O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, estará a tentar inverter aquilo que, durante um discurso do Estado da nação em 2005, classificou como “a maior catástrofe geopolítica do século”, que foi a queda da União Soviética.
“Eu queria uma coisa diferente no lugar da URSS. E não se propôs nada. Isso doeu. Simplesmente deixaram tudo desmoronar-se e foram-se embora”, escreveu Putin num artigo escrito em 1999, antes de chegar ao poder, citado esta sexta-feira pelo Público, que reúne informações de diferentes fontes sobre o tema.
No mesmo artigo citado pelo jornal diário, alertava para o risco de a Rússia se transformar numa nação de segunda, um ator de menor importância na geopolítica mundial e a necessidade imperiosa de evitar que isso acontecesse.
O jornal refere também uma entrevista recente com o historiador Orlando Figes, onde este afirmou que no discurso de 2005, Putin mencionava que “muitos cidadãos russos – ou falantes de russo – foram deixados for das fronteiras da Rússia”. Uma parte do “mundo russo”, dessa “espécie de civilização mais ampla, que inclui os falantes de russo da Ucrânia”.
No seu ensaio de julho de 2021, também citado pelo diário, Putin explicava a unidade histórica entre a Rússia e a Ucrânia de uma forma que “é, essencialmente, a versão do imperialismo russo do século XIX, de um Estado com origem no Rus de Kiev do primeiro milénio”, indicou Figes.
No seu discurso de 21 de fevereiro, três dias antes da invasão, Putin declarou que a Ucrânia moderna é uma criação bolchevique, da revolução russa. “O processo começou quase imediatamente a seguir à revolução de 1917, e Lenine e os seus parceiros fizeram-no de uma forma bastante rude em relação à própria Rússia – separando-a, arrancando-lhe parte dos seus próprios territórios históricos”.
Uma sondagem de 2021, quando se assinalaram os 30 anos da dissolução da União Soviética, revelou que 62% dos russos lamentavam a dissolução da URSS, uma percentagem que subia até 76% nos maiores de 60 anos. E 52% desejava a restauração da União Soviética, embora 74% considerasse a tarefa impossível.
Na citada entrevista, Figes indicou que Putin “faz parte de um sistema que está enraizado no poder de alguns ministérios e dos serviços de segurança do Estado”, um sistema “que quer que a Rússia regresse a uma forma de totalitarismo” e o Presidente russo surge como “o representante desses objetivos ideológicos”.
Yan Rachinsky, presidente da Memorial, a organização de direitos humanos russa que recebeu este ano o prémio Nobel da Paz, garantia a semana passada, em entrevista ao Fanpage.it, que na Rússia “o número de prisioneiros já é hoje igual ao da era soviética” e que “o legado estalinista faz parte do regime de Putin”.
Uma grande catástrofe é esse grandessíssimo fabricante de trens de cozinha chamado Putin.
Putin sabe, e já o disse, que reconstituir a União Soviética não só não é possível como não seria desejável. O que não significa que a Rússia não defenda os russos que ficaram fora das fronteiras da Rússia e não defenda os seus interesses legítimos. Como fazem todos os países.