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O Qatar tem a Alemanha na mão — e os alemães nem sonham

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State of Qatar

Robert Habeck com o ministro do Comércio do Qatar.

O Qatar tem construído uma reputação e teia de influências na Alemanha através do mercado de ações. Várias empresas germânicas de relevo têm dedo qatari.

Uma investigação sobre o alegado lóbi ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas em Estrasburgo expôs uma densa teia de influências do governo qatari. A vice-presidente do Parlamento Europeu, a socialista grega Eva Kaili, foi apanhada naquele que ficou conhecido como Qatargate.

As preocupações em torno da organização do Mundial 2022 não eram recentes. No último verão, com o torneio a aproximar-se e o coro de críticas a intensificar-se, o responsável máximo pela organização da competição, Hassan Al Thawadi, fez uma visita à Alemanha.

O emirado tinha anteriormente investido cerca de 25 mil milhões de euros no país, um dos maiores investimentos de sempre do Qatar. No entanto, a preocupação com os direitos humanos estava a abafar a boa reputação que o estado do Golfo tentou construir ao longo da última década.

A visita de Al Thawadi foi uma oportunidade para tentar desarmar os críticos e mobilizar alguns dos reforços alemães mais proeminentes do país, escreve o site Politico.

Al Thawadi esteve no estádio do Bayern a conversar com a direção do clube, acompanhado também por Sigmar Gabriel, ex-vice-chanceler e ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, e Christoph Heusgen, antigo conselheiro de segurança nacional da ex-chanceler Angela Merkel e antigo embaixador da Alemanha na ONU.

“O Qatar é um dos poucos lugares estáveis no mundo extremamente frágil em que vivemos onde as negociações ainda podem ocorrer”, disse Gabriel perante o encontro com o enviado qatari. Heusgen concordou e disse que o Qatar era um “modelo” para outros países.

O Qatar está sob intenso escrutínio devido às acusações de compra de favores políticos em Bruxelas com malas cheias de dinheiro. Na Alemanha, segundo o Politico, a via de influência preferida tem sido mais transparente: o mercado de ações.

Num passado recente, a Autoridade de Investimento do Qatar apostou fortemente em posições nalgumas das maiores empresas alemãs. Exemplos disto são os 11% de participação na Volkswagen e 6% no Deutsche Bank. Recentemente, o Qatar também comprou 5% da Porsche — tornando o emirado um dos maiores acionistas da luxuosa fabricante automóvel.

O Qatar também está entre os maiores clientes da indústria de Defesa da Alemanha. Um dos principais veículos da operação de influência alemã do Qatar tem sido a Conferência de Segurança de Munique (MSC), de acordo com a mesma fonte.

Além disso, com as sanções à Rússia por conta da guerra na Ucrânia, o Qatar tornou-se um importante fornecedor de energia.

Na Alemanha, as principais compras do Qatar incluem ainda participações na gigante marítima Hapag-Lloyd e na concessionária de energia RWE.

Mesmo não sendo os investimentos mais lucrativos, o tipo de retorno conseguido é outro. A participação do Qatar na economia alemã ajudou o país a fazer amigos nos mais altos corredores do poder germânico, escreve o Politico.

Um dos seus aliados é precisamente Sigmar Gabriel. Como ministro da Economia entre 2013 e 2017, cultivou laços com o Qatar. Em 2020, o ex-governante ingressou o conselho de supervisão do Deutsche Bank a pedido do Qatar.

Em outubro do ano passado, o ex-ministro até publicou um tweet em que critica “a arrogância alemã em relação ao Qatar”.

“A homossexualidade era uma ofensa punível na Alemanha até 1994. A minha mãe ainda precisava da permissão do marido para trabalhar. Tratávamos mal os ‘trabalhadores migrantes’ e era alojados miseravelmente”, lê-se na publicação.

“Acho que ele tem razão quando critica uma certa atitude de ‘sou mais santo do que tu'”, disse Joschka Fischer, um dos predecessores de Gabriel como vice-chanceler e ministro dos Negócios Estrangeiros.

“O Qatar, ao que parece, tem a Alemanha exatamente onde a quer”, conclui a reportagem do Politico.

ZAP //

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