Porque é que as pessoas decidem esconder que estão doentes – e contagiosas?

Numa situação em que acorda doente e tem de avisar que vai faltar a uma reunião importante (por exemplo), pode desiludir colegas ou pôr em risco a reputação profissional. De acordo com estudos recentes, muitos de nós escolheriam omitir e ir à reunião, mesmo que os sintomas fossem mais graves ou acreditássemos que poderiam ser contagiosos.

O estudo, publicado na revista Psychological Science, revela uma tendência surpreendente: as pessoas continuam a optar por esconder as suas doenças dos outros, apesar do facto de isso poder colocar os outros em risco.

Este fenómeno, conhecido como “ocultação da doença” é mais comum do que se possa pensar e tem implicações de grande alcance para a saúde pública e o comportamento social.

Talvez o mais surpreendente seja a revelação de que as pessoas têm maior probabilidade de esconder as suas doenças quando os sintomas são mais graves e quando o risco de transmissão a outros é maior.

Esta descoberta contra-intuitiva desafia as nossas suposições sobre o comportamento humano durante períodos de doença e levanta questões importante sobre os fatores que nos levam a manter o nosso estado de saúde em segredo.

Segundo o Study Finds, a investigação, realizada na Universidade de Michigan, revelou que 75% dos 4110 participantes em vários estudos afirmaram ter escondido uma doença infeciosa de outras pessoas, pelo menos uma vez ou disseram que poderiam fazer no futuro.

Muitos participantes admitiram ter embarcado em aviões, ido a encontros e participado noutras interações sociais enquanto estavam secretamente doentes.

Mais alarmante ainda é que mais de 61% dos profissionais de saúde que participaram no estudo afirmaram ter escondido uma doença infeciosa.

“As pessoas saudáveis previram que seria pouco provável que ocultassem doenças nocivas — aquelas que se propagam facilmente e têm sintomas graves — mas as pessoas ativamente doentes relataram níveis elevados de ocultação, independentemente do grau de nocividade da sua doença para os outros”, afirma Wilson N. Merrell, autor principal do estudo.

Esta tendência para esconder a doença vai para além da constipação ou da gripe comum. As conclusões do estudo sugerem que as pessoas podem ter mais tendência para esconder o seu estado de saúde, mesmo quando se trata de doenças mais graves. Este comportamento pode ter consequências graves, não só para o individuo, mas também para a saúde pública no seu todo.

Mas porque é que as pessoas optam por esconder as suas doenças? Os investigadores propõem várias explicações possíveis.

Uma delas é o desejo de evitar o estigma. Em muitas sociedades, estar doente é visto como um sinal de fraqueza ou falha moral. As pessoas podem recear ser julgadas ou discriminadas se os outros souberem que estão doentes.

Outro fator é a necessidade de manter ligações sociais. Os seres humanos são inerentemente criaturas sociais, e a perspetiva de isolamento devido a uma doença pode ser assustadora.

Por último, há considerações de ordem prática, como pressões financeiras ou obrigações profissionais, que podem levar as pessoas a ocultar o seu estado de saúde.

“Isto sugere que as pessoas doentes e as pessoas saudáveis avaliam as consequências da ocultação de formas diferentes, sendo as pessoas doentes relativamente insensíveis à forma como a sua doença se pode propagar e ser grave para os outros”, observa Merrell.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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