Descobrimos finalmente por que é que alguns de nós somos canhotos

Alejandro Escamilla / Wikimedia

Gene envolvido na formação de células tem 2,7 vezes mais probabilidade de conter variantes de codificação raras em pessoas canhotas, diz novo estudo, que também desmente a heritabilidade associada à característica.

A característica de ser canhoto ou destro depende do hemisfério cerebral dominante, mas pode também estar associada, no caso dos esquerdinos, a variantes raras de um gene envolvido na formação de células, aponta um estudo.

A investigação publicada esta terça-feira pela Nature Communications centrou-se no estudo de diversas genéticas raras, que afetam menos de 1% da população, e se estas poderiam de alguma forma influenciar a preferência pelo uso da mão esquerda.

Cerca de 10% das pessoas são canhotas, o que ocorre quando o hemisfério direito do cérebro é mais dominante no controlo dessa mão, enquanto é o hemisfério esquerdo no caso dos destros. As assimetrias cerebrais que levam à dominância das mãos desenvolvem-se cedo na vida e indicam que é provável um envolvimento genético.

Estudos anteriores já encontraram diversas variantes genéticas comuns associadas aos canhotos.Aliás, uma equipa de cientistas identificou pela primeira vez, em 2019, os genes que nos tornam canhotos.

O estudo de 2019 verificou que as variantes genéticas relacionadas com a condição de canhoto estão ligadas às diferenças na “matéria branca” do cérebro, em particular, nas áreas associadas com a linguagem.

Nos participantes canhotos, as duas metades do cérebro – os hemisférios esquerdo e direito – comunicavam melhor entre si e estavam mais bem coordenadas nas regiões envolvidas na linguagem.

Este fenómeno levou os investigadores a pensar que os canhotos podem ter habilidades verbais mais desenvolvidas, embora ainda não consigam prová-lo.

Além disso, os cientistas encontraram uma associação à condição de canhoto com probabilidade de desenvolver esquizofrenia e Parkinson, no sentido em que “há mais canhotos entre os pacientes que sofrem com esquizofrenia, do que entre a população em geral. Em contraste, há menos canhotos com doença de Parkinson”, segundo Dominic Furniss, outro autor do estudo.

Agora, neste caso, uma equipa de investigadores neerlandeses procurou variantes genéticas raras que também pudessem estar associadas, para as quais analisaram dados do genoma de 38.043 canhotos e 313.271 destros, do biobanco do Reino Unido.

O estudo sugere que o gene TUBB4B tem 2,7 vezes mais probabilidade de conter variantes de codificação raras em pessoas canhotas. No entanto, ao nível da população, a heritabilidade de ser canhoto devido a variantes de codificação raras revelou-se baixa, ligeiramente inferior a 1%, de acordo com a investigação.

O gene TUBB4B está envolvido na codificação dos microtúbulos, que fazem parte do citoesqueleto, a estrutura que dá forma às células.

Um estudo recente, publicado na Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, já tinha desafiado em novembro as crenças de longa data sobre a relação entre ser destro ou canhoto e as habilidades de navegação espacial.

Contrariamente ao que se pensava, os resultados mostraram que não há diferença significativa na habilidade de navegação espacial entre canhotos e destros, mesmo tendo em conta fatores como as diferentes culturas dos participantes ou a dificuldade da tarefa.

ZAP // Lusa

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