A atuação da polícia durante o desmantelamento de um acampamento improvisado de migrantes no centro de Paris, na noite de segunda-feira, está a gerar críticas e indignação.
Na noite desta segunda-feira, a polícia francesa dispersou algumas centenas de migrantes e ativistas que tinham montado um acampamento improvisado, com dezenas de pequenas tendas, numa praça no centro de Paris, numa ação que pretendia reivindicar, nomeadamente, alojamentos de emergência.
Após terem derrubado as tendas, as forças policiais recorreram a gás lacrimogéneo e a granadas atordoantes para dispersar as pessoas, tendo perseguido algumas delas pelas ruas. Existem relatos de que algumas foram até agredidas com bastões.
Ainda na mesma noite, e através do Twitter, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, classificou as imagens do desmantelamento do acampamento como “chocantes” e pediu “um relatório detalhado” sobre os incidentes ao prefeito da polícia da capital francesa, Didier Lallement.
Segundo as agências internacionais, a polícia de Paris esclareceu que o acampamento foi desmantelado porque era ilegal e que “convidou” os migrantes a procurarem alojamento em locais disponibilizados pelo Estado ou por organizações de ajuda.
Esta manhã, as ministras da Cidadania e da Habitação francesas, Marlène Schiappa e Emmanuelle Wargon, respetivamente, defenderam um apoio “sem demora” para estes migrantes que estão novamente a vaguear nas ruas parisienses após o desmantelamento do acampamento improvisado.
“As duas ministras mobilizaram as administrações estaduais para que soluções de atendimento sejam encontradas sem demora para estas pessoas em situação de angústia”, indicou um comunicado assinado pelas duas representantes.
A atuação das forças policiais está a gerar críticas e a indignação de vários setores da sociedade, nomeadamente de partidos ecologistas e de esquerda, sindicatos e de associações que fornecem ajuda a migrantes, que denunciaram “imagens chocantes” e uma “deriva liberticida”.
“Repressão completamente desproporcionada”
“O que vimos foi repressão que infelizmente não é pouco comum mas foi completamente desproporcionada. Havia algum risco para os agentes da polícia? Não. Havia risco de danos à propriedade? Não”, afirmou Éric Coquerel, deputado do partido de esquerda França Insubmissa, em declarações ao canal FranceInfo, citado pelo jornal Público.
“O que houve foi repressão contra pessoas que só estão a pedir que os seus direitos humanos sejam respeitados, contra ativistas pacíficos, jornalistas e representantes eleitos sem discriminação”, disse ainda.
“O Estado oferece um espetáculo lamentável ao dar uma resposta policial a uma situação social. Pensar que resolvemos problemas sociais com cassetetes é de loucos. Pensar que isto se resolve com o assédio policial que vimos está noite é patético”, comentou, por sua vez, à agência France-Presse, Ian Brossat, do Partido Comunista.
Várias organizações estão hoje a trabalhar para tentar encontrar uma solução de alojamento temporário para estes migrantes, entre 200 e 300 pessoas. A maioria é oriunda do Afeganistão, da Somália e da Eritreia.
Segundo Corinne Torre, chefe da organização Médicos Sem Fronteiras em França, alguns destes migrantes tiveram o seu pedido de asilo rejeitado, enquanto outros estão num limbo burocrático enquanto tentam requerer o pedido de asilo.
Este acampamento improvisado foi montado no centro da capital francesa uma semana depois de a polícia ter desmantelado um grande acampamento de imigrantes em situação irregular erguido junto do Estádio de França, na zona norte de Paris, onde mais de duas mil pessoas se fixaram gradualmente desde agosto.
Os incidentes envolvendo a polícia parisiense surgem numa altura em que o Parlamento francês vai votar, previsivelmente esta terça-feira, um projeto-lei que visa expandir alguns poderes e fornecer uma maior proteção às forças policiais.
Por exemplo, prevê que a publicação de imagens de agentes policiais com a intenção de prejudicá-los passe a ser crime, uma medida que gerou fortes protestos por parte das organizações de defesa das liberdades civis e da liberdade de imprensa.
ZAP // Lusa