Presidente mexicano expõe número telefónico de jornalista que o investigou

Alex Cruz / EPA

Andrés Manuel López Obrador, Presidente do México

O Presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador revelou publicamente o número de telefone de um jornalista do New York Times, em contestação a uma investigação que liga a sua equipa ao tráfico de droga.

Na quinta-feira, durante a habitual conferência de imprensa transmitida pela televisão, López Obrador leu as perguntas enviadas pelo jornal, que solicitava uma reação, divulgando o telefone do jornalista.

O jornal New York Times denunciou na rede social X (antigo Twitter) uma “tática preocupante e inaceitável por parte de um líder mundial num momento em que as ameaças contra jornalistas estão a aumentar”.

A investigação publicada na quinta-feira em inglês e espanhol pelo jornal revela que uma investigação das autoridades norte-americanas aponta “possíveis ligações entre poderosos operadores de cartéis e funcionários e assessores” próximos de López Obrador, noticiou a agência France-Presse (AFP).

O artigo afirma que alguém próximo do Presidente conheceu Ismael Zambada, um dos líderes do Cartel de Sinaloa, antes da vitória eleitoral de López Obrador em 2018.

“Os Estados Unidos nunca abriram uma investigação formal contra López Obrador e os responsáveis pela investigação arquivaram-na”, detalhou o New York Times.

O Presidente mexicano instou a administração norte-americana liderada pelo democrata Joe Biden a dar explicações.

No final de janeiro, Tim Golden, duas vezes vencedor do Prémio Pulitzer, publicou uma investigação no meio de comunicação online ProPublica que alega que o Cartel de Sinaloa pagou dois milhões de dólares (1,8 milhões de euros, à taxa de câmbio atual) à primeira das três campanhas de López Obrador, em 2006.

O chefe de Estado mexicano denunciou “práticas imorais” e calúnias, acusando os seus adversários políticos de serem responsáveis pelas acusações, poucos dias antes do lançamento oficial da campanha para as eleições presidenciais de 2 de junho.

A 26 de janeiro, um especialista em cibersegurança denunciou que no México tem havido fuga de informações pessoais de mais de 300 jornalistas, aparentemente provenientes de uma base de dados presidencial.

As preocupações entre os defensores da liberdade de imprensa são cada vez maiores, enquanto López Obrador tem atacado jornalistas em conferências de imprensa que duraram horas, bem como o poder judicial, ao afirmar que os juízes fazem parte de uma conspiração conservadora contra a sua administração.

Mexicanos marcham contra o poder

No último domingo, milhares de manifestantes vestidos de cor-de-rosa marcharam por cidades do México e do estrangeiro, no domingo, numa “marcha pela democracia” contra o López Obrador.

No Zócalo, a principal praça da Cidade do México e onde fica o palácio presidencial, juntaram-se 90 mil pessoas em protesto, no mesmo dia em que Claudia Sheinbaum se inscreveu como candidata do Morena, o partido no poder .

As manifestações convocadas pelos partidos da oposição mexicana defenderam eleições livres e justas no país latino-americano e protestaram contra a corrupção. Os manifestantes gritavam “tirem López”, empunhando cartazes nos quais de podia ler: “o poder do povo é maior do que as pessoas no poder”.

Sheinbaum é vista, em grande parte, como uma candidata que dá continuidade ao popular Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, de 70 anos, e as sondagens indicam que é a favorita nas eleições de 2 de junho.

Para muitos eleitores, López Obrador tirou do poder os tradicionais partidos da elite em 2018 e representa a classe trabalhadora, mas também tem sido acusado de tomar medidas que põem em perigo a democracia do país.

Com a cor-de-rosa a ser usada como símbolo pelos manifestantes, foram organizadas marchas em 100 cidades do país e também em cidades dos EUA e de Espanha.

Na marcha, entre outros grupos da oposição, estavam a Frente Cívica Nacional, Sim para o México, Poder Cidadão, Sociedade Civil do México, UNE México e Unidos pelo México.

López Obrador rejeita repetidamente os protestos e disse, aos jornalistas, que os críticos não estão preocupados com a democracia, mas sim em tentar devolver o poder a corruptos.

No final da manifestação de domingo, o líder populista mexicano reiterou que não ia haver fraude eleitoral nas eleições e que não interveio nos processos democráticos.

“É a democracia deles… a democracia dos corruptos. O que nós queremos é que haja democracia do povo. Não queremos o poder sem o povo. São eles que estabelecem uma antidemocracia com a fraude eleitoral”, disse.

ZAP // Lusa

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