ZAP // António Pedro Santos, Nuno Veiga / Lusa

Foi um debate cordial, entre cavalheiros de mundos opostos, que encontraram forma de trocar civilizadamente — quase até ao fim — todos os galhardetes que levavam.
“O exemplo mais evidente de que o modelo do Rui Rocha e da IL falhou é o drama da habitação”. Assim começou o debate da noite desta sexta-feira entre o secretário geral do PCP, Paulo Raimundo, e o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha.
Raimundo respondia a uma pergunta da moderadora, Nelma Serpa Pinto, que começou por perguntar ao líder do PCP por que motivo achava que o estado é melhor a gerir empresas.
“O estado não existe, as rendas estão liberalizadas, e os resultados estão à vista de toda a gente; talvez este seja o elemento central da falência deste modelo de privatizar tudo“, considerou. “Só espero que não tenha o objetivo de privatizar a água”.
A visão da IL para resolver os problemas essenciais dos portugueses é diferente, diz Rui Rocha. “Passa por um estado focado nas suas atividades essenciais: a defesa, a segurança, a saúde, a segurança social — mas que não está presente nas dimensões em que é possível haver um regime concorrencial”.
“Mas ouvir o Paulo Raimundo falar de abordagens económicas que falham é absolutamente surpreendente, porque representa uma ideologia que falhou em todos os sítios em que foi tentada — da Venezuela a Cuba, da Bielorrússia à Nicarágua”, diz Rocha. “É o falhanço total”
“Não é por acaso que quando o Muro de Berlim caiu, as pessoas fugiram da Alemanha comunista para a Alemanha liberal, como é óbvio, e não fizeram o percurso inverso”, acrescentou.
“Se o programa que Paulo Raimundo traz fosse aplicado, traria uma bancarrota ao país. Aumento da despesa do estado, só em nacionalizações, por baixo, mais de 40 mil milhões”, exemplifica. “O aumento de custos levaria à falência milhares de pequenas e médias empresas”.
Além disso, diz Rocha, “a proposta de abandonar o euro seria uma catástrofe para o país”.
“Traz a cartilha toda, caramba“, retorquiu Raimundo.
“Ó Rui Rocha, eu já perdi uma aposta“, confidenciou o líder do PCP. “Vim com as pessoas que me acompanharam e a aposta era se iria falar da Coreia, da Venezuela e da Nicarágua antes ou depois dos 15 minutos, e eu disse, não, o Rui Rocha só falará isso depois dos 15 minutos”
“Mas afinal foi logo à entrada” notou. “Foi logo à entrada”.
Seguidamente, Raimundo diz que a cartilha de Rocha é interessante, “mas sabe qual é a bancarrota que nós temos? Não é a banca que está rota — essa banca dos 5 mil milhões de lucros. O que está roto é o bolso dos portugueses, os que não aguentam a prestação da casa, das rendas. Esses é que têm o bolso roto”.
“Se me permite a ousadia”, diz Raimundo, “não pode vir falar das empresas e meter as PME ao barulho, porque 80% delas vive à custa do mercado interno conseguido a partir dos salários e rendimentos e cada um. Se os rendimentos baixarem aí é que elas vão à falência.
“Rui Rocha aí é coerente, defende as 0,3% das empresas que concentram 40% do lucro, e eu defendo as PME também”, diz Raimundo. “Os custos principais das PME não são os salários, sabe quais são? Os custos bancários, do crédito, energia, telecomunicações, mas o Rui Rocha aí não quer ir: beliscava os lucros dos 0,3%”.
Em relação aos lucros da banca, que “é sempre um tema recorrente” nos debates entre os dois partidos, diz Rui Rocha, “a Iniciativa Liberal defende uma coisa muito clara: lucros privados, prejuízos privados. Se dependesse da IL, era este o princípio”.
“Mas não nos podemos esquecer que o Estado entre 2008 e 2021 investiu milhares de milhões de euros na banca, e o Paulo Raimundo aprovou até a entrada no Fundo de Resolução para viabilizar um determinado banco — em relação a isso, tem que olhar ao seu passado“.
Questionado sobre Nelma Serpa Pinto sobre como o Estado vai compensar a perda de receitas decorrente das medidas apresentadas no programa eleitoral do partido, Rui Rocha diz que tem uma visão estratégica que permite atacar três problemas essenciais.
“Temos uma gravíssima crise de habitação, e queremos, por via fiscal, incentivar a construção, mais casas para os portugueses. Temos um problema de competitividade, queremos baixar os impostos às empresas — mais crescimento económico, mais salário para os portugueses“, disse.
“E queremos baixar os impostos às famílias, porque queremos que os portugueses tenham mais dinheiro ao fim do mês”, concluiu. “Isso implica uma redução de receita de 6200 milhões”, que será compensada por via do acréscimo da atividade: “quando não se pagam uns impostos, pagam-se outros — IVA, por exemplo”.
