Na noite desta terça-feira, o Real Madrid foi eliminado da Liga dos Campeões pelo Ajax, depois de uma derrota caseira por 1-4. Este é mais um dos desaires dos “Merengues” na era pós-Ronaldo.
“Uma temporada de merda”. É assim que Dani Carvajal, lateral direito do Real Madrid, caracteriza a desapontante época dos madrilenos. O espanhol assume que a época “está acabada”, já que o clube está fora da corrida a todos os títulos. “Vamos continuar a trabalhar na Liga, porque é o que temos e há que ser profissional”, acrescentou.
Na liga, o Real Madrid vai a 12 pontos do líder Barcelona. O cenário seria compreensível, não fosse o emblema de Madrid uma equipa habituada a ganhar (e em fartura). Muitos culpam Florentino Pérez, outros culpam o treinador Santiago Solari e há ainda quem fale da ausência de Ronaldo.
O fantasma de Cristiano Ronaldo parece estar preso no sótão do Bernabéu e sem intenções de sair tão cedo. O desaire frente ao Ajax desolou os jogadores e foi uma verdadeira chapada de luva branca a Sergio Ramos.
Isto se tivermos em conta que o central forçou o amarelo na primeira mão da eliminatória, para que fosse poupado para o segundo jogo. Com a vitória por 1-2 em Amesterdão, o internacional espanhol achou que a passagem à próxima fase estaria garantida. O karma encarregou-se de lhe mostrar o contrário.
E enquanto a sua equipa recebia uma lição de futebol diante dos seus adeptos, Sergio Ramos estava em casa a gravar mais alguns capítulos do documentário da Amazon sobre o jogador.
O problema não será o navio, mas sim o timoneiro
Neste último encontro, os adeptos fizeram-se ouvir com cânticos que pediam a demissão de Florentino Pérez. O presidente dos “Galáticos” tem sido questionado em relação às suas últimas decisões. A venda de Ronaldo à Juventus, a saída surpreendente de Zidane e a breve passagem de Julen Lopetegui no comando técnico.
Marcelo, Bale, Kroos, Casemiro e Mariano Díaz são alguns dos nomes que têm mostrado cada vez mais a sua insatisfação. A queda do império de Florentino pode estar cada vez mais próxima, caso este lote de jogadores saia no próximo mercado.
No terceiro posto da liga, a chegada de José Mourinho continua a ser posta em equação. “Voltar? Não tive problema em voltar ao Chelsea”, disse Mourinho, no início desta semana, em declarações à Deportes Cuatro. O antigo presidente do Real Madrid, Ramón Calderón, foi dos primeiros a validar essa hipótese.
Nos três anos que passou por Madrid, o “Special One” conquistou uma La Liga, uma Taça do Rei e uma Supertaça espanhola.
“Quem precisa de Ronaldo?”
Com nove temporada passadas em Madrid, Ronaldo tornou-se numa lenda viva do clube, com números e recordes que falam por si. Ironicamente, alguns fãs madrilenos nunca parecem ter dado o devido valor ao internacional português — muito menos depois da sua saída no fim da época passada.
“Não sabes o que tens, até o perderes”, escreveu um utilizador do Twitter, ilustrando a publicação com uma imagem da vitória por 1-4 do Real Madrid, frente ao Ajax, em 2012. Ronaldo fez três dos golos dos espanhóis, num jogo a contar para fase de grupos da Champions. José Mourinho era o treinador na altura.
A verdade é que Cristiano Ronaldo está nas suas “sete quintas” após a saída de Madrid. Na Juventus, o português leva 21 golos em 35 jogos oficiais. Além disso, a Vecchia Signora lidera o campeonato, sem ainda ter conhecido o sabor da derrota.
Atualmente, o melhor marcador do Real é o francês Karim Benzema, que conta com 20 golos em 43 jogos. Um registo aceitável, até olharmos para os números de Ronaldo na sua última temporada ao serviço dos “Merengues”.
Em apenas mais um jogo que Benzema, Ronaldo marcou 44 golos — mais 24 do que Benzema. O rácio perfeito de um golo por jogo de CR7 parece ser inatingível e quem sente isso na pele é o Real Madrid.
Há duas vertentes no futebol: aquela que se joga dentro de campo e aquela que se passa fora das quatro linhas. Ronaldo é, na verdade, um campeão em ambas. Não só trouxe números à Juventus com os seus golos e assistências, como também disparou números na parte financeira.
O craque português ainda nem tinha chegado a Turim e já as ações do clube italiano na Bolsa de Milão valorizaram em mais 7,35%, algo como 130 milhões de euros. Olhando para estes valores, os 117 milhões de euros pagos pela Juventus pelo passe de Ronaldo (segundo dados do Transfermarkt) tornam-se obsoletos.
A situação do Real Madrid continua, por enquanto, por resolver. Não se sabe quem será o bode expiatório: se Solari, se Florentino; mas sem sombra de dúvida, o Real Madrid está ainda a ressacar do efeito alucinogénio, que só Cristiano Ronaldo causava.