Mail em manchete.
“Os contribuintes britânicos têm razões para estar chocados com o fato de um país altamente dependente do Reino Unido estar a canalizar milhões para uma fabulosamente rica equipa de futebol. É grotesco”, disse o deputado conservador Andrew Bridgen ao jornal.
Anualmente, o Reino Unido destina mais de 60 milhões de euros para projetos de desenvolvimento no Ruanda, de acordo com o Record.
Segundo dados das Nações Unidas, 60% da população do Ruanda vive com menos de 1,60 euros por dia. A pobreza atinge todo o país, alcançando, com especial enfoque, as crianças. A ajuda externa representa 17% do orçamento do país. Há uma década representava 80%.
Alemanha dividida
A polémica do patrocínio ao Arsenal chegou também ao debate político na Alemanha. Christoph Hoffmann, porta-voz para políticas de desenvolvimento do Partido Liberal (FDP), sugeriu que o governo alemão considerasse novamente as suas ajudas políticas a Ruanda após o episódio.
Segundo Hoffmann, o ministro para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, Gerd Müller, precisa de se “posicionar claramente contra”. O Ministério alemão ainda não comentou o assunto. A Alemanha deve direcionar, entre 2017 e 2020, 103 milhões de euros para o Ruanda, segundo dados do Ministério.
O porta-voz do FPD foi ainda mais longe e afirmou não estar convencido de que o patrocínio gere algum benefício para Ruanda, dizendo que se trata de uma estratégia publicitária “sem sentido”.
“Um negócio que claramente tem alguma relação com as preferências pessoais do presidente por um clube de futebol não é uma boa propaganda para a indústria estatal de turismo”, considerou.
Já Stephan Klingebiel, do Instituto Alemão de Desenvolvimento (DIE), perspetiva o negócio de forma diferente. “Ruanda consegue cada vez mais atrair turismo de conferências e turistas de alto poder aquisitivo”, considerou.
Para Klingebiel, o patrocínio “envolve bem mais que algumas dezenas de milhares de adeptos no estádio do Arsenal. Tem um potencial de impacto global“, considerou.
Também o Parlamento holandês, que também direciona fundos para o país africano, denunciou o contrato publicitário.
Já que neste caso, o presidente de Ruanda não tem o menor senso de administração financeira, o Arsenal deveria ter melhor entendimento da miséria que impera no país africano e não aceitar este acordo. Juntou o orgulho pessoal do presidente com a famigerada sede de angariação de recursos por parte do clube inglês.