O Ministério da Saúde português quer melhorar a saúde publica e tornar o país num líder na erradicação do HIV
Numa entrevista à EFE, o ministro Adalberto Campos Fernandes sublinhou o esforço realizado pelo Governo socialista de António Costa para recuperar a saúde pública, após a grave crise de 2011.
“Estamos a fazer uma trajetória dura, saímos de uma crise muito intensa. O nosso sistema de saúde estava exausto em termos de investimento“, afirmou.
Agora, com um orçamento que vai alcançar cerca de 9% do PIB português – 1.200 milhões de euros – no final da legislatura, Campos Fernandes confia em dar um passo de gigante, embora ainda pese a dívida do Sistema Nacional de Saúde, cerca de 700 milhões de euros.
“Nunca se tinha investido tanto em equipamento e infraestrutura e nunca tinha havido tantos recursos humanos”, disse, embora tenha admitido que “seria pouco realista dizer que em três anos vamos ter tudo resolvido”.
No que à saúde portuguesa diz respeito, o ministro orgulha-se do êxito de políticas como a descriminalização do consumo de drogas para uso pessoal, aprovada em 1995, que se aplica sob uma estreita regulação estatal.
“Consideramos as dependências como um problema de saúde pública em vez de um problema criminoso”, explicou Campos Fernandes, sublinhando que o modelo é reconhecido como “um exemplo” por outros países.
É, além disso, um fator determinante para combater outras doenças, como o HIV, e levou Portugal a aproximar-se do objetivo marcado pelas Nações Unidas, o “90-90-90”, que tem como objetivo diagnosticar e tratar 90% dos doentes pelo vírus.
“Queremos ser um país líder da Europa em termos de erradicação do HIV“, afirmou o ministro, reconhecendo que “é uma luta diária, que nunca podemos desistir”.
Portugal, onde é permitido o uso de cannabis com fins terapêuticos, trabalha agora para regulamentar a produção de fármacos elaborados à base desta droga.
“Estamos ainda em processo de regulamentação. Há muitas entidades que falaram connosco e estão muito interessadas em instalar-se em Portugal“, acrescentou.
Apesar do êxito da experiência, o ministro evitou pronunciar-se sobre se a Europa deveria seguir o caminho de Portugal, embora considere “que é um tema que está em cima da mesa, tanto ao nível de governos nacionais como europeus”, apontou.
Entre as questões portuguesas pendentes em matéria de saúde, estão as melhorias nos hospitais do interior do país, como é o caso do centro hospitalar da cidade de Gaia, onde a equipa de especialistas apresentou uma demissão em grupo em protesto contra a falta de recursos e as más condições de trabalho.
“Não podemos confundir um caso pontual com a situação geral”, justificou o ministro que anunciou dois projetos hospitalares – em Lisboa e no Alentejo – para revitalizar o Sistema Nacional de Saúde, dotado com 21.000 camas e mais 11.000 para centros hospitalares privados.
Avançar na cobertura universal pública é outra das prioridades para um país com uma população envelhecida que precisa de aumentar a sua natalidade e atrair jovens imigrantes.
“O envelhecimento da população é uma ameaça grande que temos pela frente. A resposta é muito dinamismo na economia, muito emprego”, alertou.
Caso contrário, augurou Campos, a população cairia mais de 20%: “Se nada se fizesse, em 2050 Portugal teria perto de 8 milhões de habitantes“.
“Já não estamos no mesmo momento de há 40 anos, quando um planeamento a dez anos nos garantia respostas. Temos que reagir no momento e temos que recuperar muito“, concluiu o ministro.
// EFE