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Físicos acreditam que seriam capazes de o resgatar de um buraco negro (mas não arrisque)

NASA / JPL-Caltech

Um físico da Universidade de Harvard afirma que os wormholes são túneis que permitem cortar caminho no Universo. Por esse motivo, Daniel Jafferis acredita que é possível viajar por estes atalhos – uma viagem quase interminável, que demoraria muito mais tempo do que o normal.

Uma equipa de cientistas desenvolveu um método inédito – perigoso e incrivelmente lento – de cruzar o Universo. Daniel Jafferis, um físico da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, descreveu o método numa reunião da American Physical Society, no dia 13 de abril. Segundo o especialista, envolve dois buracos negros entrelaçados, conectados através do espaço e do tempo.

De acordo com a Ciência, quando algo se aventura a entrar num wormhole, sabe que se arrisca a lá ficar, uma vez que é necessária energia negativa para sair do outro lado. No entanto, nada na física da gravidade e do espaço-tempo permite a existência destes tipos de pulsos de energia negativa – o que faz com que seja impossível atravessar wormholes.

Este modelo antigo de wormholes remonta a um artigo de Albert Einstein e Nathan Rosen, publicado na Physical Review, em 1935. Na sua investigação, os físicos perceberam que, sob certas circunstâncias, a relatividade ditava que o espaço-tempo se curvaria tão intensamente que uma espécie de túnel formaria a ligação de dois pontos separados.

Inicialmente, os cientistas escreveram este artigo para excluir a possibilidade de existência de buracos negros no Universo. Todavia, nas décadas seguintes, a comunidade científica apercebeu-se de que os buracos negros existem mesmo. Assim, a imagem padrão de um wormhole tornou-se um túnel onde as duas aberturas aparecem como buracos negros.

De acordo com esta teoria, o tal túnel não poderia existir – e se existisse, provavelmente desapareceria num ápice, antes que algo pudesse passar através dele.

Contudo, em 1980, Kip Thorne acendeu a luz da esperança: o físico escreveu um artigo científico no qual explicava que algo poderia atravessar esse túnel se fosse aplicada energia negativa numa das extremidades, de modo a manter o wormhole aberto.

Daniel Jafferis, juntamente com Ping Gao, da Universidade de Harvard, e Aron Wall, da Universidade de Stanford, desenvolveram uma forma de aplicar uma versão da tal energia negativa através do entrelaçamento quântico.

Entrelaçamento quântico

O entrelaçamento quântico foge da alçada da relatividade e entra no campo da mecânica quântica. Em 1935, Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen publicaram outro artigo na Physical Review que prova que, sob as regras da mecânica quântica, as partículas podem ser “correlacionadas” umas com as outras, de tal forma que o comportamento de uma partícula influencia diretamente o comportamento de outra.

Na altura os cientistas desconfiaram de que poderiam estar errados, porque a sua hipótese permitiria que a informação se movesse mais rápido do que a velocidade da luz entre duas partículas. Hoje, os físicos sabem que o entrelaçamento quântico é bem real e um ramo rotineiro da pesquisa em Física.

O entrelaçamento não é uma propriedade exclusiva das partículas, uma vez que objetos maiores podem também ser entrelaçados – ainda que o entrelaçamento perfeito seja muito mais difícil de obter nestes casos.

Se cair num buraco negro, nada está perdido

Há 84 anos, os cientistas não faziam ideia que os wormholes e o entrelaçamento poderiam estar relacionados. Mas, em 2013, os físicos Juan Maldacena e Leonard Susskind publicaram um estudo na Progress in Physics no qual defendiam que dois buracos negros entrelaçados atuavam como um wormhole entre os seus dois pontos no espaço.

Os cientistas batizaram esta teoria de ER = EPR, porque ligava o artigo de Einstein-Rosen ao artigo de Einstein-Podolsky-Rosen, explica o Live Science.

Jafferis não acredita que haja no Universo dois buracos negros perfeitamente entrelaçados. O fenómeno não é fisicamente impossível, mas é uma situação demasiado precisa para um Universo tão caótico produzir. No entanto, se existirem mesmo em algum lugar do Universo, o método de Jafferis, Gao e Wall poderia funcionar.

Em termos simplificados, o método destes físicos baseia-se no seguinte: atire uma pessoa para dentro de um dos buracos negros entrelaçados. De seguida, meça a radiação Hawking que sai do buraco negro, responsável por codificar algumas das informações sobre o estado do buraco. Depois, leve essa informação para o segundo buraco negro e use-a para manipulá-lo. Em teoria, a pessoa que atirou para o “inferno incerto”, sairia do segundo buraco negro exatamente como entrou no primeiro.

Segundo Jafferis, a pessoa nada mais fez do que mergulhar num wormhole e saiu do segundo buraco negro graças a um impulso de energia negativa. Este método seria demasiado lento para se tornar num processo útil, mas pode sugerir algo novo sobre o nosso Universo.

O cientista acredita que algo muito parecido com este modelo de wormhole pode estar a acontecer no caso do entrelaçamento quântico de partículas individuais. Além disso, Jafferis defende que a informação perdida num buraco negro pode parar em algum lugar e um dia pode mesmo vir a ser recuperada, como se de um tesouro do Universo se tratasse.

A verdade é que, na visão de Daniel Jafferis, se por algum motivo cair num buraco negro amanhã, nada está perdido. A investigação está atualmente em andamento, mas Jafferis adianta que o objetivo primordial não é realizar resgates em buracos negros – por isso, tenha cuidado e não arrisque.

LM, ZAP //

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