Rei Bibi à reconquista do poder em Israel

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World Economic Forum / Flickr

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro que mais tempo governou na história de Israel, pretende reconquistar o poder nas legislativas da próxima terça-feira, após ter sido derrotado em 2021 por uma coligação de partidos de todas as tendências.

As quintas eleições legislativas em três anos e meio em Israel poderão hoje fazer regressar ao poder o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção.

Aos 73 anos, Netanyahu vai tentar obter uma maioria de 61 deputados, dos 120 assentos do Knesset.

Ao fim de 14 anos no poder no país (1996-1999 e 2009-2021), Netanyahu, batizado como “Rei Bibi” pelos seus mais fervorosos apoiantes, foi, em junho do ano passado, relegado para líder da oposição, à frente do partido Likud, no que muitos vaticinaram ser o ocaso da sua carreira política.

Mas Benjamin Netanyahu prometeu então recuperar o poder – uma hipótese que ganha agora cada vez mais força.

A sua popularidade não se ressentiu: as sondagens confirmam-no como o candidato com mais intenções de voto nas eleições de 01 de novembro, embora não seja claro se conseguirá obter uma maioria suficiente no Knesset para formar um Governo estável, como já aconteceu nas quatro últimas eleições desde 2019.

Político hábil, negociador duro e líder carismático, Netanyahu é o sustentáculo de um bloco de direita que reúne cada vez mais eleitores e que, no último escrutínio, possibilitou a entrada no Knesset de partidos extremistas, abertamente racistas e homofóbicos, com os quais o “Rei Bibi” não tem escrúpulos em negociar para recuperar o seu trono.

A sua campanha centrou-se em apresentar-se como o único candidato com capacidade para dirigir um país com múltiplos desafios em matéria de segurança: lidar com a crescente violência com os palestinianos, a perpétua ameaça do Irão e as tensões com o grupo xiita libanês Hezbollah.

Nos seus cartazes de campanha, Netanyahu mostra imagens do seu adversário com líderes de partidos árabes e frases como “Uma vez é suficiente”, classificando o Governo de Lapid como “perigoso”.

Mas o seu principal adversário, o primeiro-ministro em exercício, Yair Lapid, não só fez grandes progressos na área da diplomacia – aprofundando os Acordos de Abraão com os Emirados Árabes Unidos; reconciliando-se com a União Europeia, a Turquia e a Jordânia; e assinando um acordo de fronteiras marítimas com o Líbano.

Além disso, adotou uma estratégia de “punho de ferro” semelhante à de Netanyahu em relação aos palestinianos, sem fechar a porta ao diálogo, e se mostrou implacável quanto ao acordo nuclear com o Irão.

Além de estratégias, ideologias e partidos, o panorama político de Israel continua organizado em torno da sua figura e, mais uma vez, estas eleições dividem-se entre o bloco pró-Netanyahu (o seu partido, Likud, partidos ultraortodoxos e o movimento do Sionismo Religioso) e um bloco anti-Netanyahu.

Este é uma amálgama de partidos de esquerda, centro e direita unidos quase exclusivamente pelo desejo de o afastarem do poder, que inclui políticos com afinidades ideológicas com ele, mas unidos por uma animosidade em relação aos seus tiques autoritários e acusações por corrupção.

Às suas promessas por cumprir, manipulações e artimanhas para se manter no poder, atribuem muitos analistas a paralisia política de Israel desde 2019, com quatro eleições em que Netanyahu foi o candidato mais votado, mas não conseguiu obter uma maioria suficiente para formar Governos estáveis num sistema eleitoral cada vez mais fragmentado e um país cada vez mais polarizado, parte do seu legado.

Não só Netanyahu tem a clara convicção de ser o político mais qualificado para liderar Israel, como um dos principais motivos pelos quais quer recuperar o cargo de primeiro-ministro é controlar, com os recursos que o lugar lhe fornece, o seu julgamento em curso por corrupção, que poderá conduzi-lo à prisão.

Fraude, suborno e abuso de confiança, em três casos diferentes, avançam lentamente numa Justiça que tanto ele como os seus fiéis aliados da direita atacam despudoradamente, e cuja ação poderá ver-se limitada num parlamento favorável a Netanyahu.

Apresentando-se como um exemplo de “mão dura” em matéria de segurança e da sua experiência diplomática desde jovem, considera-se igualmente o responsável pelo crescimento económico de Israel nos seus muitos anos no poder, quando o país se transformou numa potência económica através do modelo de “nação startup” e com políticas neoliberais.

Quanto aos palestinianos, opôs-se fervorosamente aos Acordos de Paz de Oslo (1993-1994) e foi-se afastando da solução da coexistência de dois Estados e da criação de um Estado palestiniano independente, em prol das políticas de criação de colonatos e anexação dos seus territórios, enquanto trabalhava para manter a identidade e superioridade judaica de Israel.

Embora alguns previssem o seu fim, ainda sobra fôlego à carreira de Netanyahu, que começou em 1982 como ‘número dois’ da representação diplomática de Israel nos Estados Unidos, onde realizou os seus estudos universitários.

Rapidamente chegou a embaixador na ONU, cargo que abandonaria em 1988 para iniciar o seu percurso político no Likud, o partido mais popular de Israel e que liderou durante boa parte dos últimos 30 anos.

Em 1996, aos 46 anos, tornou-se o primeiro-ministro mais jovem do país, cargo que manteve durante três anos antes de ser derrotado pelo então líder trabalhista, Ehud Barak.

Após um intervalo em que se dedicou aos negócios, voltou à linha da frente política em 2002, primeiro como ministro dos Negócios Estrangeiros e, depois, das Finanças.

O seu segundo período como chefe de Governo iniciou-se em 2009 e, desde então, conseguiu ser reeleito para o cargo em todas as eleições até que, em junho de 2021, a coligação que formou o “Governo da Mudança” o destituiu do cargo.

Desta vez, além do regresso ou não ao poder do polémico Benjamin Netanyahu, a ascensão da extrema-direita, abertamente racista, e o imprevisível voto árabe (cerca de um quinto dos cidadãos israelitas) marcaram a campanha eleitoral no país, onde o elevado custo de vida preocupa ainda mais os eleitores do que o clássico problema de segurança.

Após o escrutínio, os partidos têm quase três meses para negociar uma nova coligação que lhes assegure uma maioria no parlamento, ou seja, 61 mandatos. Se não conseguiram fazê-lo, Israel regressará às urnas no início do próximo ano e repetirá todo o processo mais uma vez.

Além de custarem milhões de shekels, cinco legislativas em menos de quatro anos cansaram os cidadãos e reduziram a sua confiança nas instituições democráticas do país.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. 14 anos à frente do país, a fazer pior à Palestina do que a Rússia faz à Ucrânia e nem uma sanção foi aplicada a Israel. Aqui se vê a hipocrisia dos políticos que nos governam.

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