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Preços das casas e das rendas descem com o impacto da pandemia

Simon Collison / Flickr

A pandemia chegou a Portugal há quase um ano e os seus efeitos estão a tornar-se cada vez mais visíveis no mercado da habitação. Atualmente, os imóveis foram alvo de uma descidas dos preços tanto no mercado de arrendamento como na compra e venda.

Quer no arrendamento como na compra e venda, os contratos relativos à habitação sofreram quebras nos últimos meses de 2020, segundo os índices apurados pela Confidencial Imobiliário. Contudo, a cidade do Porto ainda mantém uma variação positiva.

De acordo com os dados da Confidencial Imobiliário, que são relativos ao último trimestre de 2020, houve uma queda tanto no mercado de arrendamento (que caiu 4,8% em termos trimestrais), como no mercado de compra e venda (que recuou de 0,8%).

Ainda assim, na cidade Invicta as variações do preço de venda ainda se fazem em terreno positivo (1,2%), mas já tinham estado negativas no trimestre anterior (-0,4%).

Apesar da descida de 0,8% em Lisboa ser ainda residual, é relevante por ser a primeira variação negativa em cadeia desde o início de 2015, altura em que arrancou o ciclo de valorização intensa que durou cinco anos consecutivos.

O Índice de Preços Residenciais da Confidencial Imobiliário para o concelho de Lisboa iniciou o ano de 2020 com uma subida em cadeia de 3%, registou uma variação trimestral nula no segundo trimestre, seguida de uma subida de 0,8% no terceiro, atingindo terreno negativo nos últimos três meses do ano.

No caso das rendas habitacionais, os novos contratos de arrendamento registaram uma evolução descendente pelo quarto trimestre consecutivo: -4,8% em termos trimestrais e -16,8% em termos homólogos.

Esta travagem fez o nível das rendas praticadas no mercado regressar a patamares de meados de 2017.

No Porto, a Confidencial Imobiliário também apurou uma ligeira descida, mas refere que na cidade a amostra foi muito reduzida e ainda que se celebraram muito poucos novos contratos.

“Há uma descida nas rendas, mas a descida nos rendimentos é ainda maior”

Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário (CI), alerta que “a notícia de que as rendas estão a baixar parece positiva, mas é uma notícia armadilhada. Porque elas baixam em resposta, e na sequência, da redução de rendimento e da produção de riqueza que é gerada. Há uma descida nas rendas, mas a descida nos rendimentos das famílias é ainda maior”.

Em declarações ao Público o responsável sublinha, antes, a tónica de estabilidade que encontrou nesta variação de preços, que vão mantendo a mesma trajetória, com variações mais ou menos positivas. “O que encontramos é uma quebra muito grande no ritmo de valorização. Foi isso que trouxe a pandemia. No Porto, ainda há um comportamento positivo dos preços, mas muito abaixo daquilo que era há um ano. O que fez foi travar a valorização”, explica.

Para Ricardo Guimarães, estes indicadores não demonstram uma desvalorização, apenas anulam as expectativas de uma trajetória em termos de valorização.

De acordo com o especialista, a pressão para a desvalorização acontece sobretudo nos centros históricos das duas principais cidades do país, porque são mercados que estavam muito expostos à procura turística.

“Temos agora este mercado muito condicionado, ou praticamente inativo. O que não quer dizer que não seja também o segmento de mercado que pode recuperar mais rapidamente”, comentou Ricardo Guimarães, que diz acreditar que “enquanto houver condições para os proprietários segurarem os preços, essa vai ser a opção que vão tomar”.

A existência de moratórias para pagamentos dos empréstimos é, assim, determinante para esse propósito de manter os preços estabilizados.

“O que já é seguro dizer é que o mercado não vai ter nenhuma valorização em 2021. Isso parece-me claro. Tudo o resto é uma grande incerteza”, termina Ricardo Guimarães.

Ana Moura, ZAP //

 

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