Somos bons a cheirar — dos melhores, até — mas preferimos ver, ouvir, tocar, comer, beber. O nosso nariz precisa de mais atenção, e há formas de o estimular.
Há 2000 anos, Aristóteles meteu o nariz onde não era chamado: na biologia. “O nosso sentido do olfato não é exato, mas é pior do que o de muitos animais. Porque o Homem cheira mal“.
Tendemos a considerar que os animais é que são os mais olfativamente evoluídos, e deixamos essa tarefa para eles. Mas esta história cheirou mal a uma equipa de cientistas que, há coisa de uma década, descobriram que os seres humanos conseguem frequentemente detetar moléculas de odor numa concentração mais fraca do que os animais não humanos.
Somos, na verdade, melhores a cheirar do que morcegos, macacos, porcos, ratos e lontras, só ficando atrás dos cães e poucas outras espécies, conta a New Scientist.
Agora, um inquérito realizado no Reino Unido provou que o olfato é considerado o menos importante dos sentidos. Na verdade, metade dos participantes garantiram que preferiam perder o olfato do que o telemóvel.
Na altura da pandemia, muitos perderam o olfato, temporariamente ou para sempre. De acordo com a New Scientist, a perda deste sentido tão desprezado deixa as pessoas a sentirem-se deprimidas, emocional e sexualmente desligadas dos seus parceiros, com uma perturbação do apetite e falta de prazer em comer e beber.
Parece que só aí, quando o perdemos, nos lembramos dele. Hoje, já se projetam medicamentos para ajudar a reconstruir as células olfativas. E cheirar é mais importante para nós do que aquilo que pensamos.
Segundo um recente estudo publicado no The Journal of Neuroscience, o nosso cérebro é capaz de fazer previsões de cheiros e, quando o cheiro que sentimos não corresponde ao que o cérebro nos projetou, há várias reações do cérebro que reagem para perceber qual é o problema.
E essas previsões também são construídas através dos outros sentidos, como o tato, a visão ou a audição. Por exemplo, a visão de um amarelo brilhante ajuda a identificar o aroma cítrico de uma limonada.
O olfato é, portanto, bastante útil para nos protegermos de perigos. Este sentido foi desenvolvido em ambientes naturais, quando o Homem precisava de encontrar fontes de alimento na natureza.
Se anda a cheirar mal (não o leitor, mas o seu nariz), uma dica é passar mais tempo ao ar livre, ou aprender sobre vinhos e culinária, atividades que estimulam o nosso olfato. Cheirar é bom — ainda que por vezes seja melhor não o fazermos. Porque ignoramos, então, o nosso “último” sentido?