Hernâni Pereira / FPF

No mesmo fim-de-semana, a selecção portuguesa sub-17 e os portugueses do PSG foram campeões europeus. Nem todos os portugueses gostaram.
Sábado e domingo foram dias para celebrar, para os adeptos portugueses de futebol que gostam de títulos conquistados por selecções portuguesas e que gostam de títulos conquistados por equipas estrangeiras que têm jogadores portugueses.
No sábado, o PSG foi campeão europeu de futebol pela primeira vez. Sem margem para dúvidas, na final: 5-0 contra o Inter Milão. Três portugueses foram titulares, como é habitual: Nuno Mendes, João Neves e Vitinha. Gonçalo Ramos entrou perto do fim.
Afonso Gonçalves, do grupo nacionalista Reconquista, reagiu a este título inédito ainda no sábado à noite: “Parabéns aos 3 Portuguezes que são campeões europeus”.
Afonso ignorou Nuno Mendes, por não ser branco. Nuno Mendes nasceu em Sintra.
Parabéns aos 3 Portuguezes que são campeões Europeus 🚀 🇵🇹 pic.twitter.com/9GK1bc0Zk0
— Afonso Gonçalves (@AfonsoJFG) June 1, 2025
No domingo, Portugal foi campeão europeu sub-17. Também sem dar grandes hipóteses ao adversário: 3-0 frente à França, na final.
Ainda antes do início deste torneio, era fácil olhar para a lista de convocados e reparar em alguns nomes que não eram habituais numa selecção portuguesa: Alexandre Tverdohlebov, Daniel Banjaqui, Gabriel Dbouk, Martim Chelmik, Stevan Manuel, Santiago Verdi, Zeega, Mateus Mide ou Anísio Cabral.
Todos eles nasceram em Portugal. Olhando para as fichas dos jogadores no portal zerozero, vê-se que todos eles nasceram em Portugal.
Alexandre Tverdohlebov vem de uma família da Rússia; as famílias de Daniel Banjaqui e Anísio Cabral são da Guiné-Bissau; Stevan Manuel até é sobrinho de Renato Sanches; Zeega é alcunha de Martim Costa Guedes; Mateus Mide é filho de Mide, brasileiro que jogou futsal em Portugal durante muitos anos.
Mas todos nasceram em Portugal. Destes nomes, todos nasceram em solo português.
Quando a Federação Portuguesa de Futebol destacou o apuramento dos sub-17 para a final do Europeu, na semana passada, os quatro jogadores da selecção que aparecem na imagem são negros. E isso originou comentários enraivecidos – que entretanto foram ocultados no X.
“Foram logo escolher uma foto com 4 africanos…”, ou “Porque é que vestiram quatro macacos com a camisola de Portugal?”, ou o “fedor nauseabundo”, ou a ideia repetida de que não estava nenhum português naquela fotografia.
Novamente: esses quatro negros (e os cinco no total, da selecção) nasceram em Portugal.
Entre todos os futebolistas portugueses que estiveram no Europeu na Albânia, só dois nasceram fora de Portugal: Yoan Pereira e Gil Neves. Ambos nasceram no Luxemburgo. Ambos são brancos.