Polícia do Equador invade embaixada mexicana em Quito

Jose Jacome / EPA

Um grupo de agentes da polícia do Equador invadiu na sexta-feira a embaixada mexicana em Quito, onde estava refugiado Jorge Glas, horas depois de o México ter concedido asilo político ao antigo vice-presidente equatoriano.

A polícia equatoriana arrombou o portão principal do edifício diplomático, enquanto vários agentes escalaram os muros e vedações. Durante a operação, as forças de segurança cortaram o trânsito na principal avenida de acesso ao local.

De acordo com a agência de notícias EFE, os agentes da polícia abandonaram depois a residência, que era alvo de vigilância apertada dos militares do Equador desde a noite de quinta-feira.

Jorge Glas, alvo de um mandado de prisão por desvio de fundos públicos, refugiou-se na embaixada mexicana em 17 de dezembro, numa decisão que agravou ainda mais as tensões entre os dois governos.

A invasão do complexo diplomático ocorreu horas depois de o México ter concedido asilo político ao antigo vice-presidente do Equador, uma decisão que Quito descreveu como “um ato ilícito”.

“A concessão de asilo diplomático, neste caso, constitui um ato ilícito do Estado que o concede, apoia a evasão à justiça do Estado equatoriano e promove a impunidade”, lamentou a diplomacia do Equador.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros equatoriano garantiu num comunicado que o país “não irá conceder qualquer passagem segura a Jorge Glas, uma vez que não é apropriada”.

Na quinta-feira, o Governo do Equador anunciou a expulsão da embaixadora do México no país, Raquel Serur Smeke, em retaliação por declarações do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, sobre o assassínio do candidato à presidência equatoriana Fernando Villavicencio.

Em agosto de 2023, Fernando Villavicencio,jornalista conhecido por ser um crítico da corrupção e do crime organizado, foi atingido por vários disparos ao entrar no carro, à saída de um comício de campanha numa área central da capital equatoriana.

O assassínio de Villavicencio faz parte da onda de violência que atinge o Equador há cerca de três anos e tornou o país em um dos mais violentos da América Latina, com 45 homicídios por 100 mil habitantes em 2023.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Equador declarou Raquel Serur Smeke persona ‘non grata’, medida diplomática que implica a saída da embaixadora do país.

Num comunicado, a diplomacia do Equador sublinhou que a saída de Serur Smeke “não significa romper relações diplomáticas” e não revelou detalhes sobre quando a diplomata mexicana iria deixar o país.

Numa conferência de imprensa, López Obrador comentou as consequências do assassínio nas presidenciais do Equador, que deram a vitória a Daniel Noboa, um político inexperiente e herdeiro de uma fortuna construída com o comércio de bananas.

O presidente mexicano disse na ocasião que a morte de Villavicencio prejudicou sobretudo Luisa González, a candidata do movimento de esquerda Revolução Cidadã, liderado pelo ex-Presidente progressista Rafael Correa (2007-2017).

México suspende relações com Equador

O presidente do México ordenou entretanto a suspensão das relações diplomáticas com o Equador, após a polícia ter invadido a embaixada mexicana em Quito e detido o antigo vice-presidente equatoriano Jorge Glas.

“A polícia do Equador entrou à força na nossa embaixada e deteve o ex-vice-presidente daquele país que era refugiado e em processo de asilo devido à perseguição e assédio que enfrenta”, disse Andrés Manuel López Obrador.

O Presidente do México declarou na rede social X-Twitter que a invasão constituía “um ato autoritário” e uma violação flagrante do direito internacional e da soberania mexicana.

À luz do direito internacional, a embaixada de um determinado país é considerada território soberano desse país, mesmo encontrando-se fisicamente noutro país — um princípio que foi estabelecido pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961.

ZAP // Lusa

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