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Portugal 0-1 França | Kanté veste pele de Eder e afasta lusos

Mário Cruz / Lusa

Naquela que para muitos era uma espécie de final deste Grupo 3 da Liga das Nações A, a França levou a melhor, venceu Portugal por 1-0 e carimbou presença na “final four” da competição.

Os gauleses foram superiores em grande parte do encontro e os campeões europeus apenas depois de terem sofrido o golo de Kanté é que assumiram as rédeas do encontro, mas ora Lloris, ora o desacerto no momento da finalização, foram travando as investidas nacionais. Na sexta e última jornada, agendada para a próxima terça-feira, os homens de Fernando Santos vão defrontar a Croácia e os campeões mundiais recebem a Suécia, que na noite deste sábado derrotou os croatas por 2-1. Em termos tácticos, Didier Deschamps conseguiu manietar a circulação de bola nacional, com a forma agressiva com que Kanté, Pogba e Rabiot condicionaram as acções de Danilo, William e Bruno Fernandes. Esta foi a primeira derrota de Portugal na UEFA Nations League, após 11 jogos e um título alcançado: sete vitórias e três empates.

O jogo explicado em números

  • Olhando para as escolhas iniciais, do lado luso José Fonte foi o escolhido para ocupar a vaga do lesionado Pepe e João Cancelo foi o lateral-direito titular, ficando Nélson Semedo no banco, o mesmo ocorreu com Diogo Jota, que atravessa um grande momento ao serviço do Liverpool. Do lado gaulês, Mbappé não recuperou de lesão e Didier Deschamps apostou num ataque móvel com Griezmann, Coman e Martial. Pogba manteve o posto no centro do terreno.
  • No primeiro lance com perigo do encontro, ao minuto seis, Lloris conseguiu deter uma bomba desferida por Cristiano Ronaldo do meio da rua. Quatro minutos volvidos, Coman respondeu na mesma moeda – à “lei de um míssil” – que obrigou Rui Patrício a mostrar reflexos. Pouco depois, o guardião foi gigante e parou um remate venenoso de Martial. Nesta fase, Portugal tinha um ligeiro ascendente em termos de posse de bola (51% versus 49%), mas os gauleses tinham mais tentativas no que concerne a remates à baliza.
  • Cada remate francês era sinónimo de perigo: aos 18 minutos, Rabiot, na sequência de um canto, cabeceou e ficou a centímetros de marcar. O meio-campo luso pouco participava no processo de construção de jogo, dando ainda demasiado espaço para Griezmann, a jogar entre linhas, Martial e Coman explorarem a profundidade. Apenas aos 20 minutos, Lloris voltou a ser chamado e defendeu um remate de Bruno Fernandes. Portugal tinha mais bola (54% contra 46%), mas havia mais acções de ataque dos visitantes, que já amealhavam quatro remates, dois dos quais enquadrados, dois cantos e 15 duelos ganhos. Por sua vez, além de duas tentativas de remate, os campeões europeus tinham um canto, 150 passes (89% de acerto) e 30 perdas da posse.
  • Martial, aos 28 minutos, atirou às malhas laterais. Segundos depois, num livre estudado, Griezmann fez o lançamento, Varane endoçou a bola e Martial viu o ferro travar-lhe o tento inaugural. Aos 41, Lucas Hernández cruzou e o guardião português voltou a ser enorme, travando mais uma tentativas do camisola “10”. Os dados diziam que os forasteiros tinham desperdiçado três situações claras de golo, face às zero portuguesas. Rui Patrício, com três intervenções a remates feitos já no interior da área, era o elemento em destaque, com um GoalPoint Rating de 6.2, e do outro lado, Griezmann 6.1, com um passe para finalização e 20 acções com a bola, era a unidade mais em foco do lado dos campeões mundiais.
  • Foi preciso esperar até ao minuto 45 para assinalar uma jogada de real perigo de Portugal. Na sequência de um canto marcado por Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo cabeceou e viu o esférico sair um pouco por cima do alvo.
  • Graças a “São” Rui Patrício, Portugal ia conseguindo manter a zero a partida. O guarda-redes fez três grandes defesas e foi adiando o golo do adversário. Quando o camisola “1” não interveio, o poste protegeu as redes lusas ao deter um cabeceamento de Martial. A pressão da França não era asfixiante, mas teve o mérito de retirar todo o meio-campo luso do encontro, com Danilo, William Carvalho e Bruno Fernandes sem grande influência e o trio da frente muito longe da bola. O carrossel gaulês ia gerindo os ritmos a seu bel-prazer e apenas a falta de golo não materializava no marcador a superioridade dos comandados de Didier Deschamps, que acumularam expected goals (xG) de 1,7. Sem surpresas, nos primeiros 46 minutos, o MVP deste “clássico” europeu era Rui Patrício, com GoalPoint Rating de 6.8 e que premiava a agilidade e a enorme panóplia de recursos do jogador do Wolves, que realizou três enormes defesas.
  • Os primeiros dois remates na etapa final tiveram selo português (Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva), mas quem marcou foram os gauleses. Rabiot rematou, Rui Patrício defendeu de forma incompleta e, na continuação do lance, Kanté, qual ponta-de-lança, finalizou e inaugurou o marcador à passagem do minuto 53.
  • À beira dos 60, Portugal ficou a um poste do empate. Primeiro, Raphaël Guerreiro atirou do meio da rua, Lloris defendeu, o lance prosseguiu, Bernardo Silva cruzou e José Fonte cabeceou e viu o ferro da baliza travar-lhe a investida. Foi o terceiro remate luso na segunda parte. A oportunidade surgiu já após a saída de William Carvalho, que foi substituído por Diogo Jota aos 56 minutos. Na resposta, Martial voltou a perder no duelo com Rui Patrício (65′).
  • Além do golo, Kanté 8.2 ia deixando a marca dele no palco da Luz. O médio do Chelsea já acumulava três acções defensivas, cinco desarmes, três intercepções, dois remates bloqueados, dois dribles eficazes em outros tantos feitos, e duas variações de flanco realizadas com êxito.
  • Portugal voltou a ficar perto do empate quando, aos 75 minutos, João Moutinho disparou de longe e obrigou Lloris a responder com um excelente voo. Dos 14 remates dos comandados de Fernando Santos, seis levaram a direcção da baliza. Depois, aos 77, Guerreiro centrou e valeu aos franceses a rapidez de Kimpembe que tirou o “pão da boca” de Cristiano Ronaldo. Nesta fase, havia uma maior presença portuguesa – já com as entradas de Moutinho e Trincão para as vagas de Bruno Fernandes e de Bernardo Silva – nas imediações da área adversária.
  • Aos 79 minutos, Cancelo centrou, mas nem Cristiano Ronaldo, nem Trincão e nem Rúben Dias conseguiram chegar à bola. Era o melhor período português em toda a partida. Na última cartada do seleccionador nacional, Danilo e João Félix foram substituídos por Sérgio Oliveira e Paulinho. Os anfitriões tinham 15 remates face aos 13 dos visitantes.
  • Ao contrário do que ocorreu na memorável final do Euro 2016, desta feita foi Kanté a vestir a pele de Eder – perdão de herói improvável – e cantou de galo. Neste 27º confronto entre as duas selecções, o triunfo voltou a sorrir à França, que somou a 19.ª vitória.

