Portas diz que não cabe a Portugal explicar como se deve ser angolano

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PSD / Flickr

Os presidentes do CDS-PP, Paulo Portas

O ex-líder do CDS-PP Paulo Portas afirmou este sábado que não é uma “atribuição de Portugal explicar aos angolanos como é que eles devem ser angolanos”, defendendo que “esse tempo passou quando o império caiu”.

Juntamente com o socialista António Vitorino, Paulo Portas participou no sábado à noite na Escola de Quadros do CDS-PP, que decorre até domingo em Peniche, no jantar conferência sobre “Desafios de Portugal no presente contexto internacional”, onde começou por assegurar que as opiniões que ia expressar seriam “apenas e só sobre política externa”.

O antigo vice-primeiro-ministro realçou que há “em Angola mais de 100 mil portugueses, duas mil empresas nacionais e cerca de 10 mil empresas a exportar” e por isso dá razão à escola diplomática que entende que a missão do Estado português é defender os interesses de Portugal e que “não têm razão os que acham que é uma atribuição de Portugal explicar aos angolanos como é que eles devem ser angolanos”.

“Esse tempo passou quando o império caiu”, disse, avisando que se Portugal não assumir a sua posição em termos económicos outros países vão tomar essa parte.

Portas foi peremptório: “quem sabe o futuro dos angolanos, são os angolanos. Respeitemos isso”.

Outro país cujas relações são importantes para Portugal é, na opinião do antigo governante, o Brasil, defendendo que independentemente da “opinião sobre o que se sucedeu no processo do impeachment” que cada uma possa ter, não é competência “dar lições aos brasileiros de direito constitucional”.

Segundo o antigo responsável dos Negócios Estrangeiros, “é bastante importante para Portugal que o Brasil possa fazer um caminho de maior abertura comercial”, antecipando que isso vai acontecer e que “é uma oportunidade para as empresas portuguesas”.

“Dediquemo-nos ao essencial e não a juízos ideológicos sobre estados soberanos há muito tempo e que são por natureza necessários à nossa política externa”, apelou.

Brexit, EUA e Síria

As eleições nos Estado Unidos não ficaram de fora deste percurso pelas diversas questões internacionais, cujas opiniões de pessoas com “certezas absolutas” devem merecer desconfiança, avisou o centrista.

“Como alguém dizia, qualquer dos candidatos só poderá ser melhor presidente do que candidato, mas uma presidente em concreto será certamente melhor presidente do que o outro“, disse, num apoio claro a Hillary Clinton.

Defendendo a ideia de que “se a Europa não quer perder o mundo tem que perceber que o mundo não é apenas o que se passa na Europa”, Portas falou ainda do impasse que se vive em Espanha, do Brexit e da guerra na Síria.

“Porque é que em Espanha não houve até agora uma solução de Governo por parte daqueles que impediram que o nosso amigo Rajoy fosse encarregue em plenitude de funções do Governo de Espanha, conforme vontade eleitoral porque ganhou duas vezes as eleições?”, questionou.

Segundo o antigo líder centrista, “não é que as esquerdas ou as extremas esquerdas num país tenham mais facilidade de diálogo do que noutro”, mas “em Espanha existe uma questão chamada integridade territorial“.

Sobre o Brexit, Portas considerou que foi “o pior momento para pedir um sim à Europa”, sendo “os ingleses o povo menos indicado para o dar” e advogou que “interessa a Portugal que haja um acordo razoável com o Reino Unido”.

“Não vejo nenhuma forma de resolver o problema da Síria sem conseguir um acordo com a Rússia no Conselho de Segurança”, defendeu ainda.

António Vitorino, por seu turno, começou por dizer que sobre a atual conjuntura internacional só tem dúvidas, não tem certezas, manifestando-se muito preocupado com as eleições dos Estados Unidos, apreensão que “está para lá do que é o senhor Trump como tal”, mas por haver “um conjunto de eleitores dispostos a votar na base do ressentimento social”.

O antigo comissário europeu pediu uma maior aposta de Portugal na CPLP, que deve ser vista “como uma plataforma que tem um valor acrescentado”, criticando o Brasil por “nunca ter sido verdadeiramente uma alavanca do projeto coletivo” da comunidade lusófona.

/Lusa

3 Comments

  1. Pois claro!
    Não cabe a Portugal dizer como devem ser os angolanos. Ou melhor, Portas devia dizer que Portugal os aconselha mas é a estarem caladinhos e quietos, atentos veneradores e obrigados, dentro da boa ortodoxia e da linha justa do do MPLA e da República Popular. Se o poder pertence ao povo, este não tem nada que se queixar…
    Quanto à democracia, à democracia cristão, aos direitos humanos, à liberdade de opinião e de associação, bem, isso são pormenores pouco significativos, quando comparados com os elevados valores que estão em causa. Valores pecuniários, obviamente!
    Isto é que é falar!

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