A via cerebral que faz com que os mamíferos peludos, como os ratos e os cães, se abanem para secar parecer ter mais a ver com a pressão do que com a temperatura.
Se alguma vez se aproximou de um cão depois de este ter ido nadar, é provável que tenha sido borrifado com a água que se desprende do seu pelo.
Conhecemos agora a via cerebral que faz com que os animais se sacudam rapidamente para se secarem — um fenómeno conhecido como “wet dog shake“.
Pelo menos, 12 tipos diferentes de células nervosas ajudam os mamíferos peludos, como os ratos e os cães, a sentir sensações físicas, como alterações de temperatura ou o tato.
Segundo o New Scientist, para identificar o culpa, David Ginty, da Universidade de Harvard, e os seus colegas colocaram uma gota de óleo de girassol frio na parte de trás do pescoço de 20 ratos para provocar tremores de cão molhado.
12 dos ratos tinham sido criados para terem deficiências nos neurónios sensoriais que respondem a forças mecânicas, como a pressão ou o estiramento, o que significa que não conseguiam sentir o toque físico.
Os restantes roedores tinham deficiências nos neurónios que detetam temperaturas frias, pelo que conseguiam sentir a pressão, mas não o frio da gota de óleo.
Os ratos que não conseguiam sentir o tato não tentaram sacudir a gota de óleo, mas os ratos sem neurónios para temperaturas frias tentaram. Isto sugere que os neurónios sensoriais que respondem ao toque mecânico — e não à temperatura — desencadeiam as sacudidelas do cão molhado.
A equipa colocou então uma gota de óleo em 17 ratos diferentes que não tinham quaisquer deficiências sensoriais e monitorizou a atividade de seis tipos diferentes de neurónios que respondem ao toque mecânico — isto revelou que três tipos de neurónios são ativados durante os tremores dos cães molhados.
No estudo publicado na revista Science, foi utilizada uma técnica que permite ligar e desligar as células com luz, conhecida como optogenética, os investigadores ativaram cada um destes tipos de neurónios e descobriram que um deles, denominado C-LTMR, produzia de forma fiável os tremores de um cão molhado.
Outras experiências mostraram que estes neurónios transmitem informação a uma região do cérebro chamada núcleo parabraquial, que desencadeia o abanar rápidos dos animais.
Em conjunto, estas descobertas mapeiam os circuitos cerebrais que fazem com que os mamíferos peludos se abanem até ficarem secos.
Martyn Goulding, do Instituto Salk de Estudos Biológicos, na Califórnia, suspeita que a mesma via também desempenha um papel nas sensações de comichão.
Segundo Goulding, se for esse o caso, o desenvolvimento de tratamentos que visem esta via cerebral poderá ajudar a tratar a comichão crónica nas pessoas.