O número de reclamações de passageiros de TVDE atingiu um novo máximo no primeiro semestre, com 321 queixas.
As queixas foram feitas junto da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), e quase um terço estava relacionado com cancelamentos.
Nos primeiros seis meses deste ano, chegaram 321 reclamações de passageiros de TVDE à AMT — um novo recorde. O máximo, até agora, tinham sido 313, no segundo semestre de 2019, segundo avança o Público.
29% das reclamações dizem respeito a cancelamentos de viagens, que levaram os passageiros a formalizar uma queixa junto da autoridade responsável.
O serviço dos TVDE, tal como o dos táxis, tem a particularidade de não disponibilizar fisicamente o livro de reclamações, obrigando a um esforço extra para fazer a queixa.
Até ao momento, de acordo com a AMT, o cancelamento das viagens nunca tinha ultrapassado as 45 queixas, nem tinha dominado a tabela.
O mesmo não acontecia com os pedidos de reembolso e críticas à conduta de motoristas, que dominavam as reclamações. No entanto, a maior intensidade destas situações fez com que os cancelamentos chegassem ao topo das queixas.
Quem tem dominado as reclamações é a Uber, e o primeiro semestre deste ano não foi exceção, com a empresa norte-americana a concentrar 284 queixas, equivalente a 88,5% do total. Segundo a AMT, a Bolt foi alvo de 37 reclamações e a Free Now não teve nenhuma.
A Associação Nacional Movimento TVDE (ANM-TVDE) que representa operadores de transporte e motoristas, emitiu uma nota em agosto ondeafirmou que a principal questão dos cancelamentos de serviços tem a ver com questões de rentabilidade.
“A distância e o tempo de recolha para a realização da viagem, comparativamente ao valor da viagem cobrada ao cliente, geram na maioria das viagens um custo acrescido de operação, suportado pelo motorista/parceiro”, quando “este acréscimo de custo de recolha deveria ser suportado pela plataforma ou cliente”, defendeu a ANM-TVDE.
“Como não há rentabilidade na viagem”, isso provoca “o cancelamento da mesma”. “Se a recolha acima de xis quilómetros começar a ser remunerada, o motivo dos cancelamentos reduzirá drasticamente”, explicou a organização.
O motorista apenas tem acesso ao valor da viagem depois de a aceitar, revelou a ANM-TVDE. Só nesse momento é que “consegue analisar os custos”.
Há vários casos em que o motorista de TVDE, para não cancelar a viagem devido aos impactos negativos que tem junto da plataforma, opta por não se deslocar, mantendo o cliente à espera até que este se canse de aguardar e tenha a iniciativa de cancelar.
A lei que regula o setor entrou em vigor no final de 2018 e está prestes a sofrer alterações. A AMT já defendeu, entre outros aspetos, que deve ser “expressamente consagrada a obrigação de alocação da viagem” ao veículo/motorista de TVDE “geograficamente mais próximo do utilizador”.
O atual modelo de preço mais baixo, segundo a AMT, pode fazer os passageiros esperar mais tempo, conectando-o com um motorista mais longe, e implicar “perdas significativas nos rendimentos disponíveis dos parceiros das plataformas”.