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Quase toda a gente está a ter menos filhos. Não é só uma questão de dinheiro

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Milhões de pessoas em todo o mundo não conseguem ter o número de filhos que desejam. As restrições financeiras, a falta de cuidados de saúde de qualidade e a desigualdade de género são alguns dos obstáculos às escolhas reprodutivas, de acordo com um relatório da ONU.

O Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) divulgou na terça-feira o um relatório sobre o estado da população mundial, que alerta para o facto de estar a ser negada a um número crescente de pessoas a liberdade de constituir família devido ao elevado custo de vida, às guerras e à falta de parceiros adequados, e não porque rejeitem a paternidade.

Cerca de 40% dos inquiridos citaram as barreiras económicas, os custos de educação dos filhos, a insegurança no emprego e o elevado custo da habitação, como sendo a principal razão para terem menos filhos do que gostariam.

As taxas de fertilidade caíram para menos de 2,1 nascimentos por mulher, o limiar necessário para a estabilidade da população sem imigração, em mais de metade dos países que participaram no inquérito.

“Tentámos seleccionar países que representassem uma grande variedade de contextos culturais, taxas de fertilidade e abordagens políticas”, diz a editora do relatório, Rebecca Zerzan, citada pela Al Jazeera.

O estudo inclui a Coreia do Sul, que tem a taxa de fertilidade mais baixa do mundo, e a Nigéria, que tem uma das taxas de natalidade mais elevadas do mundo.

Os outros países incluídos, por ordem de dimensão da população, são a Índia, os EUA, a Indonésia, o Brasil, o México, a Alemanha, a Tailândia, a África do Sul, a Itália, Marrocos, a Suécia e a Hungria.

O inquérito é um projeto-piloto para a investigação em 50 países no final deste ano. No que diz respeito aos grupos etários de cada um dos países, as amostras do inquérito inicial são demasiado pequenas para se poderem tirar conclusões.

Principais conclusões

De acordo com o relatório do UNFPA, 39% das pessoas afirmaram que as limitações financeiras as impediam de ter um filho. A insegurança no emprego e o medo do futuro, desde alterações climáticas à guerra, foram citados por 21% e 19% dos inquiridos, como razões para evitar a reprodução.

Por outro lado, 13% das mulheres e 8% dos homens apontaram a divisão desigual do trabalho doméstico como um fator para ter menos filhos do que o desejado.

Apenas 12% das pessoas referiram a infertilidade ou a dificuldade em conceber para não terem o número de filhos que desejavam. Este valor era mais elevado em países como a Tailândia (19%), os EUA (16%) e a África do Sul (15%).

Para Natalia Kanem, diretora executiva do UNFPA, uma conclusão universal do relatório é que “as taxas de fertilidade estão a diminuir em grande parte porque muitos se sentem incapazes de criar as famílias que desejam”.

Na Coreia do Sul, três em cada cinco inquiridos referiram as limitações financeiras como um obstáculo para ter filhos.

Na Suécia, onde tanto os homens como as mulheres têm direito a 480 dias de licença parental remunerada por cada filho, que também pode ser transferida para os avós, essa percentagem foi de apenas 19%. As taxas de natalidade na Suécia estão entre as mais baixas do mundo.

As mortes ultrapassarem os nascimentos é normalmente uma indicação de que as taxas de fertilidade estão a diminuir. “Atualmente, isso não é verdade a nível mundial, mas é verdade para muitos países em todo o mundo”, afirmou Wisniowski.

“Alguns governos estão a ter de lidar com a realidade da queda das taxas de natalidade e com a reação contra a imigração. É evidente que os imigrantes podem preencher as lacunas do mercado de trabalho e há provas de que contribuem para o crescimento económico”, diz Wisniowski .

A resposta das Nações Unidas, por sua parte, é estimular os governos a alargarem as escolhas, eliminando assim as barreiras à maternidade identificadas pelas suas populações.

As ações recomendadas incluem tornar a parentalidade mais acessível através de investimentos em habitação, trabalho digno, licença parental remunerada e acesso a serviços completos de saúde reprodutiva.

“As recomendações são todas positivas. Elas permitem que as pessoas tentem realizar as suas aspirações relacionadas com a família. Mas estas políticas abrangentes terão um custo“, afirma Wisniowski.

Há anos que os economistas alertam para o facto de a queda da fertilidade representar uma ameaça à prosperidade futura, porque aumenta as pressões fiscais devido ao envelhecimento da população.

“Os governos podem ter que cobrar mais impostos aos trabalhadores ou contrair mais dívida para fazer face à realidade de menos jovens, mas a fertilidade não é algo que se possa alterar facilmente. Estamos a enfrentar uma incerteza”, observou Wisniowski.

José Costa, ZAP //

3 Comments

  1. A questão da natalidade não é política, nem económica, é uma questão cultural. Povos de culturas diferentes têm regimes demográficos diferentes.

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