O melhor em campo GoalPoint

Excelente exibição de Rui Patrício, que apenas não roçou a perfeição devido ao golo que sofreu após ter defendido de forma incompleta o tiro de Rabiot. Principalmente na primeira parte, na qual a França asfixiou o último terço luso, Patrício defendeu o “santuário” com excelente intervenções, ao todo foram seis defesas, quatro das quais feitas já nas imediações da baliza (a menos de 8 metros). O camisola “1” teve um GoalPoint Rating de 7.7.

Miguel A. Lopes / Lusa

Rui Patrício

Jogadores em foco

  • Kanté 7.5 – Tem apenas um 1,68 cm, mas é um gigante. Na noite deste sábado, em quase tudo o que tocou transformou em ouro. Marcou o único golo do encontro, na única vez em que rematou, teve uma eficácia de passe de 88% (oito errados em 69 feitos), acertou quatro dos cinco passes longos realizados e em termos defensivos recuperou a posse em seis ocasiões, contabilizou cinco desarmes e quatro intercepções.
  • Griezmann 6.6 – No espaço entre linhas, deixou Danilo e William completamente à nora, inteligente em todos os seus movimentos, foi o farol que iluminou o futebol gaulês, com especial ênfase para os cinco passes valiosos que fez, dez recuperações da posse – máximo em todo o encontro -, quatro passes progressivos certos e as mesmas acções com a bola dentro da área portuguesa.
  • João Moutinho 6.4 – Em apenas 21 minutos revolucionou o jogo nacional. Sempre rotativo, obrigou Lloris a fazer a defesa da noite, deu outra fluidez, velocidade e imaginação às investidas portuguesas, acumulando, ainda, 33 acções com a bola.
  • Varane 6.3 – Menos exuberante do que Kimpembe, mas como quase sempre fez uma exibição imaculada e serena. Desperdiçou apenas um passe dos 39 que fez (97% de eficácia), recuperou a bola por três ocasiões e liderou o máximo de alívios em todo o encontro, com seis acções neste item.
  • Raphaël Guerreiro 6.1 – Libertou-se das amarras defensivas após o golo sofrido e depois disso ajudou Portugal a acerca-se do último reduto contrário. Lançou uma bomba que Lloris defendeu, fez três para finalização, igualando o máximo que apenas foi atingido por Griezmann, e acumulou 76 acções com a bola.
  • Cristiano Ronaldo 4.9 – Não teve uma exibição feliz, mas tentou remar contra a maré, sendo o jogador que mais vezes visou a baliza, por seis ocasiões, somando ainda quatro acções dentro da área de França, mas voltou a não conseguir marcar um golo aos gauleses.
  • Martial 4.9 – Irá ter alguns pesadelos sempre que ouvir o nome de Rui Patrício. Desperdiçou quatro ocasiões flagrantes para marcar, em três o guarda-redes português defendeu e, na outra, o ferro travou a investida do avançado, que acumulou expected goals (xG) de 2,1.

Resumo

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