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Unhas em ardósia, gritos agudos ou zumbidos. Porque é que alguns sons nos irritam tanto?

Uma junção de factores inerentes à sensibilidade dos nossos ouvidos e à nossa socialização explica porque é que alguns sons nos irritam tanto.

Entre unhas a arranhar um quadro negro, moscas a zumbir ou choros de bebés, há alguns sons que parecem ser universalmente considerados irritantes. Susan Rogers, psicóloga e professora na Berklee College of Music, oferece algumas explicações.

Conhecida por ter sido produtora e engenheira de som de Prince, a pesquisa de Rogers foca-se agora na memória auditiva e na psicoacústica, segundo a Discover.

Para percebermos os sons que nos irritam, temos de primeiro entender o formato “engraçado e estranho das nossas orelhas”, que nos torna muito sensíveis a frequências entre um e cinco quilohertz – uma escala que inclui sons usados em várias línguas.

Segundo Rogers, esta sensibilidade ajuda-nos a fazer a distinção entre vogais e consoantes, que foi muito importante na evolução humana. “Na nossa juventude, para distinguir pequenas diferenças entre sons, tornamo-nos atletas auditórios”, afirma.

O segundo factor mais importante não é biológico, mas sim social. Quando crescemos, os contextos sociais afectam as nossas respostas emocionais a certos sons – como o temido e irritante som do alarme que nos acorda todas as manhãs.

Isto explica-se pela teoria do stress psicológico, que refere que temos uma resposta de “lutar ou fugir” mais forte a sons que não podemos controlar ou prever, como o som de alguém a mastigar ou uma buzina.

Durante a quarentena, com toda a gente em casa, esta teoria ganhou novo fôlego. Um  estudo concluiu que as queixas sobre os sons dentro de espaços, como o barulho dos vizinhos ou familiares, aumentaram mais do dobro em comparação com antes da pandemia.

Também há intersecções entre estes dois factores, especificamente em sons feitos pelos nossos corpos que estão associados a vergonhas sociais e que causam um sentimento automático de nojo como, por exemplo, o som de alguém a vomitar ou a engasgar-se.

Sons como estes tanto se incluem na escala de kilohertz a que somos sensíveis como têm conotações sociais pouco agradáveis e activam uma região na parte frontal do cérebro chamada cortéx insular, que é essencial na socialização.

As respostas a outros sons que são muitas vezes considerados irritantes, como travões a guinchar ou talheres a arranhar pratos, explicam-se com os gráficos de contornos de intensidade iguais – que são importantes na criação de microfones, já que explicam a sensibilidade do ouvido humano.

Este conceito explica a percepção dos volume dos sons diferentes nos humanos. Por exemplo, sons de baixas frequências, como um baixo, têm de ser tocados a volumes mais altos para um humano ouvir, enquanto que barulhos a frequências mais altas podem ser ouvidos a um volume em decibéis bastante mais baixos.

Os sons que se tornam insuportáveis para os humanos são explicados por uma quebra súbita nos gráficos de intensidade iguais para entre dois e cinco quilohertz. É por esta razão que um som de 12 decibéis de unhas a arranhar um quadro de ardósia nos parece muito mais alto que um trovão que tenha o mesmo volume.

AP, ZAP //

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