Imagine saborear comida num videojogo. Já é possível, mas o morango explica porque é que o sabor não é tudo na perceção do gosto dos alimentos.
A realidade virtual (RV) já permite provar sabores: só precisa de uma “língua eletrónica”.
Um novo sistema, e-Taste, é capaz de detetar e replicar os cinco sabores fundamentais: salgado, azedo, doce, amargo e umami, segundo um estudo publicado a 28 de fevereiro na Science Advances. Estes sabores estão ligados a substâncias químicas específicas — cloreto de sódio para o salgado, ácido cítrico para o azedo, glucose para o doce, cloreto de magnésio para o amargo e glutamato para o umami.
Com sensores, usados para medir os níveis destes químicos nos alimentos, esta língua converte os dados em sinais digitais, que são depois enviados para uma bomba que liberta quantidades controladas de hidrogéis cheios de sabor para um tubo colocado debaixo da língua do utilizador. E é assim que pode provar alimentos… sem os provar (tecnicamente).
O sistema desenvolvido por Yizhen Jia, juntamente com a sua equipa da Universidade de Ohio, foi testado primeiro com sabores mais simples, como o azedo. O azedume gerado pela língua eletrónica correspondeu ao azedume real em 70% das vezes, relataram os participantes no estudo.
Mais tarde, limonada, bolo, ovos estrelados, sopa de peixe e café foram identificados corretamente em mais de 80% das provas.
As aplicações possíveis do novo aparelho incluem “jogos, compras online, educação à distância, gestão de peso, testes sensoriais, reabilitação física e outras”, escrevem os investigadores.
Apesar de fascinante, o gosto é influenciado por mais do que só o sabor, explicam os especialistas. A nova tecnologia não tem em conta o aroma, que desempenha um papel fundamental na perceção do sabor dos alimentos.
“Da próxima vez que comer um morango, feche o nariz e os olhos. Um morango é muito azedo, mas é percepcionado como doce devido ao seu aroma e à cor vermelha. Por isso, se enviar apenas azedo com o seu dispositivo, nunca saberá que é de facto de um morango”, explica Alan Chalmers da Universidade de Warwick, ao New Scientist: “uma língua eletrónica como esta é capaz de extrair a quantidade de doçura [e] acidez, mas não o sabor como uma língua humana o percebe”.