As primeiras estrelas começaram a iluminar o Universo 180 milhões de anos depois do Big Bang, um período que coincide com as primeiras evidências da existência de hidrogénio no Universo detetadas por um grupo de cientistas.
As descobertas foram publicadas esta quarta-feira na revista Nature. Astrónomos do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, captaram com uma antena de rádio do tamanho de uma mesa situada no oeste da Austrália sinais ténues de gás hidrogénio procedentes do Universo originário.
Os cientistas, segundo um comunicado, rastrearam esses sinais até 180 milhões de anos depois do Big Bang, o que os transforma nas primeiras evidências de hidrogénio observadas no Universo.
O gás estava num estado que só teria sido possível nas primeiras estrelas, que surgiram num Universo desprovido de luz e emitiram radiação ultravioleta que interagia com o hidrogénio circundante.
Como resultado, os átomos de hidrogénio por todo o Universo começaram a absorver a radiação de fundo, uma forma de radiação eletromagnética que existe no Cosmos, o que significou uma mudança fundamental que os cientistas puderam detetar em forma de ondas de rádio.
A descoberta proporciona evidências de que as primeiras estrelas teriam começado a brilhar aproximadamente 180 milhões anos depois do Big Bang, acrescentaram os investigadores na nota.
“Este é o primeiro sinal real de que as estrelas estão a começar a formar-se e a afetar o meio que as envolve”, afirmou o coautor do estudo e pesquisador do Observatório Haystack do MIT, Alan Rogers.
O especialista explicou que o que estava a ocorrer naquele período é que parte da radiação das primeiras estrelas estava a começar a permitir que o hidrogénio fosse visto em certas radiofrequências.
Após o Big Bang, o universo era um lugar escuro, onde não havia estrelas nem galáxias, e estava cheio principalmente de gás hidrogénio neutro. Tiveram que passar entre 50 a 100 milhões de anos para que a gravidade começasse a atrair as áreas mais densas de gás até começar a formar estrelas.
Foram necessários 12 anos de pesquisa para detetar os vestígios das primeiras estrelas do Universo, e para isso foram utilizados sinais de rádio.
Esses sinais proporcionaram “a primeira evidência de que os antepassados mais antigos da nossa árvore familiar cósmica nasceram apenas 180 milhões de anos depois do início do Universo”, diz um comunicado da Universidade do Arizona.
Algumas caraterísticas nas ondas de rádio detetadas também sugerem que o gás hidrogénio e o Universo na sua totalidade deveriam ser duas vezes mais frios do que os cientistas estimaram anteriormente, com uma temperatura de aproximadamente -270 graus centígrados.
A equipa de investigadores não tem a certeza dos motivos de o Universo ter sido muito mais frio do que se acreditava nos primórdios, mas alguns cientistas “sugeriram” que a interação da misteriosa matéria escura “pode ter exercido algum papel” nesta circunstância.
Para o diretor do Observatório de Haystack, Colin Lonsdale, esses resultados “exigem algumas mudanças na compreensão atual da evolução do Universo nos seus primórdios”. Assim, Lonsdale considerou que a descoberta pode afetar os modelos cosmológicos e os teóricos terão de voltar a “pensar”.
Esta descoberta foi feita com a utilização de uma antena de rádio do tamanho de uma simples mesa que permitiu “ver mais longe que os mais poderosos telescópios espaciais, abrindo uma nova janela para os primórdios do Universo”, indicou Peter Kurczynski, do National Science Foundation dos Estados Unidos, que colaborou no estudo.
// EFE