João Relvas / Lusa

Forças policiais no bairro do Zambujal.
A saída de um capítulo sobre a presença da extrema-direita em Portugal, do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) foi um acordo das forças de segurança que integram o Gabinete Coordenador de Segurança, e teve a aprovação de duas ministras.
Está em causa uma secção do relatório que falava, ao longo de cinco páginas, sobre “Ameaças Híbridas e Extremistas”, referindo-se concretamente ao grupo neonazi internacional Blood & Honour (B&H), cujo nome é uma referência ao lema da juventude hitleriana, “sangue e honra”.
Esta organização de carácter terrorista tem estado envolvida em ataques na Europa e nos EUA, e também já está instalada em Portugal, pelo menos desde 2018, de acordo com o que sublinhava o capítulo retirado, conforme cita o Diário de Notícias (DN).
O capítulo foi escrito por elementos da Polícia Judiciária e foi retirado da versão final do RASI, aprovada no dia 28 de Março passado, após uma reunião onde participaram as ministras da Administração Interna e da Justiça, Margarida Blasco e Rita Júdice, como apurou também o DN.
Os perigos associados ao Blood & Honour
O Blood & Honour está sinalizado em vários países europeus, e já foi banido em Espanha.
A PJ referia na parte retirada do RASI “a falta de adopção de uma posição comum, sobretudo a nível da União Europeia”, notando que poderia “gerar a criação de safe havens [refúgios] para o desenvolvimento das suas actividades”, verificando-se já uma recorrente “deslocalização de alguns dos seus membros”.
O capítulo retirado também notava que “as plataformas online têm sido o palco privilegiado de actuação dos movimentos descentralizados de extrema-direita de matriz aceleracionista e/ou satânica, onde, através de uma cultura de comunicação através de memes, recrutam e radicalizam indivíduos cada vez mais jovens, muitos deles com idades inferiores a 16 anos“.
“A evolução deste fenómeno nos últimos anos impõe que a ameaça representada por eventuais actores solitários de extrema-direita, sobretudo menores de idade, não possa ser desprezada“, notava-se ainda no capítulo retirado do RASI.
O gabinete da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SG-SSI), a procuradora da República Patrícia Barão, nota ao DN que as “alterações efectuadas ao documento de trabalho são produto da discussão de todos os intervenientes” numa reunião do Gabinete Coordenador de Segurança (GCS) que teve “como convidadas as Ministras da Justiça e da Administração Interna“.
O GCS é composto pela secretária-geral do SG-SSI, pelo secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, e por elementos da GNR, PSP, PJ, Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, Serviços de Informações de Segurança, Autoridade Marítima Nacional, Polícia Marítima, Autoridade Nacional da Aviação Civil, Autoridade Aeronáutica Nacional, Serviços Prisionais e Protecção Civil.
Contudo, a ministra da Administração Interna garantiu ao Bloco de Esquerda, após um pedido de explicações deste partido, que desconhece “em absoluto a existência de qualquer outra versão que não seja a versão oficial” que foi aprovada e enviada aos deputados, conforme cita o DN.
É mais fácil agredir jovens pacíficos que atiram tinta e se sentam no chão no meio da estrada. Estes sim são uma verdadeira ameaça, pois pensam… Fortes com os fracos; fracos com os fortes: o habitual.
Num país a sério e seriamente democrata, as senhoras ministras e os responsáveis das polícias que acordaram a eliminação dos relatórios, já estavam a assinar a recepção da decisão de demissão com desonra. Nem direito tinham à pensão de reforma.
Isto é gozar com aqueles que morreram, numa Guerra Mundial, às mãos dos nazis.
Este tipo de ministros e de polícias é a linha mestra do que temos na Europa e nos EUA.
Esta é a vergonha que me dá raiva.