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Os misteriosos relâmpagos azuis podem ser mais comuns do que pensávamos

Gemini Observatory / AURA / Wikimedia

Raio azul no cume de Maunakea, no Havai

Além de ser um dos fenómenos mais espetaculares, o relâmpago é também um dos mais misteriosos. Apesar de as tempestades não serem assim tão raras, os cientistas ainda não entendem completamente estas descargas elétricas geradas no céu.

As conhecidas “emissões azuis” são ainda mais difíceis de compreender. Estes raios de luz brilhante, que duram apenas algumas centenas de milissegundos, ocorrem em direção à estratosfera. Apesar de não conseguirmos ver o fenómeno devido à cortina de nuvens que impede a nossa observação, não significa que os cientistas não consigam observá-lo.

Um estudo recente, liderado pelo físico Torsten Neubert, da Universidade Técnica da Dinamarca, apresentou dados obtidos destes fenómenos intrigantes com observações feitas na Estação Espacial Internacional (EEI).

De acordo com o Science Alert, estes raios foram registados, pela primeira vez, na década de 1990. As emissões azuis acontecem quando a parte superior de uma nuvem carregada com cargas positivas encontra uma camada de energia negativa no limite entre a nuvem e a camada de ar acima dela.

A descarga elétrica causada pelo encontro é chamada de “líder” e forma um canal condutor de ar ionizado pelo qual o raio se desloca.

O problema é que a compreensão dos investigadores acerca deste fenómeno é ainda muito limitada. O dados analisados por Neubert e pela sua equipa estão, agora, a preencher algumas lacunas, depois de, em 2019, o observatório Atmosphere-Space Interactions Monitor (ASIM), na EEI, ter registado cinco emissões azuis no topo de uma nuvem de tempestade.

Uma das emissões chegou a cerca de 50 quilómetros de altitude e alcançou a estratopausa, a interface entre a estratosfera e a ionosfera

O observatório registou também a ocorrência de ELVES, fenómenos atmosféricos em forma de anéis em expansão de emissão ótica e ultravioleta na ionosfera que aparecem acima das nuvens de tempestade. Possivelmente, são gerados por pulsos eletromagnéticos na ionosfera causados por descargas de raios.

A emissão vermelha do líder, no entanto, foi fraca e muito limitada, o que sugere que o próprio líder é muito baixo e localizado, em comparação com os líderes de relâmpagos totalmente desenvolvidos entre o solo e as nuvens.

A equipa acredita que tal pode significar que o brilho e o jato de luz azul são tipos de fluxos de descarga elétrica. “Propomos que os pulsos ultravioleta são ELVES gerados por correntes de luz e não pelas correntes dos raios”, escreveram, no artigo científico publicado a 20 de janeiro na Nature.

Os flashes azuis no topo das nuvens são, muito provavelmente, a versão ótica de eventos bipolares estreitos, isto é, descargas de alta energia que acontecem nas nuvens durante as tempestades, conhecidas por desencadear raios dentro da nuvem.

Uma vez que eventos bipolares estreitos são bastante comuns, isto pode significar que as emissões azuis podem também ser mais comuns do que se pensava, defendem os cientistas.

Liliana Malainho, ZAP //

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