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Reconstrução facial em 3D revela “retrato de múmia” egípcia com milhares de anos

Andreas G. Nerlich

Múmia com retrato do menino

Há milhares de anos, uma criança egípcia contraiu uma doença mortal – provavelmente pneumonia – e acabou por morrer. Na altura, o seu corpo foi mumificado e sepultado. Os restos mortais foram embrulhados em faixas de linho cruzadas, onde estava presente um retrato do seu rosto.

Este tipo de imagens – colocadas junto das múmias egípcias – ficaram conhecidas como “retrato da múmia“, e faziam parte de uma tradição cultural popular entre alguns egípcios da época greco-romana. Mas quão precisos eram esses retratos?

Para descobrir, uma equipa de cientistas da Áustria e da Alemanha fez uma tomografia computorizada do corpo da criança e criou uma reconstrução digital em 3D do seu rosto.

Os resultados do estudo, publicado a 16 de setembro na Plos One, mostram que o retrato do menino era bastante preciso, exceto por um aspeto: o artista que elaborou o retrato fez com que a criança parecesse mais velha do que realmente era. Na realidade – e de acordo com a análise feita pelos investigadores – devia ter apenas entre 3 a 4 anos.

O investigador Andreas Nerlich, diretor do Instituto de Patologia da Clínica Académica de Munique-Bogenhausen, na Alemanha, disse que “o retrato mostra traços um pouco mais antigos, que podem ser resultado de uma convenção artística da época“.

Múmia infantil

Dos cerca de 1000 retratos recuperados do Egito greco-romano, apenas cerca de 100 ainda estão presos à múmia. Para o projeto – o primeiro a comparar o retrato de múmia de uma criança do antigo Egito com a sua reconstrução facial – os investigadores escolheram a múmia do menino, encontrada na década de 1880 num cemitério perto da pirâmide de Hawara, a sudoeste do Cairo, diz o Live Science.

A equipa de tomografia computorizada examinou raios-X tirados da múmia em 1984,  para que pudessem criar uma imagem digital 3D do corpo do menino. A tomografia computorizada revelou que o cérebro e alguns dos seus órgãos abdominais foram removidos, uma prática comum durante a mumificação no antigo Egito.

Os investigadores foram capazes de perceber a idade do menino devido ao desenvolvimento dos ossos e dos dentes. Notaram ainda “resíduos de tecido pulmonar condensado” o que lhes permitiu concluir que provavelmente morreu de pneumonia.

Os cientistas também estudaram ao pormenor o rosto. O retrato mostra “cabelos cacheados entrelaçados que vão da crista às orelhas”, escreveram os investigadores no estudo. “O indivíduo tem olhos grandes de cor castanha, nariz comprido e fino, e boca pequena com lábios carnudos, e um colar com um pequeno medalhão está pendurado no pescoço”, relataram.

A reconstrução facial foi “muito semelhante” à que está representada no retrato, já que as dimensões da testa à linha dos olhos, e a distância do nariz à boca “eram exatamente as mesmas entre o retrato e a reconstrução”.

Contudo, revelaram que “existiam diferenças entre a largura da ponte nasal e o tamanho da abertura da boca, pois ambos eram mais estreitos no retrato do que na reconstrução virtual”.

Ainda assim, os dois são tão semelhantes que o retrato “deve ter sido elaborado imediatamente antes ou depois de sua morte”, rematou Nerlich.

ZAP //

 

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