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Pela primeira vez, vida foi salva dentro de útero com medicação. Feto tinha a doença das gémeas luso-brasileiras

Pais já tinham perdido um filho para a mesma doença, e por isso concordaram em intervir mais cedo. A criança, hoje com dois anos e meio de idade, não apresenta sinais de atrofia muscular espinal.

Pela primeira vez na história da Medicina, médicos salvaram a vida de um feto ao administrar medicação partir do interior do útero.

O feto sofria de atrofia muscular espinal, a doença congénita de progressão rápida que esteve nas bocas dos portugueses desde novembro de 2023 por afetar duas gémeas brasileiras tratadas em Portugal com o medicamento mais caro do mundo, Zolgensma, num dos casos políticos mais polémicos dos últimos anos.

Neste caso dos Estados Unidos, os médicos recorreram ao risdiplam, comercializado com o nome Evrysdi, para tratar o feto que viria a sofrer com a grave doença neuromuscular, que provoca fraqueza muscular e dificuldades respiratórias nos bebés.

Os pais já tinham perdido um filho para a mesma doença, e ficaram desesperados quando os testes pré-natais revelaram que o novo feto era portador das mesmas mutações genéticas da doença, neste caso, do Tipo 1, tal como era o caso das gémeas luso-brasileiras. Como tal, optaram por arriscar e intervir mais cedo, e a mãe concordou em tomar o risdiplam durante a gravidez, para que o medicamento chegasse ao feto através do cordão umbilical e do líquido amniótico. O medicamento tinha sido aprovado para o tratamento da doença apenas para crianças com dois meses ou mais, mas foi aberta uma exceção para este caso.

O tratamento decorreu diariamente durante seis semanas antes de a mãe dar à luz. Após o nascimento, a bebé continuou a tomar o medicamento oral e, até agora, a criança, hoje com dois anos e meio de idade, não apresenta sinais da doença que leva normalmente à morte nos primeiros dois anos de vida, na maioria dos casos devido a insuficiência respiratória.

A menina “foi tratada eficazmente, sem manifestações da doença” mesmo 30 meses após o nascimento, garantiu à Nature a neurologista pediátrica Michelle Farrar, que trabalha com casos ligados à doença na Austrália.

Os neurologistas pediátricos lembram que a intervenção precoce com tratamentos para a condição melhora muito os resultados:muitas crianças que iniciam o tratamento antes das seis semanas de idade conseguem o que muitas outras nunca chegam a conseguir, como sentar-se, ficar de pé e andar sem ajuda.

O estudo do caso, publicado a 19 de fevereiro no The New England Journal of Medicine, sugere que a administração pré-natal de risdiplam é promissor na prevenção dos efeitos devastadores da doença, quando diagnosticada precocemente. Mas um único caso não pode, para já, ilustrar todos os casos complexos da doença, avisam os médicos.

Tomás Guimarães, ZAP //

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