Forma de produção do queijo não é alterada há 400 anos. Governo quer que o queijo ganhe nova qualificação mundial e vai candidatá-lo a património imaterial da UNESCO.
O governo dos Açores vai iniciar o processo de candidatura do queijo de São Jorge DOP (Denominação de Origem Protegida) a Património Imaterial Mundial da UNESCO, para valorizar o produto, disse o secretário Regional da Agricultura nesta quinta-feira.
Segundo António Ventura, a intenção justifica-se porque o executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) considera que o queijo São Jorge DOP “é um queijo que tem que ganhar uma nova qualificação mundial”.
“Tendo em conta aquilo que é uma agricultura genuína em São Jorge, porque não há alteração do método de produção [do queijo], no modo como se obtém o leite e no modo como se transforma o leite — é, de facto, uma especificidade que tem 400 anos —, interessa que passe acima de DOP, tenha uma qualificação, um atributo, que o reconheça, novamente, a nível mundial”, justificou.
O secretário Regional da Agricultura, que falava aos jornalistas nesta quinta-feira, à margem da visita estatutária do executivo regional a São Jorge, referiu que, pelas razões referidas, o executivo açoriano irá “avançar com uma candidatura do queijo São Jorge DOP para Património Imaterial Mundial da UNESCO”. “Isto [a candidatura] irá potenciar um dos bilhetes de identidade dos Açores e irá potenciar os nossos agroalimentos”, vincou.
O titular da pasta da agricultura açoriana explicou que a candidatura a submeter à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) abrange “o saber fazer” relacionado com todo o processo de fabrico do queijo de São Jorge, “em que não há alteração desde a sua origem, desde os povoadores, até agora”. Na sua opinião, o queijo de São Jorge “posiciona-se muito bem para que o seu processo de saber fazer tenha este galardão”.
O governo dos Açores vai criar uma comissão técnica que irá preparar a candidatura, um processo que “poderá demorar de um ano a dois anos“. António Ventura explicou que será aproveitado o historial do queijo, que já foi construído no âmbito da candidatura DOP. A candidatura envolverá o governo Regional, as autarquias, os produtores e a Federação Agrícola dos Açores.
Se a iniciativa for bem sucedida, o governante vaticina que trará “uma nova afirmação” do queijo São Jorge no mercado e uma “nova sensibilidade” para o consumidor, dado que o produto “é único” e tem “uma história e um saber fazer”.
Existem atualmente 210 produtores de leite em São Jorge. A produção de leite tem diminuído nos últimos anos, por isso, António Ventura admite que a eventual classificação mundial do queijo DOP poderá “trazer um novo impulso para a produção de leite” na ilha. O queijo São Jorge DOP é um produto tradicional e muito apreciado, obtido a partir de leite de vaca cru.
O início da produção do queijo São Jorge DOP remonta ao século XV e ao início do povoamento da ilha. O seu fabrico foi incentivado pela comunidade flamenga, experientes produtores de bens alimentares como a carne, o leite e os seus derivados.
Produzido exclusivamente na ilha de São Jorge desde que esta foi descoberta (século XV), deve a sua especificidade às características dos pastos abundantes nas zonas de média e elevada altitude, “além da perícia e dos saberes dos queijeiros jorgenses”.