Portugal na mira do ativismo climático contra museus?

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ZAP // Letzte Generation

De Londres a Madrid, a onda de protestos ambientais em espaços culturais da Europa parece mover-se em direção ao sul. Diretores de museus portugueses recordam que os museus foram criados em resposta à iconoclastia revolucionária.

Museus de arte da Europa em vários locais da Europa estão a ser alvo de grupos de ativistas que protestam contra a deterioração do planeta provocada pela ação humana.

A 14 de outubro, na National Gallery de Londres, dois ativistas da Just Stop Oil atiraram sopa de tomate à famosa pintura Girassóis, de Vincent van Gogh Van Gogh. A questão: “O que vale mais, a arte ou a vida?”

A moldura da pintura terá sido danificada durante a ação.

Além do Just Stop Oil, tembém o Letzte Generation em Potsdam, o Ultima Generazione em Roma, e por último Futuro Vegetal, em Madrid, realizaram ações de protesto em museus com obras de arte famosas.

O procedimento dos manifestantes é tão simples quanto eficaz: primeiro, atirar algum alimento semi-líquido contra uma obra de arte importante ou escrever uma mensagem ambientalista na parede contígua. A seguir, colar-se na moldura, por vezes com uma faixa de protesto.

O efeito mediático tem sido infalível.

Por enquanto, a onda de protestos ainda não chegou a Portugal, mas parece estar a  aproximar-se — e os diretores de museus do país estão preocupados com as ações, que classificam como “hediondas” e “de terrorismo”.

Os museus nacionais já intensificam a vigilância do património cultural à sua guarda.

Em causa está “a própria natureza democrática” dos museus, que trouxeram a arte para o espaço público, na sequência da Revolução Francesa, e a tornaram “propriedade coletiva dos cidadãos”, sublinharam os diretores de instituições museológicas, numa nota divulgado pela agência Lusa este sábado.

O que arte tem a ver com destruição ambiental?

Para os diretores de espaços culturais como o Museu Nacional dos Coches e o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, que guardam, restauram e exibem coleções únicas no mundo, os casos são “preocupantes” porque “colocam em risco um património que é de todos” e “deve ser protegido para as atuais e futuras gerações”.

Mário Antas, diretor do Museu Nacional dos Coches, um dos mais visitados do país, mostrou-se “obviamente preocupado com um fenómeno que está sobretudo a alastrar na realidade europeia”, e cuja associação à arte lhe suscita muitas dúvidas.

Não está em causa o direito de protestar, mas o modus operandi para com as obras de arte, que, afinal, são património da Humanidade para serem fruídas por todos”, declarou à Lusa.

O diretor diz ter alguma dificuldade em perceber o que os museus e as obras de arte têm a ver com este tipo de protesto ambientalista.

“Está relacionado com a questão do petróleo e da poluição, mas as obras de arte não têm culpa nenhuma. São ações mediáticas, mas é difícil de perceber porque têm as obras de arte de pagar por isto.”

Após o atentado do grupo alemão Letzte Generation a uma obra do impressionista francês Claude Monet, no Museu Barberini de Potsdam, a 23 de outubro, a porta-voz do grupo ativista, Aimée von Baalen, defendeu a ação, explicando a lógica que segue sua organização.

Monet amava a natureza e capturou sua beleza única e frágil em suas obras. Como é possível que tantos tenham mais medo que uma dessas imagens da realidade seja danificada do que da destruição de nosso próprio mundo, cuja magia Monet tanto admirava?” perguntou.

E acrescentou: “Não haverá mais tempo para admirar a arte quando estivermos a lutar por comida e água!”

Resposta histórica à iconoclastia revolucionária

Mário Antas também chama a atenção para a necessidade de uma “educação patrimonial” da sociedade, numa “via profilática e pedagógica que se pode fazer todos os dias, a começar nas escolas, com a consciencialização da importância do património único existente em Portugal”.

Os receios do diretor do Museu dos Coches são partilhados por seu colega do Museu Nacional de Arte Antiga, Joaquim Caetano.

“É óbvio que a situação é preocupante para todos os museus, e estamos a tomar medidas para tentar que não aconteça nada“, comentou, especificando que o reforço tem sido feito “com empresas de vigilância, em princípio, mais preparadas para responder a casos destes”.

O historiador de arte recordou que “uma das razões por que os museus nacionais foram criados a seguir à Revolução Francesa, em 1789, foi precisamente para responder à iconoclastia revolucionária, que, na altura, atingiu um grande peso sobretudo pela ligação da arte à riqueza do antigo regime e à propaganda real”.

O retirar dessas peças dos espaços reais e nobres para a criação dos grandes museus nacionais “foi uma resposta no sentido de retirar a carga propagandística que grande parte da riqueza artística tinha, e transformá-la numa propriedade coletiva dos cidadãos”, lembrou o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga.

“Houve uma descontextualização do caráter de propaganda da arte, e a sua transformação num mecanismo de identidade da própria democracia nascente. É nesse sentido que as obras de arte estão nos museus”, explica.

Quando essa iconoclastia entra nos museus, quer dizer que se está a pôr em causa a própria natureza democrática destas instituições, e isso parece-me um pouco despropositado como modus operandi“, sustentou Caetano.

ZAP // Deutsche Welle / Lusa

3 Comments

  1. Tínhamos os talibãs e o DAESH, agora temos estes ativistas a juntarem-se aos bandos de energúmenos! Parece-me que anda por aí muita gentinha muito confusa.

  2. Os museus terão de passar a revistars quem entra.

    Já agora só uma questão: estes “ativistas” estão em propriedade privada e danificam objetos na mesmo — isto não dá direito a serem presos e presentes a juiz?

  3. Estes activista de meia tigela, em vez de atirarem tinta e ovos e sabe-se mais lá o quê, contra os políticos , não, estão mais preocupados em dar cabos de obras de arte, qual será o segredo oculto nisto tudo?

    É que não bate a cara com a careta :/

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