Muitas pessoas morrem todos os anos durante ou após praticarem relações sexuais. Um especialista explica porquê.
O sexo tem muitos efeitos físicos e psicológicos benéficos, incluindo a redução da pressão arterial elevada, a melhoria do sistema imunitário e a ajuda para um melhor sono. O ato físico do sexo e o orgasmo libertam oxitocina, a chamada hormona do amor, importante na construção da confiança e do vínculo entre as pessoas.
Mas há um lado sombrio: às vezes, as pessoas morrem durante ou pouco depois do sexo. A incidência é, felizmente, extremamente baixa e representa 0,6% de todos os casos de morte súbita.
Existem muitas razões pelas quais isso acontece. Na maioria dos casos, a morte é causada pelo esforço físico da atividade sexual, por medicamentos prescritos (medicamentos para tratar a disfunção erétil, por exemplo), ou drogas ilegais, como a cocaína — ou, por vezes, ambos.
O risco de qualquer morte cardíaca súbita é maior à medida que as pessoas envelhecem. Um estudo post-mortem realizado na Alemanha, que olhou para 32 mil mortes súbitas num período de 33 anos, descobriu que 0,2% dos casos ocorreram durante a atividade sexual.
A morte súbita ocorreu principalmente em homens (idade média 59 anos) e a causa mais frequente foi um ataque cardíaco, também conhecido como infarto do miocárdio. Estudos sobre morte cardíaca súbita e atividade sexual dos EUA, França e Coreia do Sul mostram descobertas semelhantes. Mas…
Não são só os homens de meia-idade
Recentemente, investigadores da St George’s, Universidade de Londres, descobriram que este fenómeno não se limita apenas a homens de meia-idade.
O estudo, publicado no JAMA Cardiology, investigou a morte cardíaca súbita em 6847 casos encaminhados para o centro de patologia cardíaca da St George’s entre janeiro de 1994 e agosto de 2020.
Desses, 17 (0,2%) ocorreram durante ou na primeira hora da atividade sexual. A idade média de morte foi de 38 anos, e 35% dos casos ocorreram em mulheres, uma taxa bem mais alta do que em estudos anteriores.
Estas mortes não foram tipicamente causadas por ataques cardíacos, como visto em homens mais velhos. Em mais de metade dos casos (53%), o coração foi encontrado estruturalmente normal e uma súbita arritmia cardíaca chamada síndrome da morte súbita arrítmica (SADS) foi a causa da morte.
A dissecção aórtica foi a segunda maior causa (12%). Acontece quando as camadas na parede da grande artéria que sai do coração, fornecendo sangue ao corpo, rasgam e o sangue flui entre as camadas, fazendo com que inchem e rebentem.
Os restantes casos foram provocados por anomalias estruturais como cardiomiopatia (uma doença do músculo cardíaco que dificulta o bombeamento de sangue para o resto do corpo), ou de um grupo raro de condições genéticas conhecidas como canalopatias, que acontece quando os canais iónicos que permitem a entrada e saída de sódio e potássio nas células do músculo cardíaco não funcionam corretamente. A alteração do sódio e do potássio nas células pode alterar a corrente elétrica através do músculo cardíaco e mudar a forma como bate.
Um ritmo cardíaco alterado pode causar uma falta de oxigénio (isquemia miocárdica) e levar a uma paragem cardíaca súbita em que o coração para de bater. Este novo estudo sugere que a morte cardíaca súbita em pessoas com menos de 50 anos deve-se principalmente à síndrome da morte súbita arrítmica ou a cardiomiopatias.
Adultos mais jovens que foram diagnosticados com estas condições devem procurar aconselhamento do seu cardiologista sobre o risco associado à atividade sexual. No entanto, a baixa incidência de morte nestes estudos sugere que o risco é muito baixo – mesmo em pessoas com condições cardíacas existentes.
ZAP // The Conversation