Candidato a Presidente do Equador assassinado a 11 dias das eleições

O candidato presidencial do Equador Fernando Villavicencio foi morto a tiro esta quarta-feira à saída de um comício de campanha numa área central da capital, Quito. Presidente promete justiça após “crime político”

Ao entrar no carro, o candidato conhecido por ser um crítico da corrupção e do crime organizado foi atingido por vários disparos, tendo três deles acertado na zona da sua cabeça. A morte foi confirmada pouco tempo depois, numa clínica das proximidades.

Terão tido lugar mais de 40 disparos contra o candidato, que também atingiram os que o acompanhavam. “Uns estão feridos, outros provavelmente estão em estados graves. E Fernando, infelizmente, parece que foi atingido por disparos na cabeça” disse um tio de Villavicencio, Galo Valencia, ao jornal equatoriano El Comercio.

Pelo menos nove pessoas ficaram feridas no atentado, no qual morreu também o suspeito do ataque após um tiroteio com os seguranças, segundo as autoridades.

Entre os feridos conta-se uma candidata a deputada e dois agentes policiais, informou o Ministério Público, que, juntamente com a polícia, está a recolher provas no local do crime e no centro médico para onde as vítimas foram transportadas. As autoridades informaram ainda que foram detidas seis pessoas.

O ataque, que ocorreu em zona central e movimentada de Quito, teve lugar a apenas 11 dias das eleições gerais extraordinárias, marcadas para 20 de agosto.

Crítico do ex-Presidente Rafael Correa — cuja difamação lhe valeu uma condenação a um ano e meio na prisão, fintada após exílio no Peru —, o jornalista de 59 anos já tinha sido alvo de ameaças semanas antes e deslocava-se, pela mesma razão, com proteção policial.

A possibilidade de um artefacto explosivo ter sido colocado no local onde o candidato realizava o evento de campanha estaria a ser investigada. Num incidente anterior, a vítima já tinha dito no Twitter que homens armados haviam atacado os seus escritórios.

Presidente promete justiça após “crime político”

O Presidente do Equador, conservador Guillermo Lasso, já decretou esta quarta-feira à noite três dias de luto e estado de emergência no país durante 60 dias. Após se reunir com autoridades eleitorais e de segurança, confirmou que “este é um crime político com caráter de terrorismo”.

“Não temos dúvidas de que este assassinato é uma tentativa de sabotar o processo eleitoral”, disse, segundo a Reuters, já de madrugada o presidente, que afirmou que vai manter a data das eleições gerais extraordinárias, agendadas para 20 de agosto.

Lasso recorreu mais tarde ao X (ex-Twitter) para não só apresentar as suas condolências à família do candidato, como para mostrar a sua “indignação e consternação” pelo assassinato. Mais à frente, o presidente sublinhou: “este crime não vai ficar impune.”

“O crime organizado já foi muito longe, mas vai-lhe cair todo o peso da lei em cima”, declarou o chefe de Estado, durante cujo mandato explodiu a maior crise de insegurança que o país já viveu, devido à proliferação e às ações violentas de grupos associados a máfias internacionais de tráfico de droga, segundo as autoridades.

Os outros candidatos presidenciais manifestaram consternação e indignação pelo homicídio de Fernando Villavicencio e anunciaram a suspensão das ações de campanha.

México, Honduras, Colômbia e Espanha foram os primeiros países a condenar o atentado.

Violência agrava-se no país

A violência cresce nas ruas do Equador a cada dia que passa, com grupos criminosos — entre os quais cartéis mexicanos e a máfia albanesa — a lutar pelo controlo de território e rotas de tráfico.

Uma mudança drástica neste cenário era o que prometia o jornalista Fernando Villavicencio caso fosse eleito, cujo apoio estaria na ordem dos 7,5%, fazendo dele a quinta força na corrida à presidência em oito candidatos.

Criticado pela oposição por obstruir um processo de impeachment este ano contra o atual presidente — que levou a eleições antecipadas — Villavicencio é a mais recente vítima da violência agravada no país.

A presença de gangues e tráfico de drogas continua a ser um dos maiores desafios, contribuindo para altas taxas de homicídios e vários crimes violentos. A situação geográfica do Equador, que faz fronteira com alguns dos principais produtores de drogas da América do Sul, agrava este problema.

ZAP // Lusa

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