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A procura incessante por areia está a alimentar uma crise mundial

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A escassez de areia pode vir a tornar-se uma realidade e poucos são os que estão atentos a esta problema. Nem este mercado escapa à mão do crime organizado.

Juntamente com a água, a areia é o nosso recurso natural mais consumido. A procura global por areia e cascalho fica entre 40 e 50 mil milhões de toneladas por ano, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e a sua escassez é uma crise global emergente.

O mundo pode ficar sem areia se não começarmos a tratá-la como um recurso que precisa de investigação, gestão e governação.

A demanda por areia só deve aumentar. Também é necessária areia para fabricar frascos de vidro para fins médicos, usados para conter vacinas. A indústria já enfrentava escassez antes de os investigadores começarem a desenvolver uma vacina contra o coronavírus. E conflitos sobre areia estão a surgir na Flórida e em outras áreas aparentemente ricas neste recurso.

Mas a urbanização e a sua necessidade de cimento, asfalto e vidro estão a alimentar ainda mais a exploração de areia. A população urbana mundial, que deverá crescer de 4,4 mil milhões para 5,2 mil milhões até 2030, sustentará o boom global da construção, onde a areia é o principal ingrediente do betão.

À medida que o mercado de areia cresce, empreendedores, crime organizado e outros grupos emergem para lucrar, geralmente usando mão-de-obra barata e promovendo a destruição generalizada de habitats e a erosão costeira.

Economias violentas, trabalho precário

As condições de trabalho para os mineiros de areia variam bastante. No Camboja e no sudoeste da China, as minas de areia altamente mecanizadas oferecem pouco emprego local. No Nepal, minas de areia com uso intenso de mão-de-obra podem empregar centenas de pessoas. E, em Mianmar, as famílias que vivem ao longo dos rios podem estar envolvidas na recolha informal de areia nos rios.

A mineração de areia pode ser perigosa. Os mineiros podem afogar-se enquanto recolhem areia à mão debaixo de água, e centenas de mineiros, ativistas, jornalistas, policias, membros do Governo e outros foram mortos em confrontos por areia.

Um conjunto diversificado de atores, incluindo o crime organizado, está envolvido na indústria de mineração de areia. Estruturas locais como a máfia – na Índia e provavelmente em pelo menos 70 países – controlam minas e distritos inteiros de areia.

Sabemos que estes sítios são caracterizados por violência, sigilo e falta de confiança, mas a economia sombria da areia permanece amplamente desconhecida. Isto limita o nosso entendimento dos fluxos financeiros que alimentam a mineração de areia, as barreiras à regulamentação comercial e à governação da areia e os aspetos criminais das suas operações.

Emissões de carbono e perda de terra

A extração ilegal ou insustentável de areia dos ecossistemas marinhos, costeiros e de água doce levou a sérios desafios de sustentabilidade, incluindo emissões de carbono e perda de terra.

Singapura importou 80,2 milhões de toneladas de areia do Camboja entre 2007 e 2016, representando um terço das importações de areia da cidade-estado. No entanto, a maior parte deste comércio está ausente nos registos comerciais oficiais do Camboja, que registou apenas 2,77 milhões de toneladas de exportações de areia para Singapura, disfarçando a importância desta mercadoria para o desenvolvimento do país.

As demandas de infraestrutura para habitação e desenvolvimento alimentam o setor do betão, que agora contribui com 8% das emissões globais de dióxido de carbono. Isto significa que a areia, por meio do betão, está associada ao futuro do clima.

Um importante ponto de partida para mobilizar uma agenda de areia é o relatório de governação de areia do PNUMA de 2019, com foco na responsabilidade e transparência nas cadeias de valor da areia.

Mudar a forma como construímos as nossas cidades é outra parte de como enfrentamos as crises de areia e clima. Se não mudarmos os nossos hábitos e incentivarmos o desenvolvimento de “betão verde” e materiais de construção alternativos ou inovações, o mundo construído a partir da areia pode ser derrubado pelo seu próprio peso.

9 Comments

  1. “A população urbana mundial, que deverá crescer de 4,4 mil milhões para 5,2 mil milhões até 2030” COMO????
    Então já somos mais de 7.7 mil milhões, como é que em 2030 só seremos 5.2 mil milhões??? Haaaa, vai ser o corona que vai limpar o sebo a muitas é???
    Ler um pouco antes de publicar caca, era bom não sR. jornalixo?

    • Caro leitor,
      É do mais elementar bom senso, quando se recorre ao insulto para se fazer uma crítica, ter pelo menos a certeza de que temos razão.
      A atual população humana é de 7,7 mil milhões de pessoas. Nem todas vivem em áreas urbanas – essas serão aparentemente 4,4 milhões.
      Sugerimos-lhe assim que siga o conselho que nos deu.

  2. Matéria muito interessante.
    Na visão de vocês, que empresa ou qual país está mais avançado com o desenvolvimento do betão verde?
    Vocês teriam um comparativo de custo por m3 entre o betão verde e o convencional?
    Grande Abraço

  3. O problema parece não estar no consumo exagerado de areia mas sim no aumento da população humana que deveria ter um controlo de natalidade através de métodos contraceptivos, se continuarem a não querer entender que o ser humano ultrapassa já os limites do razoável para uma vida estável entre seres vivos e natureza, então talvez pior que o vírus actual, será o terminarem por se comer uns aos outros.

  4. Obrigado, ZAP, por ter trazido este assunto, muito útil para o trabalho que estou a desenvolver, bem como ter-me dado a conhecer o site “The Conversation”.

    Ahhh, e excelente resposta dada acima.

  5. Era bom que os “comentários lixo” não chegassem até nós porque, para um ser humano,que se preze, é degradante ser obrigado a lê-los desconhecendo o seu conteúdo. Arrependi-me muito de ter perdido o meu precioso tempo a ler tais impropérios. Parabéns pela adequadíssima resposta.

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