QAnon acusa Costa de “instaurar ditadura de extrema-esquerda” em Portugal

José Sena Goulão / EPA

Os portugueses apoiantes do QAnon nos Estados Unidos adaptaram o “universo conspirativo” do movimento à realidade portuguesa para acusar o Governo do PS de “instaurar uma ditadura de extrema-esquerda no país”, segundo um relatório divulgado esta terça-feira.

O movimento de teóricos da conspiração QAnon, inspirado por um anónimo do Governo norte-americano, que assina “Q”, garante que o ex-presidente Donald Trump é o protetor da sociedade americana contra judeus e pedófilos e associa os democratas ao tráfico de crianças, canibalismo e rituais satânicos.

De acordo com a revista Sábado e o semanário Expresso, em 2020 havia pelo menos 250 portugueses identificados nas redes sociais e que difundem as mensagens racistas e de ódio deste grupo associado à extrema-direita.

Em Portugal, lê-se no relatório “Estado de ódio – o extremismo de direita na Europa”, “tem havido uma mobilização significativa de extrema-direita nas redes sociais, propagando teorias da conspiração, propaganda e notícias falsas sobre a crise pandémica de covid-19”.

“O universo da conspiração foi adaptado à realidade portuguesa: o governo do Partido Socialista é acusado de instaurar uma ditadura de extrema-esquerda no país, Bill Gates é o responsável pela pandemia, a rede 5G está relacionada com o coronavírus e as vacinas são falsas e produto de uma conspiração global”, assinala o texto.

A parte portuguesa deste relatório, que retrata a situação em vários países europeus, é da autoria de dois jornalistas que se dedicam ao estudo da extrema-direita, Ricardo Cabral Fernandes e Filipe Teles, que descrevem a relação dos apoiantes portugueses ao movimento.

“Há pelo menos 250 elementos de extrema-direita portugueses bem inseridos nas redes sociais negacionistas, com o centro do movimento na Alemanha e em França, coordenando as suas manifestações em Lisboa que decorrem nos mesmos dias que decorrem outras em Berlim e Paris, geralmente aos fins-de-semana”.

O relatório anual de segurança interna de 2019, publicado em 2020, alertou que, “em Portugal, a extrema-direita tem vindo a reorganizar-se, reciclando discurso, formando novas organizações e recrutando elementos junto de determinadas franjas sociais a que normalmente não acediam num passado não muito distante”.

Em Portugal, são identificados seis grupos ligados à extrema-direita. O Chega é identificado como populista radical de direita, o Ergue-te (ex-PNR) de extrema-direita, os grupos Escudo Indentitário e Associação Portugueses Primeiro são considerados identitários, Hammer Skin neo-nazis e o Movimento Zero, movimento não orgânico nas polícias, é definido como populistas de extrema-direita.

Assinala-se ainda a criação de novos grupos como a Resistência Nacional, “responsável por uma concentração em frente à sede do SOS Racismo”, em que os manifestantes envergaram máscaras e usaram tochas, e o movimento Defender Portugal.

O Chega, segundo o relatório, fez elevar as “narrativas-chave” de extrema-direita “a níveis nunca vistos na política” portuguesa desde o fim do Estado Novo, dando como exemplo que 15% dos delegados ao último congresso votaram a favor de uma resolução que propunha que fossem retirados os ovários às mulheres que praticassem aborto.

Nos Estados Unidos, depois da tomada de posse de Joe Biden, a frustração começou a infiltrar-se entre os apoiantes do QAnon, pois acreditavam que a Presidência de Donald Trump ia levar o país à chamada “Tempestade”, ou “Grande Despertar”.

ZAP // Lusa

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