Portugal registou em 2023 uma queda recorde na emissão de gases poluentes – mas a que custo?
Depois de a empresa Redes Energéticas Nacionais (REN) ter anunciado que o país bateu o recorde de produção de energia de fontes renováveis em 2023, a associação ambientalista Zero salientou em comunicado que nesse ano se bateram três recordes na área da energia: mais produção de renovável, mais dias seguidos só com renovável e menores emissões de dióxido de carbono (CO2) de sempre.
A Zero avança que o setor da energia já não é o principal responsável pelas emissões em Portugal. Resultados muito positivos para o país, mas a custo de quê? Serão fruto da inovação na produção de energia renovável, ou da pobreza energética – que afeta cerca de 20% da população portuguesa.
A nova Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética (ELPPE) 2023-2050 apresenta como meta principal “erradicar a pobreza energética em Portugal até 2050, protegendo os consumidores vulneráveis e integrando-os de forma ativa na transição energética e climática, que se pretende justa, democrática e coesa”, lê-se na resolução de Conselho de Ministros, publicada esta segunda-feira.
Mas – havendo pobreza, inovação, ou ambos – o que é certo é que o setor da energia deixou de ser o principal responsável pelas emissões de CO2 em Portugal.
“As contas revelam um recorde muito significativo, da ordem de 3,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o valor mais baixo pelo menos desde 1990, o primeiro ano em que Portugal reportou as emissões de gases com efeito de estufa”, diz a associação.
Para se chegar a estes números, lembrou a Zero, encerraram-se as duas centrais termoelétricas de carvão – que, com as centrais a gás natural, produziam anualmente entre nove e 17 milhões de toneladas de CO2.
Num ano, reduziu-se quase metade
Em 2020, registaram-se 6,6 milhões de toneladas de emissões e 4,6 milhões em 202. Mas, em 2022, devido à seca, os valores voltaram a subir, para 6,1 milhões.
No ano passado, com o aumento da energia solar e da produção hidroelétrica, as emissões voltaram a baixar – atingindo as 3,7 milhões de toneladas.
“As emissões são agora provenientes da operação das quatro centrais de ciclo combinado a gás natural de Lares, Pego, Ribatejo e Tapada do Outeiro, cujo decréscimo de produção entre 2022 e 2023 foi de 43 por cento”, explicam os ambientalistas.
Carros são agora quem mais polui
A Zero conclui, assim, que o setor da energia deixa de ser o principal responsável pelas emissões, passando o primeiro lugar do pódio para o transporte rodoviário como o principal responsável por emissões de CO2 em Portugal.
No comunicado, a Zero alerta ainda para a necessidade de políticas fortes nas áreas da eficiência energética e da redução do consumo, e questiona a necessidade de manter a central a gás natural da Tapada do Outeiro após o fim do contrato de aquisição de energia (março).
A associação pede também rapidez nos investimentos nas redes de transportes e distribuição de energia elétrica, para suportarem mais produção de eletricidade de fontes renováveis.
Além de se desenvolverem as infraestruturas de armazenamento, é importante também acelerar na produção de energia renovável, sempre ouvindo as populações e com decisões transparentes, alerta ainda a Zero.
ZAP // Lusa