Os portugueses que residem em Drancy, terra onde o líder da União Nacional, Jordan Bardella, nasceu e cresceu, estão mais preocupados com o crescimento da esquerda do que da extrema-direita. “Não vão fazer nada aos portugueses”.
Drancy, a nordeste de Paris, é um subúrbio típico da capital francesa – uma cidade dormitório, com blocos de apartamentos, ruas com moradias e uma taxa elevada de imigrantes -, mas tem uma peculiaridade: foi ali que viveram a infância duas das principais figuras atuais da direita radical francesa.
O líder da União Nacional (Rassemblement National (RN), em francês), Jordan Bardella, nasceu e cresceu em Drancy, enquanto o presidente do partido Reconquista (Reconquête), Éric Zemmour, passou aqui a sua infância.
Entre os membros da comunidade portuguesa que residem neste subúrbio, nenhum dos entrevistados pela Lusa diz conhecer pessoalmente os políticos e, apesar de ambos proporem medidas contra a imigração, não se sentem particularmente visados pelo crescimento da extrema-direita em França.
À Lusa, Steve, de 39 anos, diz que está “zero” preocupado com o resultado que a União Nacional obteve na primeira volta das eleições legislativas (cerca de 33% dos votos), antecipando que o partido “não vai fazer nada aos portugueses”.
“Nós já cá estamos há muitos anos, o projeto deles não é contra nós”, garante o lusodescendente, que, apesar de ter nascido em França, diz que “é português no coração”.
Steve é dos mais despreocupados com o crescimento da extrema-direita.
“A esquerda mete-me mais medo”
Celina, de 60 anos, está mais apreensiva com o resultado da União Nacional, mas acrescenta que, mesmo assim, gostaria mais que ganhasse “a extrema-direita do que a extrema-esquerda”.
“A extrema-esquerda mete-me medo. Eles vão destruir a França. É sobretudo o Jean-Luc Mélenchon que me mete muito medo, porque quer desarmar a polícia, apesar de atualmente haver imensa insegurança em França. Sinto-me em perigo e ele quer desarmar a polícia”, critica esta portuguesa, que nasceu em Barcelos.
Também Carlos, de 48 anos, manifesta-se mais preocupado com o crescimento da Nova União Popular de Esquerda (que reúne o Partido Socialista, o Partido Comunista, Os Verdes e a França Insubmissa) do que com o da União Nacional, salientando que a coligação de esquerda parece hoje ser “mais fanática”.
“A direita está a ficar muito centrista, já não é a direita que era há uns anos. Eu preferia que fosse o centro a ganhar, mas, se tiver de escolher, eu preferia que fosse mesmo a direita a passar, porque a esquerda mete-me mais medo”, reconhece, apesar de admitir que não percebe os franceses que votam na União Nacional “porque sabem de onde vem o partido e sabem que é um partido fascista”.
Portugueses não se sentem ameaçados
Apesar de a maioria ser crítica do projeto da União Nacional, a maioria destes portugueses descarta que o seu projeto – e designadamente uma proposta que impede que os cidadãos com dupla nacionalidade possam aceder a certos empregos na função pública – os possa afetar.
“Estamos bem integrados, temos a mesma religião e temos uma boa imagem junto dos franceses, não somos apontados a dedo. Temos fama de trabalhar bem e de não vir só aproveitar os benefícios sociais”, diz à Lusa José António, de 49 anos.
Mas…
Ainda assim, José António é o único que é abertamente crítico do projeto da União Nacional, por ter sentido na pele algumas das políticas que o partido pretende implementar.
Nascido em França em 1975, José António diz à Lusa que, na altura, não conseguiu ter a nacionalidade francesa porque era preciso “ter sangue francês”. Só a adquiriu mais tarde, através do casamento.
Já os seus filhos usufruíram da política de “jus soli” – que permite que quem nasce em França tenha automaticamente a nacionalidade francesa -, implementada em 1993, e que, agora, a União Nacional pretende revogar.
“Acho mal e estou preocupado”, admite este lusodescendente, que, ainda assim, também deixa críticas à esquerda, salientando que também não gosta das propostas da Nova Frente Popular.
Neste círculo eleitoral tradicionalmente à esquerda, a escolha destes portugueses para a segunda volta das legislativas é assim natural: uma candidata independente, Aude Lagarde, que se afirma centrista e está a fazer campanha sob o lema “nem extrema-esquerda, nem extrema-direita”.
“Votei nela na primeira volta, porque é do centro. Na extrema-esquerda e na extrema-direita não encontramos o que queremos”, refere José António à Lusa.
Já Celina antecipa que, mesmo que a União Nacional chegue ao Governo, não vai conseguir implementar tudo o que pretende.
“Os franceses não se deixam ficar, por isso é que não tenho assim tanto medo. Haverá algumas mudanças – mas acho que vão ser sobretudo positivas, apesar de nunca se saber -, mas não vão ter assim muito poder”, salienta.
Portugueses devem ou não ter medo?
Na semana passada, ainda antes da primeira volta das eleições, a presidente cessante da Assembleia Nacional – a câmara baixa do parlamento –, alertou a comunidade portuguesa residente em França deve temer a extrema-direita.
Yaël-Braun Pivet salientou que o partido de Marine Le Pen propõe um projeto que discrimina todos os cidadãos com dupla nacionalidade.
ZAP // Lusa
Totalmente mentira. A Le Pen deixa bem claro que qualquer cidadão estrangeiro que respeite as leis e a cultura tem a porta aberta. O problema da Le Pen é com quem não respeita a França.
Típico da esquerda, espalhar mentiras, truncar, tirar fora do contexto…