Donald Trump ou Joe Biden: qualquer um dos candidatos teria impacto nas questões de política externa. Contudo, Biden será o próximo Presidente dos EUA e já começou a definir as linhas que vai traçar com os seus parceiros europeus. O futuro antecipa-se risonho.
Mesmo com Donald Trump a insistir em teorias de fraude eleitoral, Joe Biden já é reconhecido em todo o mundo como o próximo Presidente dos EUA. Se por um lado, há quem preferisse ver o candidato republicano à frente dos comandos do país, há quem esteja feliz com a vitória do democrata e já comece a pensar no futuro.
Na União Europeia, prevalece a esperança de que Joe Biden comece a trabalhar rapidamente numa lista de “tarefas” globais, assim que assumir o cargo de presidente dos Estados Unidos em janeiro de 2021.
Uma dessas tarefas inclui um compromisso renovado com o multilateralismo e garantias específicas sobre a NATO e a ONU, para além além da reinserção dos EUA no Acordo de Paris sobre o Clima e no acordo nuclear iraniano.
Assim que se soube o resultados das eleições americanas, a União Europeia apressou-se em destacar de forma positiva a escolha de Biden. Esta atitude mostra uma esperança por parte da organização europeia de começar a trabalhar de forma positiva com o futuro presidente, algo que nem sempre aconteceu durante o mandato de Trump.
Do ponto de vista da UE, Trump provou ser “contencioso” e “obstrutivo”, pois ao longo dos últimos quatro anos dificultou a vida em praticamente todas as áreas, sobretudo no que diz respeito a política, segurança e mudanças climáticas.
De acordo com o The Conversation, alguns líderes mundiais irão sentir falta de Trump no contexto internacional, não fosse ele o mestre da “diplomacia do megafone”, seguida por políticos em países como Hungria, Polónia ou Itália.
No entanto, espera-se que a maioria dos líderes da União Europeia venha a trabalhar de forma cordial com a administração de Biden.
No contexto internacional, Biden parece interessado em recuperar a boa reputação dos Estados Unidos da América. Nas suas palavras, está determinado a “elevar a diplomacia como a principal ferramenta de política externa dos Estados Unidos”.
Algumas das suas sugestões para “recolocar os Estados Unidos na cabeceira da mesa”, passam por trabalhar com os aliados. A UE, em particular, deverá apoiar a determinação de Biden em organizar uma cimeira global sobre a democracia e lutar contra o autoritarismo e a corrupção, promovendo simultaneamente os direitos humanos.
Porém, outras medidas do futuro presidente podem não ser tão apelativas para o resto do mundo. O democrata quer instaurar uma “política externa para a classe média”, sendo que este conceito baseia-se em recuperar a liderança dos EUA na economia global, o que pode trazer consigo a aplicação de duras tarifas para a China (seu rival a nível económico, tecnológico e militar) e possivelmente para a UE.
Ainda assim, a relação com a União Europeia parece ter um futuro risonho. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referiu uma “parceria renovada” entre as duas partes ao felicitar Biden pelo seu resultado eleitoral.
A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron também estão preparados para começar relações bilaterais mais calorosas, mas também anseiam uma melhoria nas atitudes em relação ao desenvolvimento da NATO.
Para Macron e Merkel em particular, a presidência de Biden promete não apenas um apoio renovado ao multilateralismo em geral, mas uma atenção sobre como a parceria UE-EUA pode avançar em objetivos globais importantes, incluindo nas mudanças climáticas.
Contudo, é a República da Irlanda que pode beneficiar mais com a mudança na administração norte-americana. Durante a sua campanha, Biden falou com frequência no orgulho das suas raízes irlandesas e lamentou publicamente os vários impactos do Brexit.
Desta forma, a Irlanda pode encontrar-se numa posição única como interlocutor Brexit entre a Casa Branca, o Reino Unido e a UE, substituindo o papel de construtor de pontes que o Reino Unido tradicionalmente desempenha.
Um papel ativo no Brexit
No que diz respeito ao Reino Unido, a relação entre líderes pode não ser tão facilitada, não só porque Boris Johnson e Donald Trump mantinham uma boa relação diplomática, mas também porque o primeiro-ministro britânico fez algumas declarações grosseiras à ala democrata.
Ainda assim, Bruxelas acredita que a eleição de Biden pode colocar pressão sobre o governo do Reino Unido para chegar rapidamente a um acordo com a UE em relação ao Brexit.
Contudo, no final da campanha eleitoral, Biden deixou claro que a atitude dos EUA em relação ao Reino Unido depende inteiramente de duas coisas.
Em primeiro lugar, depende da capacidade do Reino Unido de construir pontes com a UE, quer a nível diplomático, quer a nível económico, pois Biden “lamenta profundamente a saída do Reino Unido da UE” – atitude que contrasta com a de Trump e Johnson que partilhavam uma aversão profunda à UE.
Em segundo lugar, o democrata defende um tratamento mais judicioso da questão da fronteira irlandesa. Embora as mudanças recentes e altamente controversas do governo britânico no acordo de retirada UE-Reino Unido tenham passado em grande parte despercebidas pela administração Trump, o impacto potencial no Acordo da Sexta-feira Santa foi uma questão de real preocupação para Biden e para os democratas.
Um acordo do Reino Unido com a UE – embora possa ser pouco significativo – pode agora estar em jogo. Mas, para ganhar a lealdade de Biden, Boris Johnson irá precisar superar a desconfiança com a nova administração dos EUA.