Preservação de órgãos está mais próxima com avanços na criopreservação

Saffron Bryant

Ilustração do crioprotetor

O desenvolvimento da tecnologia de criopreservação permitiu rápidos avanços na tecnologia reprodutiva, terapias com células estaminais, e mesmo salvar espécies da extinção.

No entanto, como parte do processo de criopreservação, são adicionados agentes para proteger as células contra danos e desidratação enquanto passam pelo processo de congelação, segundo noticia a Phys Org.

Os dois agentes principais, utilizados na criopreservação nas últimas décadas, são o dimetil sulfóxido e o glicerol, ambos tóxicos.

Estes agentes são também impróprios para centenas de células, e até agora a preservação de órgãos e tecidos não foi conseguida. Devido a isto, até 60% dos corações e pulmões doados estão a ser descartados.

“Temos uma grande quantidade de órgãos, mas a maioria deles é simplesmente deitada fora” realça Saffron Bryant do RMIT, investigadora principal de um novo estudo. “Só temos horas para obter um órgão de um doador para um recetor”.

Uma equipa de investigação analisou a eficácia dos solventes eutéticos como crioprotetores. Compararam a seis solventes diferentes em células de mamíferos, e testaram as propriedades térmicas, toxicidade, e permeabilidade em quatro tipos de células de mamíferos, incluindo pele e cérebro.

Os investigadores identificaram que um solvente eutético feito de prolina e glicerol era o agente crioprotetor mais eficaz para as células de mamíferos.

Este solvente era também menos tóxico do que quando se utilizavam os seus componentes individualmente, o que realça o potencial de otimização da criopreservação utilizando agentes combinados.

Estes agentes crioprotetores podem mesmo ser adaptados a tipos celulares específicos, com potenciais milhares de combinações a serem desenvolvidas.

A equipa conseguiu também prolongar o tempo de incubação das células com este novo agente de criopreservação, de acordo com os resultados do estudo, publicados no Journal of Materials Chemistry B.

“Incubar estas células com o crioprotetor a 37°C durante várias horas, antes do congelamento, e mantê-las viáveis, é um passo crucial para o armazenamento de órgãos e tecidos”, realça Bryant.

“Significa que podemos expor os órgãos aos crioprotetores durante tempo suficiente para que penetrem nas camadas mais profundas do órgão sem causar danos”, refere.

Com cerca de 1.850 pessoas na lista de espera para transplante de órgãos na Austrália, e mais de 100.000 à espera de um transplante nos EUA, estes novos agentes crioprotetores podem ajudar a manter viáveis os órgãos doados durante anos, em vez de horas.

“Temos um longo caminho a percorrer com a nossa investigação, uma vez que só olhámos para células únicas e é um processo muito mais complicado para os órgãos”, acrescenta ainda Bryant.

“Mas se conseguirmos criar esta abordagem para armazenar órgãos, poderemos eliminar a sua escassez — sem haver qualquer lista de espera“, conclui.

ZAP //

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