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O Big Bang mudou o tempo para sempre? Sim. Mas houve um tempo antes desse? E se o tempo não existir? Há quem acredite que está tudo na nossa cabeça.
Perguntar “O tempo começou?” é mais como perguntar se o universo dos acontecimentos é infinito, do que perguntar diretamente sobre o início de algo chamado “tempo”, diz o filósofo Adrian Bardon à New Scientist.
As equações fundamentais que determinam o comportamento microscópico têm exatamente a mesma forma se o tempo tiver um sinal negativo. Aliás, na física quântica, a “direção” para onde corre o tempo é irrelevante.
Se estas leis não se importam se as coisas correm para a frente ou para trás, porque é que o tempo passa apenas numa direção? É com isto em mente que alguns filósofos acreditam que o tempo é apenas uma conceção que criámos.
“Compare-o com as propriedades visuais da cor”, explica Bardon. “As rosas não são vermelhas. Pelo contrário, refletem a luz num determinado comprimento de onda. O vermelho é um sentimento, não uma propriedade da rosa”.
Se o tempo for uma ideia, e não um conceito exato e real, então o tempo pode só ter começado com o surgimento da consciência.
Mas o físicos voltam-se para outros tempos, bem mais antigos, para tentar perceber a origem do tempo.
A teoria geral da relatividade de Albert Einstein, basilar para todos os físicos, diz que o pano de fundo do universo é um continuum fluido, o espaço-tempo, em que nem o espaço nem o tempo têm um significado absoluto. No Big Bang, o espaço-tempo distorce-se num ponto de densidade infinita chamado singularidade.
Mas há mesmo físicos que acreditam que existiu um “antes do Big Bang” — terá existido um Universo anterior? O cosmólogo Roger Penrose chega mesmo a propor que novos universos podem emergir de universos que não se contraem, através de um dramático “redimensionamento” de todo o espaço-tempo.
Stephen Hawking e James Hartle sugeriram que o tempo já foi uma dimensão comum como o espaço, que se transformou no espaço-tempo com o Big Bang.
Outra ideia já proposta, mais bizarra, é a de que o espaço-tempo é feito de partículas. Se assim for, estas poderiam estar dispostas em diferentes fases, como o vapor e a água líquida.
Já o físico teórico Shahn Majid, posiciona-se um pouco entre os filósofos, que tendem a achar que o tempo pode ser uma conceção, e os físicos, que procuram a sua origem afincadamente: o tempo existe naturalmente em muitos estados possíveis ao mesmo tempo, mas só é visível para um observador num único estado, uma espécie de “gato de Schrödinger“.
E deixa ainda um outro desafio: “Se o próprio tempo é mecânico quântico, de quem é o tempo?”
Perguntar “O tempo começou? É um dos limites do pensamento humano.
Tal como existem limites para o que um cão, um gato, um peixe ou insecto é capaz de compreender, também nós não temos uma capacidade ilimitada. Isto não deve servir para nos diminuir ou acreditar em fantasias, isto deve ser um estímulo para ultrapassar a infantilidade das crenças promovidas por charlatães e fracos de espírito, e de uma forma adulta e sistemática avançar no terreno difícil do inexplorado.
Alguma vez conseguiremos responder se o tempo teve um início?
Provavelmente não, se como resposta for procurada uma definição final, embora ela exista duma forma incognoscível. Provavelmente sim, se não desperdiçarmos as nossas capacidades e cumprirmos os nossos designios individuais e colectivos fazendo o caminho que o nosso potencial permitir.
Talvez quando o homem começou a pensar! arranjou ‘tempo’ para pensar…