A primeira vez que Nathan teve uma overdose, tinha 19 anos e estava rodeado pela família. Ninguém sabia o que fazer.
“Foi por oximorfona”, um poderoso analgésico opioide, uma droga semissintética, revela Nathan Smiddy. Teve sorte: os serviços de emergência chegaram a tempo. A luz voltou. Continuava vivo.
Mas Smiddy teve uma segunda overdose tempos depois. Usou fentanil, outro opioide com efeito analgésico e anestésico, e heroína.
Dessa vez, foi salvo por alguém que imediatamente identificou o que lhe estava a acontecer com ele e tinha em mãos a naloxona, um medicamento que reverte rapidamente as overdoses de opioides.
Hoje, Smiddy faz parte do batalhão de voluntários espalhados pelos Estados Unidos que diariamente sai às ruas para educar sobre opioides, ensinar a identificar quando alguém está a sofrer uma overdose e distribuir — e administrar se necessário — o antídoto entre a população em risco.
O antídoto
Mais de 100 mil pessoas morrem a cada ano nos Estados Unidos por overdose, 80 mil delas por uso de opioides, segundo os dados mais recentes do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (NCHS), número que aumentou 850% em duas décadas.
Enquanto as autoridades debatem e traçam estratégias para conter o vício crescente, também estão a adotando medidas para a mitigação de danos, que consiste na distribuição e administração da já mencionada naloxona, um medicamento genérico que age com um “antagonista opioide”.
A naloxona bloqueia os produtos químicos da família dessas substâncias (heroína, oxicodona, morfina e fentanil, entre outros) e impede-os de aderir aos receptores do sistema nervoso.
Trata-se, portanto, de um antídoto que, se administrado a tempo, reverte completamente os efeitos de uma overdose, ao passo que “praticamente não tem efeito” em pessoas que não tomaram essas substâncias, destaca a Organização Mundial da Saúde.
Na maioria dos países, o seu acesso é restrito a profissionais de saúde, e a sua disponibilidade continua limitada, embora em alguns, como Austrália, Canadá, Itália ou Reino Unido, esteja disponível gratuitamente.
Nos Estados Unidos, esse medicamento pode ser adquirido em farmácias, tanto na versão injetável quanto em spray nasal, sob o nome Narcan. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) descrevem-o como “um medicamento com o poder de salvar vidas” que “pode ser usado por qualquer pessoa sem treinamento ou autorização médica”.
Por esse motivo, também é distribuído gratuitamente entre a polícia, socorristas, associações comunitárias e organizações que trabalham com sem-abrigo e outras populações em risco. Na Califórnia, é possível encontrá-lo nas escolas e, em breve, estará disponível nas bibliotecas públicas.
Há também máquinas de venda automática com o mediamento nas prisões do condado de Los Angeles para aqueles que já cumpriram as suas penas, porque os ex-prisioneiros fazem parte do grupo de risco.
Em meados de outubro, o Projeto de Distribuição de Naloxona do Departamento de Serviços de Saúde da Califórnia (DHCS, na sigla em inglês) já havia entregue 1,5 milhão de unidades, com as quais as autoridades afirmam ter evitado mais de 100 mil overdoses. Uma iniciativa com um orçamento de 52 milhões de dólares, entre recursos estaduais e federais.
Estes são, um a um, os sinais de envenenamento por opioides, de acordo com o site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). E os passos a seguir para quem os presencia são:
- Ligue para o número do serviço de emergência;
- Administre naloxona, se disponível;
- Tente manter a pessoa acordada e a respirar;
- Deite-a de lado para evitar que ela sufoque;
- Fique com ela até a chegada da equipa de emergência.
“Insira-o no nariz e aperte“, Smiddy diz àqueles que instrui sobre o uso do Narcan. “Repita o procedimento depois de três minutos. Nessa altura, você já terá ligado para o 112. Continue a usar o medicamento até a pessoa voltar a si”, diz, seguindo as instruções das autoridades de saúde.
“Ofereço treino individual, a pais com filhos que usam opioides regularmente… A todos que nos procuram”, explica.
Questionado se sabe quantas pessoas com overdose conseguiu salvar, Smiddy responde: “Ressuscitamos pessoas todas as semanas. É como ressuscitar alguém que não sabe que está a morrer”.
Apesar disto, nem todos aprovam a estratégia de distribuição de naloxona. Os críticos argumentam que isso pode tornar os viciados em opioides mais propensos a correr riscos.
Esse também é o argumento defendido por aqueles que se opõem às salas de consumo assistido. Aos críticos, Smiddy, que está “limpo” há três anos após consumir opioides.
“Tudo o que a naloxona faz é permitir que as pessoas vivam. Não podemos mudar de vida se estivermos morto. É uma questão de compaixão e empatia.”
ZAP // BBC
Não há volta a dar… Não se previne, até se dá mais uma “desculpa” para poderem usar opiáceos à força toda e depois basta “meter” Narcan! Damn, people be dumb!