Neeleman: houve “ingerências e pressões inaceitáveis” do poder político sobre a TAP

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Antigo accionista da TAP publicou avisos num artigo de opinião: “Uma mentira dita muitas vezes não passa a ser verdade”.

“Responderei a todas as perguntas da CPI muito em breve e esclarecerei várias outras questões”.

“Entre as quais (questões) como se desenvolveram as negociações com a Comissão Europeia sobre o apoio do Estado e os erros cometidos, mas também sobre as ingerências e pressões inaceitáveis do poder político sobre a comissão executiva da TAP durante a nossa gestão”.

“Não deixarei que alguns políticos e ex-governantes queiram distrair os portugueses dos graves erros da gestão pública da TAP à custa da minha honra e reputação”.

Estes são os últimos parágrafos do artigo de opinião de David Neeleman no jornal Observador, mas poderiam ser os primeiros.

O antigo accionista da TAP avisa que, quando responder – por escrito – às perguntas dos deputados da comissão parlamentar de inquérito, vai denunciar “ingerências e pressões inaceitáveis do poder político” sobre a comissão executiva da TAP.

O empresário decidiu escrever já este artigo porque, explica, “uma mentira dita muitas vezes não passa a ser verdade”.

Quis reagir a acusações de antigos governantes dobre a sua gestão na empresa de aviação, numa “estratégia clara de esconder os seus erros”.

Assegura que a proposta da Atlantic Gateway para a compra da TAP foi “transparente e explicada em pormenor à Parpública em 2015, antes de a privatização ser concluída e com todo o detalhe que nos era – e bem – exigido”. O Governo de então, PSD e CDS, sabia da proposta e aprovou-a.

Quando alguns membros do Governo do PS dizem que não sabiam do assunto, Neeleman deixa duas hipóteses: “Ou não dizem a verdade, ou nunca consultaram os documentos e as cartas que entregámos à Parpública e ao Governo PSD nem os pareceres dados na altura, hipótese que não deve ser aceitável para nenhum contribuinte e que certamente não é aceitável para mim”.

Revela que a capitalização dos ditos fundos Airbus foram aportados em tranches ao longo de 2016, ou seja, já sob um Governo liderado por António Costa.

Lembra que foram feitas nove avaliações independentes sobre o preço dos aviões e todas disseram que os preços negociados seriam um grande activo para a TAP. Avaliações que agora são “desvalorizadas e até ignoradas”.

Neste contexto, garante que a Airbus só ajudou a TAP e também deixa duas perguntas no ar: se o Governo PS tinha dúvidas sobre os preços dos aviões negociados, “porque nunca perguntaram à própria Airbus se os preços a que vendeu à TAP eram similares a preços de aviões do mesmo modelo praticados a outras companhias aéreas na mesma altura?” e ainda “porque nunca perguntaram às empresas de leasing que financiaram a TAP na compra dos aviões, se tinham financiado activos acima do seu preço de mercado?”.

Lembra que, no processo de capitalização, esta ficou toda na TAP, para ajudar a empresa a cumprir compromissos de tesouraria e a pagar salários – mas os créditos dessa capitalização ficaram para o Estado. E lembra ainda que conseguiu convencer a AZUL – empresa sua – a emprestar 90 milhões de euros (valor que ainda não foi reembolsado) à TAP “quando ninguém financiava a TAP sem garantia do Estado”.

E deixa mais pontos: pagaram “do bolso” 10 milhões de euros pela TAP, o Estado deveria preocupar-se menos com os direitos económicos porque só tinha 5% dos direitos económicos, optaram por não despedir e cortar salários (sabendo que iriam ter lucros se o fizessem) e, entre outros feitos, reduziram em mais de 400 milhões de euros a exposição do Estado e da Parpública à dívida da TAP.

O nosso plano permitiu salvar a TAP em 2015 e nos anos seguintes. Sem a solução da capitalização e o know how de gestão que trouxemos, hoje a TAP possivelmente já não existiria. Ou então, a alternativa teria sido uma reestruturação semelhante à ocorrida com a pandemia e, portanto, à custa dos contribuintes“, finaliza David Neeleman.

ZAP //

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