PS pode viabilizar Governo do PSD para travar Chega: “não será por mim que chegam ao poder”

José Sena Goulão / LUSA

José Luís Carneiro, atual ministro da Administração Interna e candidato à liderança do Partido Socialista (PS)

Tudo contra o Chega: candidato reforçou vertente “centrista” e admitiu que consigo, o Partido Socialista (PS) até pode viabilizar um Governo do Partido Social Democrata (PSD) só para impedir que André Ventura governe Portugal. Pedro Nuno Santos avança com a candidatura esta segunda-feira.

José Luís Carneiro, o primeiro a anunciar a sua candidatura à liderança do PS na sequência do pedido de demissão do primeiro-ministro, António Costa, viabilizaria um Governo da oposição do PSD se tal significasse impedir a chegada do partido Chega ao poder.

“Posso dizer o seguinte: não será por mim que o Chega chega ao poder no nosso país“, garantiu, em entrevista à TVI este domingo.

O candidato à sucessão de António Costa admitiu mesmo que, se necessário, aceitaria viabilizar um Governo minoritário do PSD para travar Ventura — uma moderação em relação ao “rival” PSD que promete demarcar o “centrista” na luta pela liderança dos socialistas.

Moderação e equidistância entre os dois lados

Carneiro aproveitou ainda para se demarcar do deputado e ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que apresenta esta segunda-feira a sua candidatura à sucessão de Costa.

O atual ministro da Administração Interna começou por deixar claro que não vai abandonar a posição mais ao centro do PS, confessando um eventual afastamento do partido caso venha a assumir um alinhamento mais à esquerda — como se espera de Pedro Nuno Santos caso venha a vencer as eleições, agendadas para 10 de março de 2024.

Porquê? PS não está nem à direita nem à esquerda e as guerras dificultam acordos à esquerda.

“Como é que, num quadro internacional tão exigente, com duas guerras, uma na Europa e outra no Médio Oriente, se pode partir para uma candidatura com o pressuposto de uma aliança à esquerda, na medida em que é conhecida a posição dos partidos à esquerda do PS em relação aos nossos deveres com a Aliança Atlântica e a UE?”, explicou, segundo o Diário de Notícias.

“Esta candidatura representa uma autonomia que o PS não pode perder. É essa autonomia que permite ao PS não apenas dialogar com o centro-direita, mas também com a esquerda”, reforçou.

PNS avança com candidatura à liderança do PS

Pedro Nuno Santos apresenta esta segunda-feira a sua candidatura ao cargo de secretário-geral do PS, pelas 18:00, na sede nacional do partido, em Lisboa.

O antigo ministro das Infraestruturas e Habitação e ex-secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares tem sido apontado nos últimos anos como um dos prováveis sucessores de António Costa no cargo de secretário-geral do PS, posicionando-se na ala esquerda do partido.

Em julho, Pedro Nuno Santos regressou à Assembleia da República para assumir o lugar de Carneiro pelo círculo de Aveiro na bancada socialista, seis meses depois de se ter demitido do Governo para “assumir a responsabilidade política” do caso da indemnização de 500 mil euros paga pela TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis para deixar a companhia aérea.

Além deste caso, o ex-ministro esteve diretamente envolvido noutra polémica quando, em junho do ano passado, publicou uma portaria sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa sem conhecimento prévio do primeiro-ministro e em contradição direta com a garantia por este deixada de que a escolha por parte do Estado seria feita através de um processo consensualizado com o PSD.

Licenciado em Economia, Pedro Nuno Santos foi secretário-geral da Juventude Socialista (JS) entre 2004 e 2008, sob a liderança de José Sócrates no PS, é deputado desde 2005, e foi apoiante e depois opositor do ex-líder António José Seguro.

Foi também secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares logo no primeiro Governo de António Costa, a denominada “geringonça“, período em que um Executivo minoritário do PS contou com uma solução inédita de suporte parlamentar de PCP, BE e PEV, entre 2015 e 2021.

Pedro Nuno Santos começou a posicionar-se como potencial candidato à sucessão de António Costa há cinco anos, no congresso de 2018.

“Chegou o tempo dos moderados”

O dirigente socialista Álvaro Beleza considerou hoje que “chegou o tempo dos moderados”, defendendo que Portugal “precisa de um PS moderado, responsável e patriota”.

Questionado pela agência Lusa sobre se estaria inclinado para apoiar algum dos candidatos à liderança do PS já anunciados (José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos), Álvaro Beleza disse que irá tomar uma posição, mas “na altura certa”, considerando que o dia de hoje não é o tempo para isso.

“Acho que chegou o tempo dos moderados. Acho que é preciso moderação, mas não é só no PS, é no país. Portugal precisa de um PS moderado, responsável e patriota, e precisa de um PSD, que é outro partido fundador da nossa democracia, também moderado e reformista”, salientou.

Para o também presidente da Sedes — Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, “é preciso cavalheirismo” e “adultos na sala”, já que os portugueses “precisam disso”.

Carneiro um “político de mão cheia”, PNS “corajoso”

Questionado sobre os candidatos já anunciados à liderança do partido, o socialista considerou que “José Luís Carneiro é um excelente ministro, um político de mão cheia, foi um grande presidente da Câmara, é um homem sério, inteligente e preparado”, e que Pedro Nuno Santos “também é um jovem com muito talento, carismático, corajoso”.

“O PS tem gente muito qualificada, felizmente”, notou, na expectativa de que o partido consiga fazer uma reflexão profunda sobre o que se tem passado nos últimos anos, acreditando que tem “chance de ganhar as próximas eleições”.

Álvaro Beleza defendeu que o PS possa apresentar-se nas próximas eleições como um partido reformista, propondo, entre outras, uma reforma da justiça, para que possa ser mais célere.

As eleições diretas para a sucessão de António Costa no PS estão marcadas para 15 e 16 de dezembro — em simultâneo com a eleição de delegados — e o congresso está previsto para 6 e 7 de janeiro.

Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, no passado dia 7 de novembro.

ZAP // Lusa

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