Em resposta, e dando um salto para trás no tempo, Raimundo diz que Rui Rocha podia ter levado a sua afirmação até ao fim e explicado “onde foram parar os 16 mil milhões de euros, um PRR inteiro, que foram parar ao buraco da banca”.
Sobre as privatizações que constam do programa da IL, Raimundo diz que a IL “só não quer privatizar a água” — até ver. E questiona: “Qual foi a grande vantagem, não para os acionistas, que estão sempre a encher, mas para as pessoas”, que trouxe a privatização dos CTT.
“Uma coisa é certa, as nacionalizações que a CDU está a propor são um peso incomportável para o Estado”, diz Rui Rocha. “Quer nacionalizar os CTT, a REN, a GALP, a ANA, Fertagus, a lista é tão grande que já nem me lembro”.
“Se o Paulo Raimundo tiver saudades da Troika, meta o programa do PCP no correio e envie para o destinatário No dia seguinte, temos cá a Troika. É um programa para terraplanar a economia”, diz Rui Rocha.
“No dia seguinte não dá, a privatização dos CTT, para além de outras coisas, arrasou com a entrega postal!”, brinca Raimundo.
Sobre o SNS, Rui Rocha diz que a IL quer o modelo de países que estão absolutamente testados, como o caso da Holanda e Alemanha. “Mas falar de saúde em Portugal implica, sendo direto, Paulo Raimundo, falar do cadastro do PCP e da geringonça em matéria de saúde.
Raimundo responde que “não é contra a iniciativa privada na Saúde, pode haver hospitais e clínicas privadas não devem ser é sustentados com os recursos do Estado, que é o que o Rui Rocha propõe”.
Mas, garante, “o único sistema que garante saúde a todos, é o SNS. É preciso tratar da saúde ao SNS, e que isso é preciso mais gente disponível para trabalhar no SNS”.
Raimundo salienta que Braga tinha uma boa PPP, mas a gestão pública fez o dobro das cirurgias feitas pela gestão privada. “Mais uma volta, mais uma voltinha, as criança não pagam mas também não andam. E as PPP é mais ou menos a mesma coisa: é mais barato, mas também não tratam — são desviados para o SNS”.
“Isso é totalmente falso”, diz Rui Rocha. “Eu sou de Braga e conheço bem a PPP de Braga, e os hospitais de Braga e Beatriz Ângelo funcionavam melhor em PPP . Os utentes têm decerto muitas saudades das PPP”.
A troca de galhardetes prosseguiu debate fora, em temas como a habitação — entre a mãozinha do estado ou ficar nas mãos do mercado — e o valor dos salários: 1.000 euros de Salário Mínimo “não são uma extravagância”, diz Raimundo, mas o salário médio “não sobe por decreto”, lembra Rui Rocha.
Até que, já se estava próximo dos tais 15 minutos, já se tinha falado da Coreia e Guatemala, mas faltava só mais uma coisinha. Faltava a Ucrânia.
A pedra de toque foram as tarifas de Trump. “As questões das tarifas estão aí, elas são prejudiciais, obviamente, e o sr. Trump tem uma influência nefasta“, diz Rui Rocha. “O caminho devia ser o contrário, eliminar tarifas, criar mercados livres, isso é que traz bem-estar às populações”.
“E temos a defesa, é imperativo termos investimento adicional em defesa. O Paulo Raimundo ri-se, mas isso não é indiferente da situação na Ucrânia, da agressão de Vladimir Putin“, diz Rui Rocha. “Não acho que tenha grande graça”.
“Rio-me da sua hipocrisia e cinismo” em termos de defesa, diz Paulo Raimundo.
“Eu seu qual é a posição do PCP sobre a Ucrânia. É a oposta da da Iniciativa Liberal. Paulo Raimundo entende que Putin fez bem“, disse Rui Rocha, que enumera seguidamente as posições do PCP nas diversas votações na Assembleia da República.
“Vai acabar o debate assim? Fica-lhe mal, acabar o debate assim”, lamenta Raimundo. “Fica a saber que lhe fica mal acabar o debate assim. Fica-lhe muito mal acabar o debate nestes termos, Rui Rocha”.
“Eu percebo que não gosta de ouvir“, responde o presidente da IL. “Nos regimes liberais, há debate. Nos regimes comunistas, as pessoas têm que estar caladas. E eu não estou aqui para estar calado”.
O ambiente de cordialidade e cavalheirismo durou 14 minutos.
O Raimundo é dos tais que o “mal criou raizes profundas e, esses não tèm salvação”. Estão Dominados pelo Diabo e são seus Servos e andam neste Mundo ao serviço do “mal”, querem meter as pessoas debaixo do DOminio do Diabo, esse é o unico objectivo dessa corja.