Reino Unido aprova extradição de Julian Assange para os Estados Unidos

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Facundo Arrizabalaga / EPA

O fundador da Wikileaks, Julian Assange

A Ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, deu luz verde ao pedido de extradição feito pelos Estados Unidos. A defesa de Assange tem duas semanas para recorrer.

Segundo avança o The Guardian, a Ministra do Interior britânica, Priti Patel, aprovou a extradição do fundador da Wikileaks, Julian Assange, para os Estados Unidos.

A decisão passou para a Ministra do Interior no mês passado, depois de o Supremo Tribunal ter declarado que não havia dúvidas legais sobre as garantias dadas por Washington sobre o tratamento que Assange receberia na prisão

Apesar do Governo britânico ter dado a luz verde à extradição, já se antecipa um recurso por parte da defesa de Assange, que deve argumentar que o processo tem motivações políticas e põe em causa a liberdade de expressão e de imprensa.

Recorde-se que o caso tem gerado protestos e várias críticas de organizações de direitos humanos, que consideram Assange um prisioneiro político e contestam as condições em que este está detido na prisão de alta segurança de Belmarsh.

A Amnistia Internacional já apelou publicamente a que as acusações contra o fundador da Wikileaks caiam. “As garantias do Governo dos Estados Unidos de que Julian Assange não será admitido numa prisão de máxima segurança ou sujeito a medidas administrativas especiais abusivas foram desacreditadas, ao admitir que se reserva o direito de revogá-las”, afirmou a secretária-geral do grupo, Agnès Callamard, referindo-se ao alegado plano da CIA para raptar e matar Assange.

Callamard sublinha que estas revelações  “puseram a nu a motivação política que está subjacente a este caso”. Patel estaria a considerar se o pedido de extradição dos EUA ia ao encontro dos desafios legais que ainda restam, incluindo uma promessa de que Assange não será executado.

“Os pedidos de extradição são apenas enviados para a Ministra do Interior depois de um juiz decidir que pode proceder depois de considerar vários aspectos do caso. A 17 de Junho, seguindo a consideração de ambos os tribunais, foi ordenada a extradição do Senhor Julian Assange para os Estados Unidos”, afirmou um porta-voz do Ministério do Interior do Reino Unido.

Julian Assange está acusado de ter conspirado com Chelsea Manning, ex-funcionária dos serviços de inteligência norte-americanos, para aceder ilegalmente a um computador do Governo e recolher documentos confidenciais.

A acusação surgiu depois de, em 2010 e 2011, o Wikileaks ter publicado centenas de milhares de relatórios das forças militares americanas sobre crimes e atrocidades cometidos pelos EUA nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

Durante sete anos, Assange esteve refugiado na embaixada do Equador em Londres,  mas o país retirou-lhe a protecção em 2019, tendo sido imediatamente preso. Caso seja extraditado e condenado nos EUA, o denunciante enfrenta uma pena que pode chegar aos 175 anos de prisão.

Adriana Peixoto, ZAP //

4 Comments

  1. A superioridade democrática do ocidente relativamente à Rússia pode-se ver pela maneira como Assange tem sido tratado pelo Reino Unido, pelos EUA e pelo seu próprio país, a Austrália. Assange, cujo único crime foi denunciar os crimes de guerra americanos, corre agora o risco de passar o resto da vida numa prisão americana. Mas contra isto não há indignação dos povos, nem sanções contra os EUA. Será que não nos sentimos todos envergonhados pelo que está a acontecer a este homem?

  2. Todos nos devemos revoltar porque Assange está a ser vítima de um processo político e não judicial.
    O que Assange fez foi denunciar os crimes de guerra perpetrados pelos militares americanos no Iraque e no Afeganistão.
    A semelhança com o que se passa na Ucrânia pelos crimes praticados pelos russos é mais do que mera coincidência.
    Será que o tribunal penal internacional não vai abrir processos contra os EUA?
    E o mundo ocidental vai ficar de braços cruzados a assobiar para o lado?
    Não é só o Putin que pratica crimes de guerra. Os EUA já os praticaram em todos os teatros de operações: Vietname ( lembram-se do napalm?, Hiroshima, Nagasaki, Iraque, Afeganistão, Somália, ex-Jugoslávia, etc, etc, etc.

  3. Não vejo onde está o problema. O que temos aqui é um cidadão estrangeiro que é acusado de aceder ilegalmente a um computador do Governo dos EUA para obter documentos confidenciais e depois os divulgar sem autorização. Trata-se de um crime de espionagem, e qualquer país Ocidental faria o mesmo.

    De qualquer forma, vai ter direito a um julgamento justo e até pode ser que se safe, se tiver um advogado de jeito.

    Claro que se Assange tivesse feito isto à Rússia já teria sido acidentalmente envenenado ou caído acidentalmente de um 8. andar qualquer. A Rússia tem formas mais expeditas de resolver estes casos.

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