Lourdes Rodrigues é porteira no 17.º bairro de Paris e vai entrar na disputa pelas eleições municipais na capital francesa para mostrar que ser porteira é um trabalho “como outro qualquer”.
Geoffroy Boulard, atual presidente da Câmara do 17.º bairro, pediu um encontro com Lourdes Rodrigues ou Loulou, como é carinhosamente conhecida por todos, para saber se esta estaria interessada em integrar a sua lista de recandidatura às eleições que decorrem a 15 e 22 de março.
“Pediu uma reunião comigo porque vê que eu sou uma pessoa que organizo eventos e estou sempre a juntar pessoas, mais do que a dividi-las. Trabalho como voluntária na delegação da solidariedade. Se eu faço isto aqui há tantos anos, dou tanto tempo, ele disse que também posso dar de outra maneira”, contou a porteira portuguesa aos jornalistas.
Lourdes Rodrigues aceitou o convite. Nos últimos anos, esta porteira tem vindo a ganhar destaque pelas iniciativas que organiza na sua rua e no seu bairro, especialmente a festa dos vizinhos — que acontece todos os meses e junta os vizinhos que raramente se cruzam um pouco em todos os bairros de Paris. No ano passado, juntou cerca de mil pessoas e tornou-se um evento de referência na capital.
“Vamos apresentar as nossas listas nas próximas semanas e no 17.º bairro vamos ter uma candidata portuguesa, que eu conheço há muitos anos e está muito envolvida no seu bairro. Está num lugar elegível. Para mim, é importante abrir a lista a personalidades que fazem muito pelos outros”, afirmou Boulard.
Boulard é um autarca de direita, afiliado com o partido Les Republicains e recandidata-se nas listas de Rachida Dati, candidata da direita à Câmara Municipal de Paris.
Como uma grande metrópole, Paris está depois dividida em 20 bairros e cada um tem um presidente da Câmara próprio, equivalente às juntas de freguesia em Lisboa. No entanto, a escala parisiense é muito maior. Só no 17.º bairro vivem quase 170 mil pessoas e o preço por metro quadrado chega a mais de 10 mil euros.
Para Lourdes Rodrigues, que não tem experiência política, esta é uma oportunidade também para mostrar outras facetas da sua profissão. “Ser porteira é um emprego como outro qualquer. Eu não me considero como aquelas porteiras de antigamente que tinham de se calar, não podiam dizer nada. No dia de hoje não é assim, sinto que é um emprego como outro qualquer. Até valorizo mais”, indicou Lourdes Rodrigues.
Caso seja eleita, a portuguesa quer promover a rede de porteiras solidárias, na qual tem vindo a trabalhar e apostar no embelezamento do seu bairro.
// Lusa