/

Há cada vez mais mulheres no futebol, mas o preconceito está a afetar as treinadoras

Miguel Boavida / Wkimedia

A treinadora portuguesa de futebol, Helena Costa

São cada vez mais as mulheres a jogar futebol, mas o preconceito está a limitar a evolução das mulheres nos cargos de treinador. Até mesmo nas ligas femininas se verifica este fenómeno.

Há muito que o futebol é considerado um desporto de homens – mas isso está a mudar. Só o jogo das meias-finais do Mundial feminino de 2019 atraiu mais de 11,7 milhões de telespectadores. E, pela primeira vez desde que a Superliga Feminina (WSL) foi fundada no Reino Unido em 2010, já há duas vezes mais treinadoras do que treinadores.

Embora este progresso seja certamente algo de se comemorar, o futebol continua a ser dominado pelos homens. Mesmo nas ligas femininas de futebol, os homens ainda detêm 91% de todos os empregos de treinadores. Na liga semiprofissional, a treinadora do Arlesey Town, Natasha Orchard-Smith, é atualmente a única treinadora feminina do campeonato.

O equilíbrio de sexos dos treinadores na WSL é um sinal bem-vindo do progresso da indústria – mas as mulheres continuam a ser mantidas fora das funções de treinador em todos os níveis do futebol.

O domínio masculino no futebol remonta a 1921, quando a Football Association (FA) excluiu as mulheres de participarem no futebol competitivo organizado, depois de as declarar “inadequadas” para o jogo.

Este nem sempre foi o caso: as partidas de futebol entre as equipas fabris femininas durante a Primeira Guerra Mundial atraíam multidões a rondar as dezenas de milhares. Mas depois da proibição da FA, a exclusão feminina do futebol durou cinco décadas.

Há quem diga que esta exclusão fez parte da tentativa deliberada da FA de restringir as mulheres às noções tradicionais de feminilidade e recuperar a imagem masculina do futebol que tinha sido perdida durante a Primeira Guerra Mundial.

Quando a FA terminou com a proibição em 1971, o futebol feminino era visto como inferior ao futebol masculino. As jogadoras sofriam repetidamente discriminação e estereótipos de sexo. O presidente da FIFA chegou a ser acusado de sexismo em 2004, depois de pedir às mulheres que usassem equipamentos de futebol mais baratos para aumentar a popularidade do futebol feminino.

As barreiras enfrentadas

Investigadores entrevistaram 12 treinadoras de todos os níveis, desde as camadas jovens à elite do futebol feminino mundial. Descobriram que todas as treinadoras costumavam enfrentar sexismo, sentiam que tinham que trabalhar mais para alcançar os seus objetivos e que eram vistas como inferiores aos homens.

Em todos os níveis, as mulheres falavam sobre a cultura do futebol ser dominada por homens. Por exemplo, todas as mulheres a treinar nas camadas jovens disseram que receberam menos recursos – como equipamentos e acesso a campos – se treinassem uma equipa de meninas. As treinadoras também tiveram que lutar para usar o mesmo equipamento que os jogadores do sexo masculino.

Os investigadores também descobriram que as mulheres tinham que aceitar que precisariam de lutar mais por tudo. E, se fossem nomeadas para cargos, provavelmente seria para posições menos desejáveis – como treinar grupos etários mais jovens. Muitas sentiram que a sua progressão na carreira foi limitada.

No entanto, as treinadoras do futebol sénior de elite consideraram que a cultura estava a melhorar. Estas sentiram que havia uma maior aceitação por parte dos colegas do sexo masculino. Ainda assim, temem que movimentos focados apenas no aumento do número de treinadoras pressionem as equipas a contratarem mulheres, em vez de escolher a melhor treinadora para o cargo.

A investigação mostrou que os cursos de treinadores dominados por homens podem ser intimidadores e desconfortáveis para as mulheres, razão pela qual os cursos apenas para mulheres foram criados. Contudo, apesar dos benefícios potenciais destes cursos, as treinadoras de elite do estudo garantem que estes cursos costumam ser vistos como “abaixo do padrão” quando comparados com os dos homens. Como resultado, muitas não queriam ser vistas a participar neles.

Este estudo sugere que o apoio precisa de ser diferente para as mulheres, dependendo do momento da carreira e do tipo de cargo que desempenham. Saber isto pode ajudar a  promover o progresso das mulheres treinadoras.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.