Carreira do internacional português fica marcada pela conquista de dois títulos internacionais: o Europeu de 2018 e o Mundial, este ano.
Depois de 187 jogos, 141 golos e incontáveis momentos com entrada direta para a história do desporto português, Ricardinho anunciou esta tarde o adeus à seleção nacional de futsal. Uma decisão que já era possível antever face às últimas declarações do jogador e ao trajeto que tem vindo a traçar de quinas ao peito – sobretudo depois de dois anos em que as lesões foram uma constante, mas não um impedimento para liderar o grupo português à conquista do campeonato do mundo este ano – título que juntou ao Europeu de 2018.
“Vim aqui anunciar o fim de um ciclo. Apesar de me custar muito, foi sem dúvida uma caminhada incrível e inesquecível”, começou por dizer o jogador de 36 anos. “É a decisão mais difícil que estou a tomar na minha carreira desportiva, mas é hora de dar lugar aos mais novos. Tudo o que tinha para dar à seleção dei desde os meus 16 anos. Sou orgulhosamente português e vou continuar a ser.”
“Há um momento da nossa vida que, na minha opinião, é o mais difícil: saber sair, saber dar lugar aos outros. Temos de saber dar o lugar aos outros, até porque Portugal forma bem, tem potencial e talento a chegar. Às vezes, dar o passo ao lado não é sinal de fraqueza, é sinal que estamos a abrir portas a outros atletas para que o futuro seja mais brilhante. É o meu sentimento neste momento”, esclareceu.
Visivelmente emocionado, Ricardinho também recordou os “dois piores anos” da sua carreira, numa referência à saída de Espanha, à pandemia da covid-19, à passagem por França e a “uma das lesões mais graves que se pode ter”. “Olho para trás e lembro-me que comecei com 16 aninhos em Rio Maior, mas não sabia que o caminho iria ser tão perfeito. Foi uma caminhada incrível, com altos e baixos, como tudo na vida”, realçou.
Na conferência de imprensa, marcada também pela presença dos principais dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol, Ricardinho falou do impacto que uma presença tão longa no desporto de alto nível teve na sua saúde mental.
“Não é que não me sinta útil e capaz, essa não é a questão. Tudo o que é a nível físico, sei que me posso superar, sei que trabalho e sei a forma como trabalho. A questão é a exigência que coloco em mim diariamente, e que tenho colocado nos últimos 18 anos da minha carreira. Em todos os lugares em que estive, sempre tentei ser preponderante, decisivo, ser o melhor profissional e exemplo. Acho que o consegui, nota-se também pelas conquistas em todos os países em que estive”, começou por explicar explicou.
“Mas causa também um desgaste mental, é aí que está, neste momento, a minha dificuldade. Foram muitos anos ao mais alto nível, a tentar dar o máximo, a tentar meter o nome e bandeira de Portugal o mais alto possível, seja coletivamente ou individualmente. E, ao mesmo tempo, tentar ser exemplo, tentar não falhar. Essa exigência é muito difícil. Penso que o fiz com grande sucesso, muitos anos”.
Quanto ao futuro, o ala considerou que ainda tem “alguns anos para dar ao futsal”, onde, a nível de clubes, representa os franceses do ACCS Paris.
Ricardinho é o único praticante eleito por seis vezes melhor jogador de futsal do mundo (2010, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018), pelo portal Futsal Planet, contabilizou 187 jogos e 141 golos na equipa das ‘quinas’, pela qual se estreou em junho de 2003, numa vitória sobre Andorra (8-4), em Tavira.
Natural de Gondomar, o ala despontou no Benfica e cumpre a quarta experiência fora de Portugal, ao serviço do campeão francês ACCS Paris, após também já ter competido no Japão, pelo Nagoya, na Rússia, pelo CSKA Moscovo, e em Espanha, pelo Inter Movistar. Ricardinho venceu mais de 30 troféus coletivos, incluindo três edições da UEFA Futsal Cup, uma nas ‘águias’ e duas nos madrilenos, e recebeu múltiplas distinções individuais, como as de melhor jogador nos Europeus de 2007 e 2018 e no Mundial de 2021.