Estudo do INSA aponta para redução de anticorpos três meses após infeção

A segunda fase do Inquérito Serológico Nacional (ISN) covid-19 alerta para a redução de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 três meses após a infeção e defende a vacinação em pessoas anteriormente infetadas, segundo o relatório dos resultados apresentado esta segunda-feira.

O estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que contou com a participação de 8463 pessoas, com idades entre 1 e 79 anos, estudadas entre 1 de fevereiro e 31 de março de 2021, em municípios previamente selecionados, considera que este registo “deve ser avaliado em estudo específicos”, face à “pertinência de monitorizar a prevalência de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2 ao longo do tempo”.

“Esta hipótese de decaimento dos anticorpos justifica a atual opção de vacinar as pessoas previamente infetadas por SARS-CoV-2, apesar de o decaimento de anticorpos ao longo do tempo, e mesmo ausência de anticorpos detetáveis, poderem não corresponder a uma total ausência de proteção, dado o papel da memória imunitária e da manutenção de mecanismos de imunidade celular”, indica o documento.

A necessidade de um melhor conhecimento da duração da imunidade pós-infeção e pós-vacinação é reforçada pelo INSA, na medida em que ao expectável aumento do número de pessoas imunes por via das vacinas deverá corresponder uma redução dos anticorpos nas pessoas anteriormente infetadas. O relatório nota as diferenças de seroprevalência nas pessoas que referiram antecedentes relacionados com covid-19, antes e depois de outubro.

“Os nossos resultados sugerem ainda que os indivíduos infetados por SARS-CoV-2 têm valores mais baixos de anticorpos do que os vacinados, à semelhança de resultados obtidos em ensaios clínicos (…), não sendo, no entanto, possível inferir quanto a diferenças no nível de proteção entre pessoas infetadas ou vacinadas. De qualquer modo, estes resultados suportam a opção de vacinação de pessoas previamente infetadas com SARS-CoV-2″, pode ler-se no documento.

Sublinhando o aumento da imunidade contra a doença na população em relação à primeira fase do ISN covid-19 (entre maio e julho de 2020), muito por culpa do aumento da incidência de covid-19 observado em Portugal após outubro de 2020, o relatório antecipa também “um aumento progressivo da imunidade” com a execução do plano de vacinação.

Os resultados preliminares deste estudo já tinham sido anunciados no final de abril, com destaque para a prevalência de anticorpos específicos contra o vírus SARS-CoV-2 na população residente em Portugal, que foi de 15,5%, sendo 13,5% conferida por infeção. Segundo o estudo, as regiões Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Centro e Alentejo foram aquelas onde se observou uma maior seroprevalência.

Relativamente às idades, o estudo indica que a “seroprevalência mais elevada foi encontrada na população adulta em idade ativa” e “mais baixa no grupo entre os 70 e os 79 anos”. Os resultados preliminares da segunda fase do ISN covid-19 revelam ainda que a seroprevalência estimada para os grupos etários abaixo dos 20 anos não é inferior à da população adulta.

No grupo de indivíduos vacinados contra a covid-19, a proporção de pessoas com anticorpos específicos contra o vírus foi de 74,9%, valor que aumentou para 98,5% quando consideradas apenas as pessoas vacinadas com duas doses há pelo menos sete dias.

Em relação aos antecedentes de covid-19, 35,1% dos participantes indicaram ter tido contacto com um caso suspeito ou confirmado da doença, enquanto 48,6% do total relataram ter realizado previamente um teste de diagnóstico e 11,0% referiram uma infeção prévia.

É igualmente destacada uma prevalência de anticorpos mais elevada nos indivíduos que referiram ter tido um contacto com caso suspeito ou confirmado de covid-19 (32,4%) e naqueles que assumiram já ter passado pela infeção (79,8%) depois de outubro de 2020.

A segunda fase do ISN covid-19 deu continuidade ao primeiro inquérito serológico realizado entre maio e julho de 2020, em que foi estimada uma seroprevalência global de 2,9% de infeção pelo novo coronavírus na população residente em Portugal, não tendo sido encontradas diferenças significativas entre regiões e grupos etários.

Mais de 5660 suspeitas de reações adversas à vacina

De acordo com o último relatório a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, datado de sexta-feira (14 de maio), foram notificadas 5665 reações adversas, a maior parte (72,9%) referentes à vacina da Pfizer/BioNtech, com 4129 casos, seguindo-se a da AstraZeneca (Vaxzevria), com 1234, e a da Moderna, com 302.

O Infarmed sublinha, contudo, que “as reações adversas (RAM) notificadas não têm necessariamente uma relação causal com a vacina administrada”.

Os dados do Infarmed indicam que por cada mil doses administradas foram comunicadas 1,34 reações no caso da Pfizer, 1,05 no caso da AstraZeneca (Vaxzevria), 0,66 referentes à Moderna e 0,05 à vacina da Janssen.

No total de 4.655.370 doses administradas, o Infarmed registou 35 notificações de casos de morte em idosos com outras comorbilidades e em que não está demonstrada a relação causal com a vacina administrada.

“Estes casos ocorreram maioritariamente em idosos que apresentam condições de saúde mais frágeis (alguns com diversas comorbilidades). A vacinação contra a covid-19 nestes grupos não reduzirá as mortes por outras causas, que continuarão a ocorrer”, sublinha o Infarmed.

Foram igualmente registados outros 2418 casos graves e 3212 não graves, refere o Infarmed, sublinhando que muitas das reações adversas a medicamentos classificadas como graves se referem a “casos de incapacidade temporária”.

A maioria das reações notificadas ao Infarmed foram registadas em mulheres e, por faixas etárias, aquela que mais notificações tem é a dos 30 aos 49 anos.

As 10 reações mais notificadas referem-se a casos de dores musculares/articulares (2620), cefaleias (1717), febre (1566), astenia/fraqueza/fadiga (965), náuseas (672), tremores (587), linfadenopatia (512), ou seja, alterações/aumento dos gânglios, eritema/aczema/rash (406) e parestesias (400), ou seja, sensação de formigueiro ou picadas.

No relatório, o Infarmed lembra ainda que a vasta maioria destas reações adversas a medicamentos “são observadas em geral em qualquer processo de vacinação“.

ZAP // Lusa

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