“Preparar para a guerra”. China dispara mísseis em exercícios militares perto de Taiwan

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(dr) H I Sutton

Bombardeiro Xian H-6N da Força Aérea Chinesa lança míssil balístico CH-AS-X-13

Nancy Pelosi é a mais importante representante norte-americana a visitar Taiwan, em 25 anos. Na visita, expressou “solidariedade” com Taiwan e reforçou o compromisso dos EUA com a região, irritando a China.

Ministros de Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e o alto representante da União Europeia para as relações externas expressaram preocupação “com as anunciadas ações ameaçadoras da República Popular da China, em particular exercícios de tiro real e coerção económica”.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 expressaram o seu compromisso conjunto com a manutenção da ordem internacional, alertando para uma “escalada desnecessária” por parte da China no Estreito de Taiwan.

Os ministros consideraram que “não há justificação para usar a visita [da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan] para uma atividade militar agressiva no Estreito de Taiwan”.

Depois de afirmarem que “é normal e uma rotina para os eleitos” dos seus países “viajarem internacionalmente”, os ministros consideraram que “a resposta da República Popular da China arrisca aumentar a tensão e desestabilizar a região“.

Apelaram a Pequim para que “não altere unilateralmente a situação pelo uso da força na região e que se resolvam por meios pacíficos as diferenças através do Estreito”.

Os ministros e o alto representante também garantiram que os membros do G7 não mudaram as políticas relativas à China e a Taiwan.

Nancy Pelosi, presidente do Congresso norte-americano, chegou na noite de terça-feira a Taiwan e visitou o Parlamento. Encontrou-se ainda com a chefe de Estado da República da China, Tsai Ing-wen, a quem transmitiu “apoio”.

Pelosi permaneceu menos de 24 horas em Taiwan, visitando o Parlamento de Taipé antes da reunião com a chefe de Estado da República da China, Tsai Ing-wen.

Em resposta, o Exército Popular de Libertação enviou na terça-feira 21 aviões militares para a Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan, de acordo com o Ministério da Defesa da República da China em comunicado.

Paralelamente, Pequim impôs, pelo segundo dia consecutivo, sanções comerciais a Taiwan proibindo a importação de citrinos, rebentos de bambu congelados e dois tipos de peixe, bem como a bloqueou a exportação de areia para a República da China.

O chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi, disse hoje que “aqueles que ofendem a China devem ser punidos de forma inelutável” referindo-se à visita de Nancy Pelosi, presidente do Parlamento norte-americano.

Momentos depois de Pelosi ter aterrado na terça-feira em Taiwan — território que a China reivindica como uma província separatista a ser reunificada pela força caso necessário —, Pequim anunciava que entrava em “alerta máximo” e que ia lançar “uma série de operações militares“, que classificou como “contramedidas”.

“Os exercícios estão a começar”, disse a televisão estatal chinesa CCTV numa mensagem publicada na rede social Weibo — muito semelhante ao Twitter — pouco depois das 12h locais (5h em Lisboa).

Os exercícios estão programados até domingo e abrangem seis zonas marítimas e aéreas em redor da ilha. Incluem “disparos reais de longo alcance” e “testes de mísseis convencionais”, informa a estação.

“Esta é a nossa mensagem firme para os dirigentes mal-intencionados e as forças separatistas que querem a independência de Taiwan”, afirmou Gu Zhongm, um responsável da região militar Leste do Exército de Libertação Popular (ELP), à CCTV.

O Exército chinês anunciou entretanto que disparou vários mísseis para a água na costa Leste de Taiwan. As autoridades da ilha denunciaram o lançamento de mísseis também a Nordeste e Sudeste, e cerca de 10 navios da Marinha chinesa a atravessarem a “linha média” que separa as águas territoriais da China e de Taiwan.

Segundo as coordenadas avançadas pelo exército chinês, em certos locais, as operações vão aproximar-se até 20 quilómetros da costa de Taiwan.

“Preparar para a guerra sem procurar a guerra”

As forças armadas de Taiwan informaram esta quinta-feira que se estão a “preparar para a guerra sem procurar a guerra”, momentos depois da China ter iniciado as maiores manobras militares da história em torno da ilha.

“O Ministério da Defesa Nacional sublinha que respeitará o princípio de se preparar para a guerra sem procurar a guerra“, informou em comunicado.

A China iniciou hoje os exercícios militares, que incluem fogo real, nas imediações de Taiwan, noticiou a televisão estatal chinesa CCTV. Washington tem também um porta-aviões e outro equipamento naval na região.

As manobras militares surgem em resposta à visita da congressista norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan, vista como uma grave provocação pela China.

Pequim reclama a soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província “rebelde”, desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para a ilha em 1949, depois de perderem a guerra civil contra os comunistas.

Poder de Xi Jinping posto à prova

A mensagem que Nancy Pelosi foi transmitir à ilha, que se vê como independente, é que “Os Estados Unidos não vão abandonar Taiwan”.

A visita reacendeu as tensões entre EUA e China e, apesar de os receios dos mercados parecerem já estar a aliviar, o agravamento chega numa altura em que Xi Jinping poderá querer dar mostras de poder.

“Para Xi Jinping, esta é uma janela realmente crítica entre agora e o 20.º Congresso do Partido”, explicou Jude Blanchette, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em declarações à Bloomberg.

Blanchette referia-se ao importante congresso, no qual o atual líder vai concorrer a um terceiro mandato, à frente da segunda maior economia do mundo.

“Não poderá realmente dar-se ao luxo de ser visto como fraco. É por isso que há uma preocupação significativa sobre até onde é que [as tensões entre EUA e China] podem ir”, acrescenta o especialista, citado pelo Jornal de Negócios.

A China é o maior parceiro comercial de Taiwan, com o comércio bilateral avaliado em 328,3 mil milhões de dólares no ano passado, dando a Pequim vantagem estratégica.

“Alguma estabilidade voltou aos mercados após o aumento da volatilidade observado durante a sessão de negociações de terça-feira e desencadeado por comentários agressivos da Fed, juntamente com o aumento das tensões entre EUA e China sobre a visita de Nancy Pelosi a Taiwan”, referiu Pierre Veyret, analista da ActivTrades.

No entanto, ainda há pouca clareza sobre se a China irá reforçar o contra-ataque aos EUA, fazendo com que os investidores se foquem novamente na geopolítica.

Alice Carqueja, ZAP //

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