A religião (ou a falta dela) influencia o sucesso de uma relação amorosa? A ciência acredita que sim

Um grupo de cientistas quis perceber de que forma é que os ateus são vistos como parceiros menos atrativos, em função, por exemplo, do seu grau de comprometimento com relações a longo prazo.

Se nos últimos tempos se percebeu que o seu parceiro anda a ter menos gestos românticos para consigo e tem tentado descobrir o porquê, a ciência avançou recentemente com uma possibilidade que deriva da relação de cada indivíduo com a religião.

Na realidade, um grupo de cientistas acredita mesmo que os ateus tendem a ser parceiros românticos menos desejáveis ou apelativos.

Tal como lembra Mitch Brown, investigador da Universidade do Arkansas e autor do presente estudo, existem uma série de estereótipos — todos negativos — sobre os ateus, grupo que, defende, surpreenderia muita gente caso o número de indivíduos que o integra fosse aferido.

Partindo deste pressuposto, o especialista em psicologia tentou perceber de que forma é que esta perceção dos ateus pode influenciar os seus relacionamentos amorosos — não do seu ponto de vista, mas do ponto de vista da pessoa com quem se podem relacionar.

Na visão do investigador, aqueles que são vistos como pontos negativos sobre os ateus pode, para os mesmos, representar uma vantagem a nível social — o que o levou a desenvolver um trabalho precisamente sobre os estereótipos positivos dos ateus (invertendo, assim, a dinâmica), como o sentido de humor e a mente aberta.

“Estas perceções fizeram-me pensar em como esta troca surge nos domínios do acasalamento e se a omnipresença de estereótipos negativos em relação aos ateus poderia ser uma vantagem na seleção de companheiros, especialmente considerado como qualquer tipo de crença religiosa num companheiro é valorizada por tantas pessoas”, explica Mitch Brown.

Em dois estudos, que contaram com a participação de 237 estudantes universitários do sul dos Estados Unidos da América, os indivíduos foram convidados a visualizar e a avaliar potenciais parceiros num site de encontros.

Em alguns dos perfis, constava a informação das crenças religiosas de possível parceiro para o encontro — se acreditavam em Deus ou não.

Como tal, concluiu-se que os ateus eram mais desejados para relações mais curtas, ao passo que os crentes eram mais desejáveis do que os ateus nos vários cenários apresentados.

Simultaneamente, aos crentes tidos como mais atraentes fisicamente — assim como os ateus — era atribuída uma probabilidade mais elevada de traírem, isto em oposição aos perfis considerados menos atraentes, independentemente do nível religioso.

“Os ateus são considerados mais desejáveis nos domínios de acasalamento a curto prazo do que nos domínios de acasalamento a longo prazo. No entanto, isto não significa necessariamente que os ateus sejam altamente desejáveis em contextos de curti prazo”, ressalvou o investigador ao PsyPosy.

“É interessante notar que este desejo acontece tanto para os crentes como para os ateus. Há também estereótipos de ateus como sendo mais propensos à infidelidade, o que prejudica a sua desejabilidade em relações a longo prazo.”

Os resultados apresentados — presentes na investigação publicada em outubro no Journal of Social and Personal Relationships — estão em linha com os de pesquisas anteriores, as quais descobriram que as pessoas não-religiosas têm menos probabilidades de serem vistas como dignas de confiança, como “parceiros românticos e fieis” ou até “pais dedicados”.

No entanto, é pouco claro como é que as conclusões do novo estudo se podem aplicar a outra população — isto porque a maioria da população disse, numa fase inicial, acreditar em Deus.

“A maior advertência é que o estudo foi realizado no sul dos Estados Unidos“, aponta o investigador. “Apesar de o preconceito anti-crentes existir num grau universal, outras pesquisas mostram que os contextos menos religiosos do que o Sul são menos preconceituosos.

Como tal, gostaria de realizar uma nova versão deste estudo noutras partes do mundo para ver quão grande o efeito poderia ser, particularmente se se considerar as diferenças individuais na religiosidade. Embora os ateus e os agnósticos defendam preconceitos semelhantes em relação aos ateus, seria razoável que estes efeitos fossem silenciados”, explica Mitch Brown à mesma fonte.

O investigador ressalva que o trabalho de investigação não foi desenvolvido para justificar os preconceitos em relação aos ateus, nem para os depreciar. “Isto é apenas uma investigação para compreender como os sistemas de crenças partilhadas (ou a sua falta) podem funcionar para moldar as suas preferências”, conclui.

ZAP //

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